Daniela Freddo
Conheci o professor Mauro Boianovsky como aluna do programa de Doutorado, da Universidade de Brasília, na disciplina de História do Pensamento Econômico (HPE). Nosso encontro foi em 2012. A UnB entrou em greve e Mauro não interrompeu o curso, realizamos o semestre normal mais o período de reposição que se estendeu até o início de 2013. Nosso curso que duraria 4 meses, durou 9. Eu me sinto especialmente privilegiada por esta convivência acadêmica. Foi um dos professores mais exigentes que tive na trajetória acadêmica. Ele se certificava, a cada aula, se havíamos lido e compreendido o texto do dia. O objetivo dele no curso era que lêssemos a bibliografia criteriosamente escolhida por ele, e esta seleção de artigos não poderia ser melhor, pois havia sido feita por um acadêmico que havia lido quase tudo o que fora publicado na área de HPE. Sempre que eu ia à Biblioteca, lá estava Mauro. Morador da Colina, residência funcional do corpo docente e moradia estudantil da UnB, Mauro sempre se dedicou à Universidade como um projeto de vida e não como projeto profissional.
Em 2015, ingressei como docente no Departamento de Economia e tive o privilégio de tê-lo como colega. Acompanhei seu trabalho e notei que a cada ano a bibliografia do curso que eu tinha feito era alterada, pois Mauro incluía a cada ano artigos e trabalhos recentes. Ele nunca via o curso como estrutura acabada, mas sempre em construção. Também tive acesso ao monumental programa do curso de Metodologia Econômica, o qual surgiu de um tópico do curso de HPE.
Mauro tinha uma erudição ímpar, sempre foi uma pessoa que se mostrava reservada e concentrada. Ele era extremamente curioso por novos assuntos. Os olhos dele brilhavam quando contava sobre seus achados e suas novas pesquisas. Era um amante de livros, arquivos, cartas e todas evidências sobre o contexto do surgimento de teorias econômicas. Estudava como as ideias surgiam. Discutia as ideias de autores das mais diversas linhas de pensamento econômico, via o desenvolvimento da teoria econômica como um processo, que estaria sempre, e ao mesmo tempo, em evolução e reviravoltas.
Não tinha paciência com burocracia, sua ansiedade em descobrir coisas novas não o permitia que gastasse tempo com assuntos que considerasse triviais. Muitas vezes, entediava-se com conversas cotidianas e, talvez, por isso, parecesse ser reservado. Interessava-se por alunos e acadêmicos que o desafiassem e que o olhasse como igual, pois amava as discussões acadêmicas profundas e relevantes.
Mauro foi um pensador brilhante, reconhecido nacionalmente e internacionalmente. Gostava de viajar e de estar nos lugares nos quais os grandes economistas que eram objeto de seu estudo haviam atuado e criado. Isso enriquecia sua vivência e criatividade, por isso adorava participar de congressos e conferências, de trocar ideias e apresentar seus trabalhos.
A pandemia foi muito desestimulante para Mauro, que se viu impossibilitado de realizar suas viagens internacionais, foi um período particularmente difícil para ele. Estava retomando as viagens pouco antes de receber seu diagnóstico.
Infelizmente, Mauro partiu precocemente sem conseguir apresentar seu último trabalho, que justamente tratava de uma carta de Albert Einstein para Irving Fisher. O sentimento para aqueles que ficam é de uma vida interrompida, mas prenhe de muitas pesquisas, de um grande acadêmico que estava no auge de sua intelectualidade e produtividade.
Perco um colega e amigo, por qual nutria grande carinho e admiração. O Departamento de Economia da UnB perde um de seus melhores quadros. O que nos conforta é saber que Mauro deixará de ser um estudioso observador e terá sua obra e trajetória estudada, a qual em muito se confunde com a história do Departamento de Economia. O vazio que se abre com sua partida deverá preenchido com toda a criatividade e paixão pela academia que o guiou em vida, pelos trabalhos dos historiadores econômicos.
Um abraço, Mauro! Descanse em paz.
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