OPINIÃO

Isaac Roitman é doutor em Microbiologia, professor emérito da Universidade de Brasília e membro titular de Academia Brasileira de Ciências.

Isaac Roitman

 

O título do artigo expressa o pensamento de Albert Einstein. Estima-se que a primeira guerra ocorreu no ano 2525 antes de Cristo, na Suméria (sudeste do Iraque). Desde então há o registro de 14 mil guerras. Até hoje a civilização humana não conseguiu conviver pacificamente. Ao contrário, a indústria de armas avançou sob o ponto de vista tecnológico, desenvolvendo armas que nos conflitos resultam em mais vítimas em menos tempo.

Há menos de cem anos, em 1945, os Estados Unidos lançaram bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, causando cerca de 120 mil mortos imediatos. Muitas pessoas foram vaporizadas instantaneamente com o calor da destruição. Outras, mais distante do local da explosão, foram carbonizadas.

Um sobrevivente de 16 anos deu o seguinte depoimento: "Nunca esquecerei esse momento. Pouco depois das 8h da manhã, houve um estrondo, uma explosão reverberante e, no mesmo instante, um clarão de luz amarelo-alaranjado entrou pelo vidro do telhado. Ficou tudo tão escuro como noite. Um golpe de vento atirou-me no ar e a seguir no chão, contra as pedras. A dor estava apenas brotando quando o prédio começou a ruir em torno de mim. Aos poucos o ar se aclarou e eu consegui sair dos destroços. No caminho para um dos centros de emergência vi muita confusão. As ruas estavam tão quentes que queimavam meus pés. Casas ardiam, os trilhos de bonde irradiavam uma luz sinistra e no local de um templo pessoas se amontoavam.

"Algumas respiravam, a maioria estava imóvel. No pronto-socorro chegava gente correndo, as roupas rasgadas, chorando, gritando. Alguns tinham o rosto ensanguentado e inchado, outros tinham a pele queimada caindo aos frangalhos de seus braços e pernas. Em um bonde vi fileiras de esqueletos brancos. Havia também os ossos de pessoas que tentaram fugir. Hiroshima tinha se tornado num verdadeiro inferno." Cenário verdadeiro de horror. Que nunca mais se repita. Paz não é apenas a ausência de guerras, é também garantir que todas as pessoas tenham moradia digna, alimentos, roupas, educação de qualidade, acesso à cultura e lazer, assistência à saúde, amor, solidariedade e compreensão. Paz é cuidar do ambiente, garantir a qualidade da água, o saneamento básico, a despoluição do ar, o bom aproveitamento da terra. Paz é buscar serenidade dentro da gente para viver com alegria.

Para que a paz possa se tornar algo viável, palpável e possível de ser conquistada, é necessário começar a pensá-la como construção individual. Quando cada indivíduo perceber que o coletivo é fruto do individual, que uma sociedade pacífica se constrói com indivíduos pacíficos, tolerantes, desprovidos de preconceitos e atitudes discriminatórias, poderemos pensar na paz universal com mais esperança.

A conquista da paz exige também ações governamentais, que permitam condições mínimas de vivência digna, com perspectiva de futuro para as novas gerações, criação de emprego para a população jovem e adulta, pela não discriminação, incluindo nessas diferenças a religião, a raça, a opção sexual, o deficiente, o índio, o estrangeiro. Há que ser percebido que a diferença enriquece, acrescenta e aprimora. É importante, nesse aspecto, a educação em direitos humanos e na promoção dos valores éticos, desde a educação infantil até o ensino universitário.

O Brasil, com sua tradição pacifista, poderá ter um papel importante na paz mundial. A recente proposta pela paz do presidente Luiz Inácio da Silva é um bom exemplo. Brasília também pode desempenhar papel importante. Profetizada pelo sonho de Dom Bosco, Brasília carrega um legado espiritual e holístico. Há mais de 20 anos, a União Planetária, comandada pelo humanista Ulisses Riedel, tem como um dos principais objetivos a promoção da paz mundial.

Brasília é sede da Universidade Internacional da Paz, fundada por Pierre Weil e liderada pelo humanista reitor Roberto Crema. É no planalto que nossa embaixadora da paz Maria Paula Fidalgo materializa os sonhos de Dom Bosco. É nesse espaço privilegiado que poderemos ser protagonistas importantes para que a paz seja a única forma de nos sentirmos seres humanos.

 

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Publicado no Correio Braziliense em 18/03/23.

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