OPINIÃO

Adeilton Bairral é professor no Departamento de Música pela Universidade de Brasília (UnB).

Adeilton Bairral

 

Muita gente diz que é difícil compreender a música clássica. Veremos alguns elementos que podem facilitar o entendimento dessa arte muitas vezes mal compreendida. Naturalmente, vou usar uma linguagem “popular” para facilitar a compreensão.

 

A música vocal é sempre mais fácil de compreensão porque o texto tem uma comunicação direta, explícita, com o ouvinte. Sejam canções, árias de ópera, de oratórios, de cantatas, solos ou corais e outras peças inseridas num contexto musical-teatral. É um universo a ser desvendado, desde que haja um conhecimento prévio do que são os conteúdos abordados em cada obra. Uma busca rápida no Google facilitará a compreensão do enredo da obra e do autor.

 

Grande parte das obras de arte é baseada usando o sentido da visão e usam de matérias em que o contato visual se comunica imediatamente, principalmente com o olhar habituado a reconhecer elementos como luz e sombra, detalhes mínimos da arte figurativa ou abstrata, as técnicas usadas na pintura, escultura, fotografia e outras técnicas usadas para a elaboração dos objetos visuais. O mesmo acontece com o cinema e as artes cênicas como um todo (teatro, dança e outras representações cênicas).

 

O sentido auditivo requer uma abstração maior e o conhecimento dos elementos da música facilita a percepção. A música funcional, música com alguma função, isto é, música ritual, para os cultos, para dançar, para marchar, com função didática, para ser cantada entre pessoas numa reunião acompanhadas por um ou mais de um instrumento, cantos de trabalho etc.

 

A música para contemplação requer um pouco mais de convivência em que os elementos básicos da música devem ser colocados em prática. Temos a melodia, fácil de perceber porque está, praticamente, em todos os tipos de música. O ritmo, que é perceptível pela articulação de tempo de duração de cada nota, rápidos ou longos, com divisão de agrupamentos, é aquele em que se pode acompanhar com o tamborilar dos dedos sentindo as articulações sonoras dos tempos mais fortes ou os mais “fracos”. O timbre, vamos usar uma explicação grosso modo, pode ser: agudo (mais “fino”), médio (entre os extremos) e o mais grave (sons mais “grossos”).

 

A harmonia que é a combinação de todos os elementos acima, combinando os sons agudos, médios, graves, o ritmo que vai mostrar elementos de frases musicais, o uso dos timbres das vozes e dos instrumentos. Talvez, o timbre seja o mais trabalhoso para se perceber. Os instrumentos foram classificados a partir dos diversos timbres da voz humana. Assim temos: sopranos, voz aguda feminina; tenores, voz aguda masculina; contralto, voz grave feminina; e baixo, voz grave masculina. Há também as vozes intermediárias entre esses timbres. É só pensar no som de uma flauta, de um violino, de uma voz de soprano, para classificar como instrumentos/vozes agudos. Uma orquestra sinfônica pode ser formada com muitos músicos de vinte a oitenta componentes, utilizando todos os timbres de instrumentos.

Muitos gêneros da música clássica são baseados em repetições do tema que o compositor criou ou escolheu. Dos gêneros mais conhecidos são as sonatas (para instrumento solo ou mais algum instrumento), sinfonia (a sonata para orquestra), o concerto (sonata para orquestra e algum instrumento solista, como concerto para piano e orquestra) e os pequenos grupos de câmera, ou seja, não sinfônicos, como trios, quartetos, quintetos etc. Outro gênero que utiliza tema é a fuga, em que a elaboração dos elementos usados na composição são elaborados de muitas formas pelo compositor. Os temas podem “passear” entre os instrumentos/vozes agudos, médios ou graves. Ajuda muito na percepção a memorização do tema. As partes da composição (movimentos) podem ser percebidas pela velocidade de cada parte indo do lento (adagio), tempo moderado (moderato) até os rápidos (allegro, presto). Há ainda os chamados gêneros livres, sem repetições, como fantasias, prelúdios, entre outros.

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