OPINIÃO

Alice Fátima Martins doutora pela Universidade de Brasília, colabora em projetos de pesquisa e extensão da UnB, como o Museu da Educação do Distrito Federal - MUDE. Professora da Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás.

Alice Fátima Martins

 

Já se passaram mais de seis décadas desde a inauguração da primeira Escola Parque, em Brasília, na EQS 307/308. Ela integrou o núcleo primeiro que articulava o projeto de educação pensado para a nova capital. Inspirado no Centro Educacional Ribeiro Carneiro, ou na Escola da Liberdade, como era chamado o complexo instalado nos anos anteriores, em Salvador (BA), o projeto previa educação em tempo integral, articulação dos espaços escolares aos trânsitos e espaços urbanos, abordagens interdisciplinares das aprendizagens construídas, indissociabilidade entre as áreas de conhecimento em suas especificidades e o sentido amplo e complexo da formação cultural.

 

Tanto tempo depois, ainda me ponho a imaginar como seria toda a rede pública de ensino, no Distrito Federal, organizada com as escolas classe, os centros de ensino e as escolas parque. As possibilidades de realização desse projeto não avançaram, e durante muito tempo a Escola Parque da EQS 307/308 configurou um centro de resistência, sem que as outras escolas tivessem sido construídas. Seu funcionamento também se modificou, em sintonia com a mudança das jornadas diárias de aula, com as escolas atendendo em dois turnos, e não em regime de tempo integral, como pensado originalmente.

 

Só em 1977 foram inauguradas as Escolas Parques da EQS 313/314 e da EQN 303/304. Em 1980, começou a funcionar a Escola Parque da EQN 210/211, e em 1992, a Escola Parque da EQS 210/211. Todas no Plano Piloto.

 

No decurso do tempo, seu funcionamento foi sendo ajustado de acordo com transformações das prioridades definidas pelas políticas públicas voltadas à educação, bem como com as demandas várias de cada período e as pressões econômicas e do mercado. Por essa razão, ao final dos anos 1990, entre os grupos de docentes que atuavam em seus espaços, pairava a preocupação relativa à necessidade de defesa das escolas em funcionamento.

 

A partir da ação de docentes atuantes nas áreas das artes, em articulação com a Associação de Arte Educadores do DF, AsAE/DF, no início dos anos 2000 foi feita uma mobilização entre a comunidade interessada na questão, docentes, familiares, discentes egressos da Escola Parque, especialmente das turmas mais antigas, dentre tantas outras pessoas que reconheciam a sua importância institucional. Assim, realizamos o Fórum Escola-Parque, em 2002, no Teatro da Escola Parque da EQS 307/308.

 

Com várias mesas organizadas durante todo o dia, o Fórum constituiu um momento de reencontros, marcado por uma efervescência de memórias e desejo de preservação e fortalecimento daquele projeto fundador da Educação no Distrito Federal. Na ocasião, egressos que conquistaram projeção nacional tomaram parte da programação que contou, também, com a presença de Babi Teixeira, presidente da Fundação Anísio Teixeira e filha do mentor das escolas parque. 

Um dos encaminhamentos resultantes do Fórum foi a organização de um abaixo-assinado, com vistas à solicitação de registro das Escolas Parque em Brasília como patrimônio cultural imaterial, junto ao IPHAN. Pretendia-se, assim, assegurar que as escolas em funcionamento não sofressem qualquer ameaça, mesmo ante mudanças das prioridades dos projetos educacionais nas gestões políticas do Distrito Federal. Apesar do impacto que o Fórum conseguiu produzir junto à comunidade e a várias instituições, esse processo não avançou, no âmbito federal. No entanto, por iniciativa da Secretaria de Cultura do GDF, iniciou-se o processo que levou ao tombamento da Escola Parque 307/308 Sul como patrimônio material, pelo Decreto nº 24.861 de 04/08/2004, em nível distrital. Alguns anos mais tarde, o ideário pedagógico de Anísio Teixeira foi registrado como patrimônio cultural imaterial, pelo Decreto nº 28.093/2007, também da Secretaria de Cultura do GDF.

 

As Escolas Parque seguem seu percurso, cumprindo já mais de sessenta anos de história no Distrito Federal, num marco de resistência, numa demonstração da relevância em suas bases pedagógicas. Na condição de professora que atuou, nos anos 1990, na Escola Parque da EQN 303/304, tendo aprendido tanto quanto pude também ensinar, sinto-me privilegiada por ter tomado parte ativa desse processo, ampliando e aprofundando as reflexões sobre o pensamento do professor Anísio Teixeira no âmbito da educação, e mais especificamente do projeto educacional concebido para a nova capital instalada no Planalto Central do Brasil.

 

Vida longa às Escolas Parque!

ATENÇÃO – O conteúdo dos artigos é de responsabilidade do autor, expressa sua opinião sobre assuntos atuais e não representa a visão da Universidade de Brasília. As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seu conteúdo.