Conceição de Maria Albuquerque Alves

No dia 22 de março comemora-se o dia Mundial da Água. A partir de diferentes perspectivas, do lar ao Universo, a água é elemento imprescindível à nossa existência da forma que a conhecemos. A singularidade da presença de água em nosso planeta Terra definiu e moldou a vida e a construção das sociedades até onde a ciência nos permite compreender. Ao tempo que essa constatação nos enaltece (Como somos especiais!), ela também clama por humildade e responsabilidade frente aos cuidados com a água.

A centralidade da água em nossa condição de vida nasce de sua importância para a saúde individual e coletiva, passa por sua essencialidade aos diversos sistemas ecológicos e alcança funções muitas vezes imperceptíveis, mas imprescindíveis ao padrão de consumo vigente. A “água virtual”, entendida como a quantidade de água utilizada na produção de bens e oferta de serviços, é a base econômica das sociedades atuais. A fluidez da água alcança todos os espaços que lhe cabem em nossas vidas.

Para a Ciência & Tecnologia (C&T), a água é fonte de inquietações. Raramente disponível em quantidade ideal, a água pode tanto estar escassa como excessiva, e para cada situação a C&T esforça-se por traçar soluções que caibam nas agendas e nos orçamentos governamentais, empresariais e familiares. Elemento essencial para produção de alimentos e, especialmente em nosso país, para a geração de energia hidroelétrica, a água é animosamente disputada entre setores econômicos importantes para o desenvolvimento sustentável no Brasil. Sendo vital para o equilíbrio de ecossistemas aquáticos, é nas águas interiores que boa parte de nossa biodiversidade habita, exigindo atenção para a proteção de importantes biomas brasileiros. Para cuidar de toda essa riqueza que se equilibra em condições muito específicas, toda C&T que temos não parece suficiente. As mudanças climáticas têm nos mostrado a fragilidade desse equilíbrio. E é assim que a água encontra acolhida nas agendas científicas de quase todas as unidades acadêmicas que formam a Universidade de Brasília.

O Programa de Pós-graduação em Tecnologia Ambiental e de Recursos Hídricos da Faculdade de Tecnologia desenvolve pesquisas e forma profissionais nas áreas de abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem urbana, planejamento e gestão de recursos hídricos. As Geociências cuidam em seus projetos das águas subterrâneas. A Faculdade de Arquitetura e Urbanismo contribui com iniciativas no âmbito do planejamento urbano e de habitações sustentáveis favorecendo o uso racional da água. As Ciências Biológicas e a Química orquestram o conhecimento para preservação da vida aquática e a proposição de biotecnologias. As Ciências Humanas, incluindo a Sociologia, a Economia e o Direito, moldam a viabilidade e a conformidade legal das soluções que a C&T propõem para conservação da água e garantia da multiplicidade de seus usos. A Educação Ambiental nos ensina que o cuidado com as águas é tarefa diária e atinge a todos nós, do cidadão comum ao presidente da República.

O Centro do Desenvolvimento Sustentável nos mostra que, entre os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) que direcionam as agendas internacionais rumo a 2030, seis têm relação direta com a água:

ODS3 - saúde e bem-estar;

ODS6 - água potável e saneamento;

ODS7 - Energia acessível e limpa,

ODS11 - cidades e comunidades sustentáveis,

ODS13 - ação contra mudança global do clima, e

ODS14 - vida na água.

É preciso toda uma universidade para cuidar da água. Tivemos avanços em inserir a água nas diversas agendas governamentais e empresariais. Agora, é preciso avançar para além das agendas e alcançar resultados. A singularidade da presença de água em nosso planeta nos coloca numa posição de responsabilidade infinita. 22 de março é dia de festa pelo privilégio que temos na Terra, mas também é oportunidade para alerta e reflexão.