OPINIÃO

Ricardo Ramos Fragelli é doutor em Ciências Mecânicas, mestre e bacharel em Engenharia mecânica pela Universidade de Brasília. É professor adjunto na Faculdade UnB Gama.

Ricardo Fragelli


A UnB Gama nasceu de uma proposta muito especial, sem departamentos e com uma multidisciplinaridade que jamais vi em outra instituição de ensino. No início, tínhamos uma única sala de professores, formada por um único e grande corredor, arrodeado de mesas, sem divisas e sem muros. Apenas pontes.

Lembro de presenciar o diálogo entre um especialista em sistemas dinâmicos e um pesquisador da área de energia renovável. Ao lado, uma professora que trabalhava com inteligência artificial e outra especialista em equações diferenciais eram convidadas a participar em determinado momento da discussão. De uma união improvável, nascia um projeto único e criativo, envolvendo todas essas áreas.

Esse era o dia a dia dos primórdios da nossa FGA e que perdurou durante bons anos! Projetos únicos, nascidos do caos e do turbilhão do improvável. Esse ambiente era um paraíso das ideias, à altura de um ambiente idealizado pelos mais notáveis filósofos. Um grande número de pensadores convivendo, em sua grande parte, doutores, sem divisas e sem amarras, durante todo um dia, toda semana, o ano todo.

Entretanto, os pesquisadores também necessitam de períodos de recolhimento, útil para o aprofundamento e para a criatividade das ações, e isso era inviável nas condições iniciais da Faculdade. Urgia, então, a necessidade de suporte material para muitas daquelas pesquisas.

Mesmo assim, aquela experiência foi realmente visceral! Durante os primeiros anos, houve um aprendizado de senso de equipe e de colaboração que ficou impregnado na mente de cada um de nós da comunidade acadêmica da FGA e que levaríamos adiante em nossas novas atividades, para além das construções patrimoniais de um novo campus.

Para o corpo discente, a vida também não foi tranquila nos primeiros anos. Na verdade, nas Engenharias, quase nunca é. Eram salas abarrotadas de gente e ainda mais caóticas que a imensa sala de professores. No entanto, percebíamos a mesma energia criativa e potência de inovação! Nós éramos um grande grupo de inovadores e pioneiros. Esse era o contexto!

Para qualquer ideia surgida na sala de professores, na aula, em algum laboratório ou nos corredores, havia sempre um grupo interessado em colaborar. A apatia e a falta de vontade de potência não batiam à porta de nossa germinativa FGA.

Por outro lado, o alto número de pessoas em um prédio pequeno não era salubre a longo prazo e o novo campus, com pequenas salas de professores e salas de aulas mais adequadas, foi conquistado ao sabor de muita disposição, suor e lágrimas de toda a comunidade. Hoje temos mais conforto e cuidado para cada discente, docente, técnico e terceirizado, sem que, com isso, fosse perdida aquela vontade de transformação. E não tinha como, pois foi tatuada na alma.

Hoje, temos mais equipamentos, prédios e laboratórios. Temos mais projetos, experiência e capacidade material de desenvolvê-los. Temos ações de extensão junto à comunidade externa mais bem organizadas e institucionalizadas. Nossas ações de ensino e pesquisa são reconhecidas nacionalmente e podemos nos orgulhar dos egressos da FGA, muitos com projetos nacionais e internacionais.

Filha da UnB, a FGA também pode se dizer filha de Darcy Ribeiro. Certamente Darcy receberia uma de suas caçulas com orgulho, principalmente por trazer em seu cerne o gene da educação como transformação social, o protagonismo dos estudantes e a integração com a comunidade. Mas, a FGA não é apenas filha da UnB, é parte do todo, ou ainda, “não digas que é parte, sendo todo”, em lembrança a Gregório de Matos. Ela é “todo” quando carrega consigo as esperanças primordiais dos pioneiros da Universidade de Brasília, quando valoriza ideias, independente da origem, cria ambientes de diálogos entre os diferentes, integra atividades e é vetor de transformação do mundo.

A UnB Gama é uma instituição debutante, jovem e forte, que comemora suas aventuras, lutas, descobertas, benfeitorias e conquistas, as quais impulsionam um vislumbre para um futuro promissor. Nos próximos 15 anos, a FGA se vê como uma grande instituição, com avanços substanciais em sua infraestrutura, nas estratégias inovadoras de ensino, na internacionalização das suas atividades e no apoio humanizado aos seus integrantes. Daqui a 15 anos, a FGA terá voz acadêmica para ressoar nos “tímpanos do mundo”, como nos diria Conceição Evaristo.

Daqui a muitos, que a FGA preserve a memória e possa se lembrar de seus estacionamentos de terra e cascalho, dos sapatos desgastados e das jornadas diárias de desafios. Tomara que tenha a força de uma senhora como Cora Coralina e possa dizer que já pensou em desistir, “mas nunca me levei realmente a sério; é que tem mais chão nos meus olhos do que o cansaço nas minhas pernas, mais esperança nos meus passos do que tristeza nos meus ombros, mais estrada no meu coração do que medo na minha cabeça”.

Como seria bom ver essa senhora!

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