OPINIÃO

Benny Schvarsberg é professor titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília e assessor estratégico do gabinete da reitora.

 

Benny Schvarsberg 

 

Celebramos em 08 de novembro, o Dia Mundial do Urbanismo, disciplina historicamente indissociável da Arquitetura, que estuda, planeja e projeta a formação e crescimento de cidades e espaços, em múltiplas escalas urbanas e territoriais. Ela se desenvolveu como campo técnico, artístico e científico, nos séculos XIX e XX, enfrentando os inúmeros problemas vinculados ao processo de industrialização e seus impactos nas cidades. A data é especialmente relevante para nós, privilegiados habitantes de uma cidade nascida de um concurso nacional de ideias para o plano piloto da nova capital do Brasil em 1957. Um júri internacional presidido pelo arquiteto britânico William Holford escolheu, dentre os 26 (vinte e seis) projetos concorrentes, o do arquiteto Lúcio Costa, brasileiro nascido em Toulon na França. Esta cidade, completando vinte e sete anos, em 1987, foi declarada pelo Comitê do Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) como patrimônio cultural da humanidade.

 

Pelas excepcionais qualidades de sua concepção original, desde seu nascimento Brasília tornou-se uma referência internacional da arquitetura e do urbanismo moderno, objeto permanente de curiosidade e estudos por profissionais e pesquisadores do urbanismo, recebendo visitantes do mundo inteiro. A cidade tombada, ou seja, garantidora da preservação de suas características fundamentais em quatro escalas urbanísticas – a monumental, a residencial, a gregária e a bucólica – é considerada a mais ampla, extensa e completa experiência do urbanismo moderno. 

 

Um dado interessante é que Lúcio Costa foi visionário ao propor em seu plano piloto, sem que o programa de necessidades estabelecido no edital do concurso exigisse, um Campus Universitário em gleba de terra contígua à Esplanada dos Ministérios. Esta foi uma das justificativas importantes para que o projeto de lei que criou a Universidade de Brasília fosse aprovado pelo Congresso Nacional em 1961. A nova Capital seria, na conhecida frase cunhada pelo Presidente Juscelino Kubitschek, o “cérebro das grandes decisões nacionais”. Portanto, não poderia prescindir já em seus primórdios de uma universidade para se consolidar tanto como Urbs – um organismo capaz de preencher as funções vitais próprias de uma cidade moderna qualquer -, como Civitas – uma cidade possuidora dos atributos inerentes a uma capital, como definiu seu inventor urbanístico. Assim concebida, como projeto político, pedagógico e acadêmico inovador, comprometido a “pensar o Brasil como problema”, foi anunciada a criação da UnB em 21 de abril de 1962 no Auditório Dois Candangos, concluído 20 minutos antes da cerimônia inaugural, tendo Darcy Ribeiro como seu primeiro reitor. 

 

O Curso de Arquitetura fez parte do primeiro vestibular da UnB. Desde então o estudo, a crítica e o debate sobre o urbanismo, os desafios e problemas do desenvolvimento de Brasília e da trajetória das cidades brasileiras foi tônica permanente no ensino, pesquisa e extensão, da formação profissional de inúmeras gerações de arquitetos urbanistas. Essa trajetória no Brasil é marcada por permanente influência e interlocução na circulação mundial de ideias, e a importação, muitas vezes acrítica, de modelos ideais de cidades. Tem destaque nesta trajetória os projetos urbanísticos de Cidades Novas. Com um vasto território continental, temos uma experiência rica com respeito a estas cidades que teriam se originado de projetos, invariavelmente acompanhada de polêmicas históricas e conceituais, tais como: cidades “projetadas” versus cidades “planejadas”, ou questionamentos se, de fato, não haveriam assentamentos humanos prévios. Inclusive, no caso de Brasília, pela proximidade de núcleos urbanos anteriores como Planaltina e Brazlandia. São conhecidos neste debate os casos de Belo Horizonte (fins do séc.19), Londrina (final dos anos 20), Marília e Goiânia (década de 30), Brasília (fim da década de 50) e Palmas (anos 80), só para citar algumas cidades de um repertório mais amplo do séc. 20.

 

Nestes conturbados tempos pós-pandemia e de crise ambiental global, que futuro nos reserva o urbanismo no século 21?

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