OPINIÃO

Ângela Barcellos Coelho Café é professora do CEN/IDA/UnB, Departamento de Artes Cênicas do Instituto de Artes da Universidade de Brasília, graduada em Educação Física (ESEFEGO); Especialista em Metodologia do Ensino Superior (UFG); Mestra em Estudos do Lazer (Unicamp); Doutora em Arte (UnB); Pesquisadora sobre: cultura Popular, contadores de histórias, ludicidade e jogos, brinquedos e brincadeiras; ensino e educação escolar (formação de professores). Autora de 2 livros: Dos contadores de histórias e das histórias dos contadores. Goiânia. Cegraf/UFG, 2005. (esgotado) Princípios e fundamentos para o contador de histórias aprendiz. Lisboa, Lisbon, 2020. É também integrante do ICA – Instituto Casa de Autores, participando e promovendo ações de leitura em muitas direções. Cantora do grupo Chiquitas e Bacanas, que se apresenta com os repertórios: marchinhas de Carnaval e festa junina (baião, xote, xaxado e afins). Apresenta PAR: Lendas e Cantos com a parceria do músico de Brasília: Sérgio Duboc. Desde 2016, coordena um Projeto de Extensão da UnB (aberto à comunidade), do grupo: Vou te Contar! Contadores de histórias, com várias ações em torno do tema de narração de histórias.

 

 

Ângela Barcellos Coelho Café

 

Minha aproximação com o tema passou por muitas experiências a serem compartilhadas. A que trago neste breve relato inicia com minha transição para Brasília, em 2016, quando criei um grupo, para dividir os resultados do Doutorado (UnB/2015), que acabava de concluir: Vou Te Contar! Contadores de histórias. Nome do grupo, que também intitulou o Projeto de Extensão desenvolvendo estudos e pesquisas sobre o tema da narração oral e apresentando sessões de histórias, oficinas e outras atividades, atendendo a demanda da comunidade em cada semestre. O público-alvo eram estudantes de várias áreas do conhecimento, sobretudo Licenciaturas da UnB, e interessados da comunidade, em busca de conhecimentos e práticas de narração oral. Uma das características que chamo atenção no Projeto é o fato de não determinar previamente e sim acolher o que a comunidade que frequenta os encontros semanais, deseja ou solicita. Ao abrir a escuta, acolhendo as vontades e possibilidades de cada grupo, os resultados são surpreendentes. No 1º semestre de 2019, por exemplo, fizemos um bordado coletivo de um painel com a metáfora de uma árvore (talvez um Baobá), para explicar os princípios e fundamentos da performance do contador de histórias, no mundo de hoje (Tese defendida no IDA/POS 2015), cujo livro editado em 2020 é ilustrado e explicativo das metáforas construídas coletivamente neste painel, oferecendo estímulos a novos conhecimentos e novas práticas. Não se trata de modelos ou certezas, aprendi com Paulo Freire (2020) a beleza da inconclusão, quando lidamos na área humana e com Bondia (2002) o valor de cada experiência, sobretudo na Arte que é de onde falo.

 

Gosto de pensar que o contador de histórias é alguém que se comunica com outra pessoa, narrando algo... Esse “texto” pode ser um fato, fictício e/ou verdadeiro, relacionados ou não, às vivências de quem conta e de quem ouve. Esse repertório vai se ampliando ao longo da vida, cada vez que ouvimos uma história. Isso acontece desde que o ser humano se comunica vivendo em sociedade, sendo possível acreditar que a humanidade se educou contando suas histórias, para que os feitos humanos fossem conhecidos e pudessem se desenvolver em várias direções.

 

Nesse sentido, essa atividade é ancestral, pois, sempre existiu! Atualmente, frente as rápidas transformações no mundo, esse tema me provoca reflexões e indagações sobre suas funções, desdobramentos, alcances, permanências e reestruturações, usos com objetivos diversos, em locais diferentes, para públicos múltiplos e plurais. A narração é parte da natureza humana. Todos somos contadores... Pois, os contos e histórias são registros da humanidade para que a memória não se perca.

 

Contar histórias também é uma forma de autoconhecimento, pois as histórias nos dizem sobre nós mesmos. Também pode ser uma forma de ensinar! Uma forma de acessar e se relacionar com conhecimentos novos e velhos, construindo e reconstruindo sentidos para a vida. Contar e ouvir histórias pode ser praticado cotidianamente, como forma: de acolhimento, de ampliar as visões de mundo por meio de éticas e óticas diferentes, de vivenciar emoções e criar imaginários, resolvendo mistérios e oferecendo alternativas.

 

Estudar como funciona nosso aparelho comunicativo, por meio dos princípios e fundamentos para o contador aprendiz, pode melhorar a comunicação, além de promover um clima de cumplicidade, espontaneidade e união de grupo, por meio dos jogos lúdicos propostos para o desenvolvimento das técnicas de narração. Portanto, bem-vindas nas escolas, também para outras aprendizagens.

 

É sobre isso tudo que conversamos e praticamos em nossos encontros semanais, de quarta-feira à noite. A demanda mais recente, que orienta a próxima ação do Projeto está dentro da disciplina de Prática Docente em Contadores de histórias, que inicia com a descoberta de seu narrador e no momento seguinte prepara a turma para desenvolver as atividades com a comunidade, por meio de dinâmicas e aprofundamento de temas afins. Para participar procure, a partir de abril, os Projetos de Extensão da UnB, ou as divulgações no Instagram: @angelabcafe

 

Referências

BONDIA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, ANPEd, n. 19, p. 20-28, Abr. 2002.

CAFÉ, Ângela Barcellos. Princípios e Fundamentos para o Contador de histórias aprendiz. Lisboa, Ed. Lisbon, 2020.

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. 65ª edição. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra. 2020.

 

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