Christine Souza Martins
Seria justo começar esse texto citando um grande pensador ou indivíduo genial da espécie humana. “Quanto mais conheço os seres humanos, mais admiro os animais.” Esse pensamento é atribuído ao escritor e historiador português Alexandre Herculano. Como outra representante da espécie humana, sou inclinada a concordar. Pensando bem, acho que conheço melhor os animais do que os seres humanos. Afinal, esse fascínio pelas mais variadas espécies animais conduziu minhas escolhas de vida desde a infância, inclusive a escolha da medicina veterinária como carreira.
No dia 14 de março é comemorado o Dia Nacional dos Animais. Boa hora de refletir qual o papel dos animais nas nossas vida e se estamos sendo verdadeiramente humanos no trato com eles. Os animais de produção, que representam fonte de nutrição e sustento, merecem manejo com mínimo de estresse, e se for inevitável, um final de vida sem sofrimento. Os animais silvestres representam a biodiversidade e o equilíbrio necessário para manutenção dos ecossistemas naturais. Preservar seus habitats e respeitar suas peculiaridades contribui para sobrevivência e integridade do planeta.
O que dizer então dos animais de companhia? Considerados parte da família, hoje podem representar a inocência, doçura e simplicidade que a vida corrida de todos nós frequentemente necessita.
A ciência já produziu inúmeros trabalhos, experimentos e relatos de como o convívio com animais faz bem à saúde física e mental dos humanos, além de servirem de catalisadores sociais nas relações entre as pessoas. Crianças que convivem com animais crescem mais responsáveis e possuem mais empatia com outros seres. Os animais fornecem ótimas oportunidades para os pais educarem seus filhos sobre os fatos da vida, como responsabilidade, sofrimento físico, sexo, fragilidade, morte e a necessidade de cuidar e valorizar toda forma de vida.
Idosos, que estariam perdendo sua sensação de propósito de vida e que, com os filhos já criados e independentes, encontram novamente nos animais de companhia um motivo para sair da cama, para sair de casa e o sentimento de ser útil, de cuidar, de ser incondicionalmente amado, independente de sua condição física ou financeira.
Essa convivência tão próxima aos humanos também produziu distorções indesejáveis e negativas. Destaco aqui pelo menos duas: primeiro, a intensa seleção genética das raças de cães e gatos, baseada quase exclusivamente na aparência física, acarretando alterações anatômicas e fisiológicas, muitas vezes prejudiciais ao bem-estar do animal. Alguns países desenvolvidos já estão proibindo a criação de cães braquicefálicos, por exemplo, por considerarem essas alterações anatômicas que prejudicam a respiração como maus tratos.
Outro tipo de distorção prejudicial na convivência entre os humanos e animais é o excesso de antropomorfização, isto é, a tentativa de transformar o animal num pequeno humano. Nesse processo, os instintos e comportamentos considerados naturais podem se tornar indesejáveis e novos comportamentos são estimulados e novos hábitos são implementados. Nesse processo são cometidos muitos excessos: excesso de roupas e acessórios, excesso de medicamentos, produtos químicos, excesso de confinamento e descontrole da reprodução, culminando, muitas vezes, em abandono.
Desfrutar da companhia de um animal traz a responsabilidade de cuidar da saúde física e mental deles, afinal, ficar preso o dia todo num apartamento ou canil, sem interação e oportunidades de exercer atividades que lhes proporciona prazer e felicidade, perece muito mais punição do que proteção.
Vamos lembrar todo dia como é bom ser recebido em casa por olhares de afeto e amor verdadeiro. O benefício tem que ser mútuo, considerando que o egoísmo é um atributo humano e não animal.
Nesse Dia Nacional dos Animais, vamos refletir sobre o que é ser humano e se nos consideramos a espécie dominante no planeta, ainda temos muito que aprender com outras espécies.
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