OPINIÃO

Wander Cleber Maria Pereira da Silva é professor da Faculdade do Gama na Universidade de Brasília (FGA/UnB). Criador da primeira disciplina de Felicidade em uma universidade pública na América Latina. Perfil do Instagram @wander_pereira1

Wander Cleber Maria Pereira da Silva

 

Todos desejam ser felizes, mas onde encontrar a felicidade? Muitos dizem que dinheiro traz felicidade. Bem, um estudo realizado por Donelly et al. (2017) revelou que os níveis de felicidade entre milionários não diferem significativamente dos assalariados. Isso nos leva a concluir que a felicidade não é meramente uma questão de ter dinheiro. Assim, um dos segredos é encontrar felicidade naquilo que temos, sem aspirar ter a vida que outros (supostamente mais ricos que nós) têm.

 

Por outro lado, é evidente que os países mais desfavorecidos economicamente ocupam as posições mais baixas nos índices mundiais de felicidade. Isso sugere que, embora a abundância financeira não seja uma garantia de felicidade, a escassez pode, de fato, ser um obstáculo para a felicidade. Portanto, se temos o mínimo necessário para o nosso bem-estar, somos convidados a encontrar a felicidade.

 

Estaria na alegria e contentamento constantes? A ideia de uma alegria perene é desafiada pela nossa própria condição humana, que não nos concede alegria absoluta e ininterrupta (e todos sabemos disso). Além disso, como poderíamos compreender a alegria sem a referência do descontentamento? A felicidade obrigatória se torna tóxica e adoecedora; além disso, nossa capacidade de sentir uma gama de emoções, boas ou ruins, negativas e positivas, é o que nos torna seres únicos no planeta.

 

Talvez na paz de espírito? Se interpretarmos a paz (interna ou externa) como a ausência de conflitos, então isso não é suficiente para encontrar a felicidade. Em geral, os conflitos são bem-vindos e só se tornam prejudiciais quando não são resolvidos; de outro modo, eles nos levam adiante e nos tornam melhores. Vejam, vislumbrar a possibilidade de que eles se resolverão em alguma dimensão, até mesmo metafísica, pode ser mais saudável do que fugir deles. Por exemplo, existem situações na vida em que é melhor entregarmos a Deus, a Jah, ao cosmos, ao big bang, ou qualquer que seja sua crença... Por isso, pessoas religiosas relatam ser mais felizes do que aquelas que não acreditam em nada. Mas, calma, você não precisa correr para uma igreja ou templo ou terreiro! Comece acreditando em algo maior, que regula os aspectos da vida que estão além de nosso controle.

 

Quem sabe se buscarmos felicidade com afinco? Possivelmente, fazer isso é menos saudável do que viver uma vida simples. Um estudo da Universidade de Tilburg, na Holanda, mostrou que buscar a felicidade excessivamente nos torna mais propensos à depressão e ansiedade. A felicidade é simples e só existe no presente, então, não sejamos excessivamente preocupados com a felicidade e evitemos a obrigação de prestar contas de nossa felicidade às pessoas.

 

Então, seria ter consciência sobre a felicidade? Conscientizarmo-nos de nossa própria felicidade não garante uma vida mais feliz; isso depende de como usamos essa consciência. Talvez um bom exercício seja entendermos que a felicidade é efêmera, e o que perdura é a vida feliz. Nossos antepassados hominídeos que experimentaram felicidade ao compartilhar momentos ao redor do fogo aumentaram suas chances de sobrevivência e nos deixaram essa possibilidade como herança genética. No entanto, se essa felicidade fosse eterna, por qual razão teríamos saído das cavernas? A natureza nos concedeu a capacidade de sentir felicidade de forma transitória; o contentamento de hoje só existe hoje, e o amanhã trará suas próprias alegrias e desafios.

 

Bem, poderíamos continuar indicando um monte de lugares, experiências e coisas onde encontrar a felicidade; talvez encontrássemos um pouco de felicidade nessas coisas, o suficiente apenas para alimentar nossa ansiedade por uma nova experiência..., mas, em essência, a felicidade se encontra na vida real, na vida vivida, nas conexões genuínas e nos momentos de realização pessoal (não em likes e/ou compartilhamentos). Por fim, que possamos buscar a felicidade não como um destino final, nem como uma jornada, mas como um caminhar repleto de experiências boas ou ruins, mas especialmente humanamente significativas.

ATENÇÃO – O conteúdo dos artigos é de responsabilidade do autor, expressa sua opinião sobre assuntos atuais e não representa a visão da Universidade de Brasília. As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seu conteúdo.