OPINIÃO

 

Maria Hosana Conceição é professora da Faculdade de Ceilândia. Professora do Programa de Pós-Graduação em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para a Inovação-PPG Profnit/UnB. Doutora em Química.

 

 

Márcia Cristina Freire de Souza é secretária executiva da Faculdade UnB Ceilândia. É mestre em Gestão Econômica do Meio Ambiente.

 

 

Izabel Cristina Rodrigues da Silva, Biomédica, professora Adjunta da Faculdade de Ceilândia. Doutora em Patologia Molecular, Coordenadora do Programa de Pós-graduação em Ciências e Tecnologias em Saúde- PPGCTS/FCE/UnB.

 

Maria Hosana Conceição, Márcia Cristina Freire de Souza e Izabel Cristina Rodrigues da Silva

 

Nesse mês de agosto a Faculdade de Ceilândia (FCE) está completando 15 anos, o que representa esse um quarto de vida nos 60 anos da Universidade de Brasília (UnB)? Podemos refletir em vários ângulos da nossa FCE/UnB como, por exemplo, na extensão somos fortes e desde a sua criação, ainda no CEM 04 da Guariroba, já tínhamos as ações de extensão voltadas para a comunidade da Ceilândia, que ofereciam os cines debates no auditório do colégio. Alinhados as ações da extensão, já nas novas instalações do campus, fomos construindo os nossos projetos pedagógicos dos cursos da saúde, com o fortalecimento dos laboratórios e, consequentemente, das pesquisas em Saúde Coletiva, Farmácia, Enfermagem, Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional e Fisioterapia.  Hoje, temos uma comunidade acadêmica de 2800 estudantes, 71 técnicos administrativos, 157 docentes e as equipes de prestadores de serviços de limpeza, segurança e transporte.  

Segundo Bernardino-Costa (2023), no ano de 2003, a UnB aprovou a política de Ações Afirmativas   para o acesso dos estudantes de escola pública e de famílias de baixa renda. Nesse sentido, a UnB não poupou esforços para continuar trabalhando com o tema do racismo nas Universidades Brasileiras e, passados uma década, o Supremo Tribunal Federal [STF] aprovou a Lei 12.711/2012, conhecida como Lei das Cotas e, mais recentemente, a dedicação dos pesquisadores foi lograda com a ampliação da Lei para receber estudantes negros e negras e indígenas nas Universidades.

Nesse alinhamento, a FCE, que foi concebida pelo Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), ocorrido em 2007; desde a sua criação, tem recebido, a cada semestre, cerca de 250 novas matrículas na graduação e somos dedicados às ações afirmativas da UnB. Por exemplo, agora em 2023, 56 % da oferta de vagas, pelo Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), foram de Ações Afirmativas. Esperamos, em breve, relatar os dados quantitativos das matrículas de ações afirmativas desse total da oferta de vagas na FCE/UnB.

A pós-graduação da FCE está estruturada por dois Programas, o de Ciências da Reabilitação (PGCR) com curso de Mestrado e o de Ciências e Tecnologias em Saúde (PGCTS) com cursos de Mestrado e Doutorado. Seguindo a resolução do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE 0044/20) de 05 de junho de 2020, que indica a adoção das políticas afirmativas em todos os processos seletivos na UnB, os dois programas incorporaram as Ações Afirmativas em seus editais. O PGCR selecionou dois estudantes, no edital de 2023 e o PGCTS sete estudantes nos editais 2021, 2022, 2023, sendo cinco de mestrado e dois de doutorado. Além disso, o PGCTS recebeu um estudante para o doutorado para a vaga de pessoa com deficiência e os demais candidatos foram avaliados pela comissão de heteroidentificação da UnB. Vale ressaltar, por meio dessa mesma Resolução, a UnB aprovou, por unanimidade, a política de Ações Afirmativas para ampliar o acesso de negros, indígenas e quilombolas nos cursos de mestrado e doutorado, destinando-se 20% das vagas de cada edital para candidatos (as) negros e negras. Além disso, para indígenas e quilombolas, ao menos uma vaga adicional, para cada um dos perfis, em todas as seleções, bem como para pessoas com deficiência em todos os programas de pós-graduação.  

Avançando, pouco a pouco, com o tema das Ações Afirmativas, em 2004 a UnB firmou o convênio com a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) para oferecer vagas para indígenas nos cursos de graduação. Naquela época os estudantes indígenas se reuniam, para os descansos e as trocas de experiências, em espaços aleatórios como o ICC norte e o RU. Passados uma década, foi inaugurado o Centro de Convivência Multicultural dos Povos Indígenas (Maloca); que tem como objetivos possibilitar as trocas culturais entre os estudantes de diferentes etnias, bem como realizar a integração dos estudantes com a comunidade acadêmica da UnB (MENDES et al., 2019). Nessa união com as Ações Afirmativas na UnB, a FCE, desde antes da pandemia da Covid-19, tem recebido estudantes indígenas, principalmente, dos povos Baniwa, Baré, Guajajara, Kotira/Wanano, Pankararu, Pataxó, Potiguara e Tikuna, nos cursos de Enfermagem, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Saúde Coletiva e Terapia Ocupacional. Recentemente a plataforma do Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas (Sigaa-UnB) disponibilizou os números de matrículas de estudantes indígenas da FCE, por semestre; 2018.1 [1]; 2018.2 [0]; 2019.2 [8]; 2020.2 [1] e 2022.2 [4].

Destacamos o evento, ocorrido no dia 19 de abril, onde os estudantes indígenas apresentaram, à direção da FCE, ao Diretório Central dos Estudantes (DCE) e à comunidade acadêmica, danças e rituais com objetos e vestimentas característicos das suas etnias.  O evento foi parte de uma primeira atividade do coletivo indígena da FCE que na oportunidade, relatou as dificuldades de adaptação, tanto pela saudade da família, quanto, para alguns, pela dificuldade com o português.    

Assim, em resposta à pergunta do início desse artigo, nesses 15 anos, a FCE tem se dedicado a promover a inclusão, bem como a diversidade no acesso ao ensino superior com as reservas de vagas para as Ações Afirmativas, tanto na graduação quanto na pós-graduação, e, com isso, esperamos continuar crescendo com entusiasmo, coragem e sabedoria para lograr dados qualitativos e quantitativos de Ações Afirmativas na UnB, FCE, “Futuro é Agora”.   

Referência
BERNARDINO-COSTA, J. Política afirmativa, democratização do acesso à universidade e propostas de avaliação. Ciência & Cultura, v. 75, p. 1–9, 2023. 
MENDES, C. S. et al. Maloca: Espaço de Ação Afirmativa e Ação da Política de Assistência Estudantil? Revista do CEAM, v. 5, n. 1, p. 71–224, 2019.

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