OPINIÃO

 

Mônica Castagna Molina é professora associada dos programas de Pós-Graduação em Educação e de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural. É doutora em desenvolvimento sustentável pela UnB.

 

 

Rafael Litvin Villas Bôas é professor da Licenciatura em Educação do Campo na Faculdade UnB Planaltina. Coordena o grupo de pesquisa Terra em Cena: teatro, audiovisual e educação do campo.

 

 

Reinaldo José de Miranda Filho é doutor em Fitopatologia e professor pela Universidade de Brasília. Atualmente diretor da Faculdade UnB Planaltina (FUP).

Mônica Castagna Molina, Rafael Litvin Villas Bôas e Reinaldo José de Miranda Filho

 

No 17 de abril, comemoramos o Dia Internacional de Luta pela Reforma Agrária. A data foi escolhida em razão do massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido em 17 de abril de 1996, em que 21 camponeses sem terra foram assassinados e mais de 60 ficaram feridos, na curva do S, na estrada que liga Marabá a Parauapebas, no Pará.

 

Do luto à luta: esse foi o movimento que levou as trabalhadoras e os trabalhadores rurais sem terra a protestos em escala nacional e internacional, cobrando justiça contra os assassinos da força policial militar e dos mandantes e celeridade na demarcação de terras para Reforma Agrária e liberação de créditos para plantio e infraestrutura das áreas reformadas. Em 1997, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realizou uma histórica marcha que, na chegada à capital, foi recebida por cerca de 100 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios.

 

Desde aquele contexto, a Universidade de Brasília notabiliza-se crescentemente no cenário nacional por acolher as demandas dos povos do campo, das florestas, das águas e dar encaminhamentos às pautas colaborando para a construção de políticas públicas nesta área. Foi assim que, em 1997, foi realizado na UnB o I Encontro Nacional de Educação na Reforma Agrária e, no ano seguinte, com intensa participação da Universidade, foi criado o Programa Nacional de Educação e Reforma Agrária (Pronera), ligado ao Ministério do Desenvolvimento Agrário e ao Incra, responsável pela formação de milhares de camponeses em todo o Brasil, por meio de cursos em parceria com universidades e movimentos sociais, desde a escolarização de jovens e adultos até cursos de nível superior, em diversas áreas de conhecimento.

 

Em quase três décadas de trabalho, importantes iniciativas desdobraram-se na UnB: o Grupo de Trabalho de Apoio à Reforma Agrária, que desenvolveu dezenas de projetos de extensão em âmbito regional e nacional; no Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares foi criado o Núcleo de Estudos Agrários (Neagri), que integra pesquisadores de várias unidades acadêmicas; na Faculdade de Direito, o Projeto Direito Achado na Rua tem uma importante frente voltada para Direito Agrário e luta pela terra; na Faculdade UnB Planaltina, foi criada em 2007, como experiência piloto, a oferta da Licenciatura em Educação do Campo (LEdoC), concebida para garantir a formação de educadores(as) que já atuam nas escolas do campo e da juventude camponesa que nelas possa vir a atuar. Acompanhada de muitas pesquisas produzidas pela UnB durante sua execução, esta experiência piloto consolida-se como uma política pública nacional. As LEdoCs são ofertadas atualmente em 39 universidades e institutos federais, com 59 cursos com oferta permanente, com 6.800 estudantes matriculados nesta nova modalidade de graduação.

 

No tempo presente, são inúmeros os projetos de extensão e pesquisa que envolvem equipes da UnB, de diversos cursos, com comunidades e territórios camponeses e quilombolas em diversas regiões do país. Na pós-graduação da UnB, há diversos programas em que a questão agrária é objeto de estudo sobre diferentes aspectos: políticos; econômicos; educacionais; ambientais; culturais e artísticos. Entre eles cabe citar o PPG em Educação da FE; o PPG em Artes Cênicas e o Mestrado Profissional do IdA; os PPGs em Literatura e Linguística do IL; o PPG em Direitos Humanos, do Ceam; o PPG em Sociologia do ICS; o PPG em Geografia do ICH; o PPG em Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural da FUP; o PPG em Sustentabilidade e Povos Tradicionais ofertado pelo CDS\MADER, entre outros.

Centenas de estudantes camponesas e camponeses, quilombolas e indígenas encontram nesses programas a oportunidade de aprofundamento de seus estudos e de qualificação profissional, trazendo inúmeras contribuições aos seus territórios, bem como trazendo também relevantes contribuições à Universidade, que tem aprendido a ressignificar os modos de produção do conhecimento, em diálogo com sabedoria e a ancestralidade destes diversos povos.

 

É também extremamente expressivo o processo em andamento da parceria entre a Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade Agrícola da China (CAU), para a construção do Centro Brasil-China de Pesquisa, Desenvolvimento e Promoção de Tecnologia em Mecanização para Agricultura Familiar. O referido Centro terá papel estruturante na produção de conhecimento para o desenvolvimento da agricultura familiar no Brasil, setor fundamental na produção agrícola, sendo responsável por mais de 70% dos alimentos que chegam à nossa mesa.

 

Nos próximos dez dias, será aqui apresentado um conjunto de dez artigos sobre os diversos projetos de ensino, pesquisa e extensão que a UnB vem realizando nesta área. Neste período, os docentes Alexandre Bernardino, Caroline Gomide, Eliene Rocha, Flaviane Cavesi, José Geraldo de Souza Júnior, Luís Antônio Pasquetti, Mário Ávila, Mônica Castagna Molina, Rafael Litvin Villas Boas e Regina Coelly socializarão as ações desenvolvidas pela UnB em torno da questão agrária em diferentes área de conhecimento. Intencionamos, com esta articulação, estimular outras universidades a fazê-los também, pois o enfrentamento da questão agrária; a realização da Reforma Agrária Popular que nos possibilite produzir alimentos saudáveis e avançar nas práticas agroecológicas que cuidem e defendam a natureza é de interesse e necessidade de toda a sociedade brasileira.

 

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