Rodrigo Luiz Carregaro
As lesões por esforços repetitivos (LER), denominadas como distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT) a partir da década de 1990, são caracterizadas como transtornos multifatoriais, causados em geral pela sobrecarga do sistema musculoesquelético em atividades laborais. Dentre as principais manifestações, destaca-se inflamação, dor e outras restrições funcionais, de atividade e participação social.
Trata-se de um problema que acompanha a história da humanidade e remonta às importantes observações de Bernardino Ramazzini (1633-1714). Já nos anos de 1700, Ramazzini havia relatado que diversas doenças poderiam surgir após movimentos “irregulares” e posturas prolongadas de trabalhadores. Não é à toa que Ramazzini é considerado por muitos o “pai” da saúde ocupacional.
E porque precisamos falar sobre isso?
As LER-DORT atingem as mais diversas categorias profissionais, e são consideradas uma das principais causas de afastamento do trabalho e aposentadoria precoce. Mais do que isso, podem gerar incapacidade temporária ou permanente, além de impactos socioeconômicos catastróficos para as pessoas e para a sociedade.
Uma das LER-DORT mais desafiadoras é a dor lombar. As estimativas mais atualizadas demonstram que havia, em 2020, aproximadamente 619 milhões de pessoas com dor lombar em todo o mundo. Infelizmente, é provável que muitos dos leitores desta nota - aproximadamente 60% - tiveram (ou terão) um quadro de dor lombar em algum momento de suas vidas. Esse dado reforça que a dor lombar é considerada uma das doenças crônicas mais incapacitantes em todo o mundo, inclusive no Brasil. Além de afetar a capacidade produtiva de muitos trabalhadores, resulta em perdas de produtividade devido ao absenteísmo (ou seja, afastamentos ocupacionais). A exemplo, um dos estudos do nosso grupo de pesquisa demonstrou que no Brasil, entre 2012 a 2016, os custos advindos do tratamento da dor lombar no âmbito hospitalar e ambulatorial, somado às perdas de produtividades daqueles trabalhadores que se afastam, totalizaram US$ 2.2 bilhões. É evidente, portanto, que a dor lombar gera uma carga econômica considerável, tanto para o SUS quanto para a sociedade brasileira.
E o que podemos fazer para combater as LER-DORT?
Iniciativas como as do dia mundial de combate às LER-DORT são fundamentais e precisam ser amplamente divulgadas. Conhecer o tamanho do problema pode nos ajudar a trilhar caminhos no sentido da sua prevenção.
Não é o intuito desta nota, ou sequer seja possível, esgotar todas as possibilidades e intervenções com foco na prevenção das LER-DORT. No entanto, cabe destacar alguns pontos. Um dos aspectos primordiais é a ação multiprofissional e multidimensional com foco na educação em saúde e compreensão dos fatores de risco que podem explicar a sua ocorrência. Práticas de reabilitação nos territórios também são importantes estratégias, principalmente aquelas vinculadas às equipes de atenção primária e parcerias com centros de monitoramento e vigilância ocupacional. Por fim, o uso das melhores evidências científicas deve(ria) embasar a tomada de decisão de profissionais da saúde, no intuito de favorecer práticas mais assertivas.
Por fim, tomo a liberdade de proporcionar um olhar com o viés da minha profissão. Enquanto pesquisador e Fisioterapeuta, não há como finalizar esta nota sem destacar o papel preponderante do exercício físico na prevenção das LER-DORT. Uma das estratégias com melhores evidências científicas são aquelas que envolvem a adoção do exercício, especialmente os exercícios resistidos, durante a jornada de trabalho. Nesse sentido, manter-se ativo, fortalecer a musculatura e compreender o quadro de dor, são estratégias que têm muito a agregar ao processo de prevenção das LER-DORT.
Neste dia, devemos lembrar que todos os atores (sejam trabalhadores, empresas, instituições e sistema de saúde) possuem um papel a cumprir na prevenção das LER-DORT. Cabe a união em prol do bem comum.
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