Ingrid Dittrich Wiggers e Rafaella Lira de Vasconcelos
Pioneira entre as unidades de Brasília, a Escola-Parque 307/308 Sul entrou em funcionamento no dia 20 de novembro de 1960, no mesmo ano da fundação da Capital Federal. Ao comemorar 63 anos, podemos nos perguntar sobre a origem desta instituição típica da nossa cidade, que vislumbra a educação integral de crianças e adolescentes. Foi antes de Brasília, em 1950, que Anísio Teixeira, na condição de Secretário de Educação da Bahia, inaugurou a primeira escola-parque do Brasil, em Salvador, no bairro da Liberdade, unidade que permanece ativa até os dias de hoje.
Mas a construção de Brasília, por sua vez, ofereceu uma rara oportunidade para a implantação do ensino integral, não apenas no sentido da expansão da carga horária, mas também no que concerne à ampliação e ao aprimoramento do currículo. O "Plano de Construções Escolares de Brasília", idealizado por Anísio Teixeira, abrangeu as disciplinas tradicionais, a serem ministradas nas escolas-classe, bem como as atividades artísticas e recreativas, nas escolas-parque. O par "escola-classe e escola-parque" encontrou uma localização privilegiada no seio das Áreas de Vizinhança do Plano Piloto, agregando uma relação entre infância e cidade, que a capital modernista buscou estabelecer com harmonia. Poderíamos afirmar que, em Brasília, o modelo teria atingido um ápice, se não fossem os desvios que o projeto educacional veio a enfrentar desde os primeiros anos.
No plano original da capital estava prevista a construção de 28 escolas-parque, mas somente 8 foram efetivamente implantadas e encontram-se em funcionamento atualmente. Além disso, o aumento desenfreado da demanda de matrículas, ocasionado pelo crescimento da cidade, provocou a descontinuidade do ensino integral e as crianças passaram, gradativamente, a usufruir da escola-parque por menos dias da semana. Hoje, embora o tempo integral tenha sido restabelecido, apenas um pequeno número das crianças matriculadas na rede pública de Brasília frequentam a escola-parque.
Consideramos, pois, que a escola-parque ainda é uma utopia, no sentido dado por Thomas More, ou seja, uma crítica do existente, com a perspectiva de sua superação. São inúmeras as pressões para que o sistema público de educação de Brasília se descaracterize dos seus princípios democráticos, voltados à formação da cidadania de crianças, adolescentes e jovens. A conquista dos valores dessa utopia tem sido um grande desafio. Por outro lado, a busca de soluções para a garantia do ensino de qualidade no Brasil ainda é um imperativo, onde a obra prima de Anísio Teixeira exerce uma força excepcional. Tanto que, por iniciativa da Associação de Arte-Educadores-DF, a Escola-Parque 307/308 Sul foi tombada como Patrimônio Histórico do Distrito Federal, em 4 de agosto de 2004, por Decreto da Diretoria de Patrimônio Histórico e Artístico-DF.
A compreensão histórica pode ser uma referência para gestores públicos, professores e comunidade darem seguimento ao processo de construção dessa utopia, buscando superar as ameaças dos desvios de rota. Nesse sentido, destacamos o trabalho voltado à preservação da memória da educação de Brasília, desenvolvido pela equipe do Museu da Educação do Distrito Federal - MUDE, sob a coordenação da Profa. Eva Waisros Pereira.
Para festejar o aniversário de 63 anos, a Escola-Parque 307/308 Sul realizará, nos dias 17 e 18 de novembro de 2023, a "1a. Mostra de Dança das Escolas-Parque de Brasília: Tributo aos ideários de Anísio Teixeira", com a participação de todas as escolas-parque. Outro evento comemorativo será o lançamento do livro Memórias da Escola-Parque de Brasília, de autoria da Profa. Dra. Ingrid Dittrich Wiggers, previsto para o dia 29 de novembro, a partir das 16h30, na Livraria da Editora Universidade de Brasília. A obra buscou memórias e reconta histórias de um passado que é presente. Ressalvamos, por fim, que conhecer as origens da Escola-Parque não é suficiente. É necessário planejar e requerer o seu futuro.
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