OPINIÃO

Enrique Roberto Argañaraz é professor do Departamento de Farmácia da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília. Doutor pela UnB em Imunologia e Genética Aplicadas.

Enrique Roberto Argañaraz 

 

A embriogênese é um dos processos biológicos mais fascinantes da natureza. Começamos nossa jornada como um ovócito fecundado e depois de nove meses iniciamos uma nova jornada, e,em alguns anos, nos tornamos um organismo com um alto nível de cognição, tanto exterior, como de nossa própria existência-consciência. A embriogêneses parece ser um processo mediante o qual uma célula aparentemente “inconsciente” se transforma em um organismo“consciente”de aproximadamente 50 trilhões de células. Isto nos conduz a uma pergunta óbvia e inevitável: em que momento, e principalmente, o que determina que uma célula ou aglomerado de célula inconscientes se torne consciente,“vivo”? O atual entendimento científico sobre a consciência se baseia na suposição de que existem estruturas biológicas, átomos, moléculas, células, tecidos...com consciência ou, alternativamente, com a capacidade de gerar consciência após atingir um aglomerado com um determinado número dessas estruturas, um pressuposto sem fundamentação lógica. Um claro exemplo dessa visão é a ideia de que a consciência é um epifenômeno da atividade cerebral.

 

Um problema fundamental no qual esbarram todas as teorias sobre consciência e vida é a falta de uma definição precisa do que é consciência, do que é vida. Esta dificuldade se deve ao fato de que os parâmetros científicos são objetivos, e a consciência e a vida são subjetivas. O conceito de vida sofreu diversas modificações ao longo do tempo, com a inclusão de atributos mais ou menos particulares relacionados aos sistemas biológicos. Se fizermos uma reflexão para entender onde reside a “vida”, ou em outras palavras, qual parte do organismo é responsável pela vida, poder-se-ia concluir que a vida é mais uma propriedade, um princípio, e como tal inclui a totalidade dos componentes e processos básicos; desde as escalas atômicas, moleculares, inorgânicas até as maiores, orgânicas e mais complexas, onde cada parte contribui para o todo de forma irredutível, indivisível e o fracasso em qualquer escala pode levar ao colapso do organismo. Fazendo uma analogia com o conceito de vida, podemos nos perguntar: Em que parte do sistema nervoso a consciência reside? Uma resposta possível e por analogia seria que a consciência não residiria em nenhuma estrutura neural específica já que não pode ser associada a nenhuma em particular. De fato, nenhuma relação foi detectada entre uma determinada célula ou grupo de células e um dado pensamento, memória, ou ainda menos com a percepção da consciência da própria existência. Uma analogia, para entender esta impossibilidade, seria como tentar encontrar os personagens de um filme projetado na tela de uma TV dentro dela. 

Dentro desta nova visão não localizada de consciência-vida, podemos inferir que elas não são diferentes, e, por outro lado, um subproduto de alguma estrutura biológica particular, e sim uma propriedade independente, irredutível, onipresente, um princípio fundamental a toda existência.

 

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