OPINIÃO

Isaac Roitman é doutor em Microbiologia, professor emérito da Universidade de Brasília e membro titular de Academia Brasileira de Ciências.

Isaac Roitman


A espécie humana sobreviverá nas próximas décadas ou séculos?


Presume-se que há cerca de 3,5 bilhões de anos atrás surgiu a primeira espécie unicelular no planeta Terra. A partir daí, a biodiversidade cresceu, ganhou complexidade e milhões de outras espécies surgiram. Por outro lado, fenômenos naturais fizeram com que, das 4 bilhões de espécies, cerca de 99% foram extintas, principalmente nos últimos 500 milhões de anos.

Há cerca de 66 milhões de anos, acredita-se que um asteroide colidiu com a Terra, no golfo do México, desencadeando tremores de terra, tsunamis e tempestades de fogo, levando a extinção dos dinossauros.

Por outro lado, existem as chamadas “extinções de fundo”, onde espécies vão desaparecendo lentamente, ao longo dos anos. Espécies duram, em média, alguns milhões de anos. Mamíferos se saem pior, sobrevivendo entre 1 e 2 milhões de anos. Moluscos têm desempenho melhor, entre 5 e 7 milhões de anos. Tartarugas, conseguem sobreviver como espécie por dezenas de milhões de anos.

No mundo vegetal, o panorama é semelhante. O que é hoje o maior deserto do planeta, o Saara, no norte da África, era, há cerca de 5 mil e 10 mil anos, uma região de savanas e pradarias, onde habitavam animais e plantas, com lagos permanentes e muita chuva.

Na visão de Charles Darwin, a seleção natural se relaciona com a extinção na competição entre espécies distintas, já que as mais numerosas teriam melhores chances de responder às pressões seletivas por disporem de mais variedades entre sua população, enquanto as espécies menos numerosas teriam menos possibilidade de acompanhar o ritmo das transformações de suas concorrentes.

A extinção em massa se caracteriza pelo decréscimo da biodiversidade através da extinção excepcionalmente alta de vários grupos de seres vivos. Em cerca de 4,5 bilhões de anos de existência, o planeta Terra passou pelo menos por cinco grandes extinções em massa. É provável que estejamos presenciando o sexto fenômeno, com o aumento de taxa de seres vivos que deixam de existir.

As extinções em massa passadas ocorreram devido a fenômenos naturais. No entanto, são os seres humanos que estão causando a extinção em massa atual, devido ao uso indevido do solo nas atividades agropecuárias, poluição das águas e do ar, indutores das mudanças climáticas, a superpopulação entre outros.

Para complicar e evitar um cenário apocalíptico, é preciso lembrar o desenvolvimento e utilização de armas de destruição em massa, biológicas, químicas e nucleares. É pertinente lembrar o pensamento do físico Stephen Hawking: “A agressão humana, combinada com os avanços tecnológicos e armamentos nucleares, é um combo que pode dar um ponto final na humanidade.”

Uma pergunta emerge: a espécie humana sobreviverá nas próximas décadas ou séculos? Os cientistas refletem sobre as possíveis catástrofes em escala global que têm potencial de dizimar a humanidade, ou boa parte dela.

O aquecimento global e as mudanças climáticas que são provocadas por atividades humanas e são considerados como muito importantes nessa complexa equação da extinção dos seres vivos. As armas de extinção em massa têm preocupado a humanidade. É sempre importante lembrar das matanças em Hiroshima e Nagasaki. Fenômenos naturais, como terremotos, erupções vulcânicas e choque de asteroide com o planeta, devem ser também considerados.

Ainda não temos como controlar os eventos naturais. No entanto, temos que interromper a estupidez dos seres humanos, que pode nos levar ao genocídio da espécie humana.

 

Texto publicado originalmente em Monitor Mercantil em 24 de março de 2023.

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