Bruno Lara
No início das redes sociais havia um otimismo com as enormes possibilidades deste novo recurso digital. É fato que esses instrumentos trouxeram melhorias para as nossas vidas, como facilidade de comunicação e interação, acesso à informação etc.
Hoje o nosso olhar sobre as redes não é tão ingênuo. Já amargamos os efeitos colaterais do seu enraizamento na vida social. Um deles é a desinformação e, como consequência, um deslocamento da realidade.
As fake news não são somente mentiras. São mentiras intencionais criadas em larga escala, impulsionadas pelas tecnologias, para gerar narrativas manipuladoras que impactam contextos psicológicos e sociopolíticos. Uma característica das redes é a conexão com outros nós. Mas existem redes que se fecham em si, alimentando-se das próprias “verdades”.
Parece ficção científica, mas há exemplos concretos de adultos que acreditam nas mais mirabolantes (e por que não criativas?) histórias. Vivemos um tempo de customização de narrativas. Se cada um acredita no que lhe convier, a ideia de unidade civilizatória fica comprometida.
As fake news afetam um aspecto central da coesão do tecido social: a confiança. Desqualifica e rotula de forma pejorativa quem pensa diferente, além de atentar contra a credibilidade das instituições, que, por sua vez, limitam o poder autocrático.
Os promotores das fake news se aproveitam, inclusive, da fragilidade de pessoas, muitos idosos, que têm a necessidade de se engajar em algo, algum projeto, se sentirem acolhidos em comunidades e ter as suas vozes ouvidas.
Não podemos mergulhar de cabeça nas novas tecnologias. O ser humano precisa usar as suas capacidades mais genuínas para conduzir a sua emancipação individual e coletiva. Entregar o futuro da humanidade à Inteligência Artificial é um ato de desinteligência natural e renúncia da riqueza do que nos faz ser humanos.
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Publicado originalmente no Jornal de Brasília em 24/03/23.
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