OPINIÃO

Isaac Roitman é doutor em Microbiologia, professor emérito da Universidade de Brasília e membro titular de Academia Brasileira de Ciências.

Isaac Roitman

 

Em fevereiro de 2023, a Câmara de Direitos Humanos da Universidade de Brasília (CDH/UnB) aprovou por unanimidade a Política do Envelhecer Saudável, Participativo e Cidadão para atender e adequar as necessidades de pessoas idosas na ótica dos direitos humanos. Um dos objetivos envolve cultivar uma cultura de respeito e inclusão de pessoas de todas as idades por meio de projetos para a valorização de idosos, de seu conhecimento, memória e de sua contribuição para a Universidade; ampliar a participação de pessoas idosas como estudantes e como participantes de equipes de projetos de pesquisa e extensão; fomentar linhas de pesquisas e estudos na temática do envelhecimento e fortalecer a temática nos cursos e na oferta de disciplinas de graduação e pós-graduação. Na ocasião, a Professora Leides Moura assim se pronunciou: "A UnB é historicamente protagonista em acolher minorias sociais, e isso precisa ser mantido".

 

Em menos de um ano (janeiro de 2024), a UnB promoveu um processo seletivo para pessoas com 60 anos ou mais para ingresso em cursos de graduação. Foram oferecidas 136 vagas em 37 cursos presenciais nos quatro campi da instituição. O processo seletivo foi conduzido inteiramente pela própria Universidade, e a prova consistiu na redação, que teve como tema o direito à universidade e ao envelhecimento saudável. Inscreveram-se 3.013 pessoas. O decano de graduação da UnB, Professor Diêgo Madureira, assim se pronunciou: “Ficamos surpresos e felizes com a repercussão da iniciativa.

 

O ingresso de pessoas idosas nos cursos de graduação implicará em desafios para a instituição, mas também em oportunidades para a inovação, com base na troca de conhecimentos entre gerações”. A reitora Márcia Abrahão de Moura também esteve presente para cumprimentar os candidatos no início da prova. Assim, ela se pronunciou: “Estamos vivendo um marco na Universidade de Brasília. Foi um dia histórico para a nossa comunidade e também para o Distrito Federal. Antes do início das provas, passei em algumas salas de aula para desejar boa sorte aos participantes e escutei relatos emocionados”.

 

Ao chegar à terceira idade, sem a rotina de trabalhos, sem a preocupação com filhos e outros afazeres, é extremamente saudável investir no aprendizado, seja para desenvolver novas habilidades, adquirir algum conhecimento que não foi possível durante a juventude, buscar uma segunda fonte de renda, encontrar outra formação para permanecer no mercado de trabalho ou apenas para estimular a mente. O convívio com estudantes e professores na universidade é também um instrumento de renovar os ânimos, pois vai permitir o acesso a novas informações, conhecer e conviver com pessoas, participar de redes sociais e desenvolver novas tarefas.

 

O tema longevidade está chamando a atenção de muitos estudiosos, pois estima-se que até 2050, a proporção de pessoas com mais de 60 anos de vida vai aumentar em todo o mundo. Assim, precisamos entender qual é o segredo e os desafios da longevidade. A Universidade de Stanford nos Estados Unidos possui um Centro de Longevidade que tem a missão de acelerar e implementar descobertas científicas, avanços tecnológicos, práticas comportamentais e normas sociais para que a vida das pessoas seja mais saudável e melhor. A iniciativa da UnB está alinhada a essas atividades. Oxalá que essa iniciativa seja um exemplo e que se espalhe nas demais universidades brasileiras. É pertinente lembrar o pensamento do Papa Francisco: “Abandonar idosos é um pecado mortal. Os idosos deveriam ser para toda a sociedade uma reserva de sabedoria”.

 

 

Publicado originalmente, em 31 de janeiro, no portal Monitor Mercantil

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