OPINIÃO

Hugo Leonardo Lopes de Faria Costa é jornalista, especialista em comunicação pública e mestre em economia.

Hugo Costa

 

Nem tudo que é pleno está no Plano ou fez parte de um plano. A vivacidade de Brasília ultrapassa os limites da RA I e é observada mesmo em regiões em que a assinatura de urbanistas não tem destaque no horizonte. Quem vive fora das Asas também pode e deve comemorar em 21 de abril o ser Brasília, também tem o direito de refletir sobre o futuro da cidade que queremos.


A condição sui generis do Distrito Federal nos faz confundir as coisas. Nem sempre é fácil entender o que é cidade, o que é bairro. A Constituição é taxativa ao vedar a divisão do DF em municípios, embora, mesmo sem prefeituras ou câmaras de vereadores, haja elementos para conformar a identidade de regiões administrativas como cidades autônomas. Pelo menos até termos de preencher um formulário...


Nessas horas, percebemos que somos um “município” só. Somos Brasília. Quando perguntados em viagens, somos moradores de Brasília, ainda que nosso CEP não remeta ao Plano Piloto. Aliás, ninguém que vive em Taguatinga diz que vai a Brasília quando precisa visitar a Asa Sul. O comum é dizer "vou ao Plano" porque Taguatinga já é Brasília. Essa experiência é compartilhada por milhões que habitam as demais 34 regiões administrativas e o Entorno.


É bem verdade que o cotidiano da área tracejada por Lúcio Costa se distingue do de regiões em que ter água na torneira pode representar uma conquista. Disparidades socioeconômicas criam barreiras para a sensação de pertencimento. A profecia de Dom Bosco sobre a terra prometida não poupou Brasília das desigualdades nacionais. Ainda que nem tudo seja leite e mel, a capital dos brasileiros é terra em que se cultivam sonhos e em que se luta por dias melhores.


A exuberância da Brasília planejada concede à cidade a fama de museu a céu aberto. O Congresso Nacional, a Catedral Metropolitana e a Ponte JK estão entre as principais obras do acervo. Quem conhece todo o patrimônio, entretanto, sabe que Brasília também é um relógio alto numa praça, é uma caixa d’água ao lado de uma feira popular e é até mesmo um enigmático monumento chifrudo na rodovia de saída para a capital anterior.


Brasília completa 63 anos nesta semana sendo diferente e sendo muitas. A cidade é certamente mais que o cruzamento de dois eixos. É obra de arquitetos famosos e pouco conhecidos e também fruto do suor de quem nunca teve a oportunidade da educação formal. Por uma cidade bonita e organizada e também justa e inclusiva, espera-se de seus mais de 3 milhões de habitantes contínuo trabalho com orgulho e disposição.    


O mesmo espírito vale para uma das filhas ilustres da capital: a também aniversariante Universidade de Brasília. Como quem segue os passos dos pais, a UnB tem o desafio de crescer com qualidade e inclusão. O adendo vale ainda sobre o estímulo à noção de pertencimento. Quem vivencia os campi de Ceilândia, Gama e Planaltina é tão UnB quanto quem frequenta o icônico “Minhocão”.

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