OPINIÃO

 

 

Eva Waisros Pereira é professora emérita da Universidade de Brasília. Doutorado na Universidade Aberta em Portugal, pós-doutorado na Universidade de Poitiers, França. Realiza pesquisas em História da Educação e coordena o projeto Museu da Educação do Distrito Federal. 

 

 

 

Maria Paula Vasconcelos Taunay é doutora em Educação e Tecnologia pela Faculdade de Educação da Universidade de Brasília e compõe a equipe de pesquisadores do Museu da Educação do Distrito Federal.

 

Eva Waisros Pereira e Maria Paula Vasconcelos Taunay 

 

Neste ano em que se comemora o 63º aniversário da primeira escola parque de Brasília, o Museu da Educação do Distrito Federal une-se aos professores, estudantes e à comunidade da capital do Brasil, para celebrar a formação desse lugar de memória e de construção de afetos dos brasilienses. 

 

Inaugurada no mês de novembro de 1960, a Escola Parque da 307/308 Sul ocupa posição privilegiada no complexo educacional edificado no interior da primeira unidade de vizinhança, antes ainda de ser inaugurada a nova Capital. Concebida a partir de um programa diversificado de arquitetura, desenhado para a vivência da urbanidade e da democracia, a referida escola teve seu modelo construtivo inspirado na junção de propósitos que resultou em perfeita harmonia entre o plano urbanístico da cidade e a educação idealizada por Anísio Teixeira para a sua população.

 

Parte constituinte do primeiro Centro de Educação Elementar de Brasília, a Escola Parque representava o lugar de convergência dos estudantes das Escolas Classe das quadras 308,107, 106 e 108 Sul, que, de forma integrada e integradora, promoviam a educação integral - um projeto humano a ser replicado por todo o Brasil. A instalação das escolas em um sistema habitacional inspirado na autossuficiência, uma extensão do lar - características atribuídas à Unidade de Vizinhança (Perry, 1929), tornava real o sonho coletivo que situava a educação como pilar estruturante da sociedade.

 

Em consonância com o “Plano de Construções Escolares de Brasília”, da lavra de Anísio Teixeira (1961), havia espaços abertos para permitir ao aluno viver plenamente, interagindo com os outros e com o saber sistematizado. Desse modo, era-lhe dada a possibilidade de aprender em situação real de aprendizagem, bem como adquirir hábitos sociais e morais necessários à sua integração à sociedade moderna (Pereira, 2011). Assim pensado, o processo educativo deveria partir da experiência do aluno e utilizar o seu interesse como mola propulsora, visando, ao mesmo tempo, a formação de disposições permanentes – os hábitos. 

 

À luz da teoria pragmatista de Dewey, aspecto enfatizado por Anísio Teixeira, diz respeito à relação entre democracia e educação. O pressuposto é que a construção de uma sociedade democrática está afeta à construção de uma escola igualmente democrática, tanto nos seus propósitos, como na forma de sua organização e de suas práticas. A vivência dos alunos no ambiente escolar democrático possibilitaria a incorporação de disposições e hábitos que permaneceriam ao longo do tempo, formando, assim, pessoas democráticas para constituírem a sociedade democrática.

Nesse contexto, a Escola Parque da 307/308 Sul desperta memórias individuais e coletivas de todos aqueles que tiveram oportunidade de vivenciar essa experiência pedagógica inovadora e, especialmente, o exercício cotidiano da autonomia vivenciado em atividades de estudo, de trabalho, de recreação, de reunião, de administração, de decisão, de vida e de convívio social. 

 

A população brasiliense testemunha, com orgulho e respeito, conquistas obtidas pela Escola Parque no referente à formação humana, ao proporcionar aos estudantes condições para a aquisição de conhecimentos teóricos e práticos, bem como de valores indispensáveis à vida na sociedade democrática, visando à convivência harmoniosa, o despertar de talentos, a descoberta de aptidões, o cultivo da individualidade e a liberdade de expressão.

 

Espaço de afeto e realizações, onde vivem lembranças de uma intimidade orgânica entre estudantes, professores e a comunidade, a Escola Parque assiste seus egressos contarem suas vivências nela vividas, o que os torna sujeitos ativos de uma história educacional que preconiza novos patamares de qualidade na oferta da educação pública e possibilita o exercício de reimaginar o mundo para muito além do padrão atual. 

 

Referências bibliográficas: 

PEREIRA, Eva et all. Nas Asas de Brasília: Memórias de uma Utopia Educativa - 1956/1964. Editora UnB, Brasília, DF, 2011

PERRY, C. A. The Neighborhood Unit. In: Committee on the Regional Plan of New York and Its Environs (Org.); Regional Survey of New York and Its Environs. v. 7, p.22–141, 1929. New York: Regional Plan of New York and Its Environs.

TEIXEIRA, Anísio. Plano de construções escolares. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Rio de Janeiro, v. 35, n. 81, p.195-199, jan./mar. 1961.

 

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