Caroline Siqueira Gomide e Sérgio Sauer
Entre as iniciativas da UnB na produção de conhecimento a partir das demandas dos povos do campo, das águas e das florestas, está a construção do Centro Brasil-China de Pesquisa, Desenvolvimento e Promoção de Tecnologia em Mecanização para Agricultura Familiar, que está estruturado em três eixos:
1) Maquinário Agrícola e Novas Energias;
2) Bioinsumos e Agroecologia; e
3) Residência Científica e Tecnológica.
Em julho de 2023, a Associação Internacional para Cooperação Popular (Baobá) promoveu uma viagem de professores da China Agricultural University (CAU - TOP 03 na área de ciências agrárias) para conhecer a realidade da agricultura familiar no Brasil e avançar na cooperação em máquinas agrícolas e bioinsumos. A Baobá é uma organização sem fins lucrativos, uma plataforma de promoção da cooperação tecnológica e científica a partir da demanda das organizações camponesas e de trabalhadores do Sul Global.
Embora a pauta comercial entre os países tenha a presença das commodities agrícolas, a cooperação tecnológica nesse setor é ainda muito frágil. A agricultura familiar pode ser um novo marco dada sua importância em ambas as nações para a segurança e soberania alimentar. A partir dessa premissa, foi celebrado o memorando de entendimento entre CAU e UnB no Ministério do Desenvolvimento Agrário e da Agricultura Familiar (MDA) em setembro, com a presença de vários decanos e do Presidente da CAU, o Dr. Zhong Denghua, da reitora Dra. Márcia Abrahão, do ministro Paulo Teixeira e servidores de vários órgãos de governo.
Em novembro, a reitora foi convidada para o fórum de reitores que atenderam ao evento WAFI (World Agrifood Innovation), realizado pela CAU em Pequim. Com o estreitamento da relação, um dos eixos que avançou foi o uso da tecnologia chinesa de tratamento de resíduos orgânicos e produção de fertilizantes, está em construção um laboratório conjunto de Remineralizadores e Compostagem. Uma das ações é o tratamento dos resíduos do restaurante universitário e a adaptação da tecnologia que utiliza microrganismos e equipamentos para acelerar a compostagem, reduzindo a emissão de gases de efeito estufa e reciclando nutrientes.
Apesar do Brasil ter máquinas agrícolas, a fabricação é voltada para os monocultivos extensivos, sendo especializada em grandes máquinas. Historicamente, essa opção resultou em uma exclusão tecnológica, pois apenas 14,5% da agricultura familiar tem acesso a trator, mas é responsável por mais de 70% dos alimentos consumidos no país. Esses dados corroboram a necessidade de cooperação visando ampliar a tecnificação da agricultura familiar brasileira.
O Brasil tem uma taxa de urbanização de 85% e 15 cidades com mais de 1 milhão de habitantes. O tratamento dos resíduos sólidos é um dos grandes desafios, mesmo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, Programa Nacional Lixão Zero, Plano Nacional de Resíduos Sólidos e o Novo Marco do Saneamento. Apesar dessas, apenas 61,1% dos resíduos sólidos urbanos são dispensados adequadamente em aterros sanitários e somente 14,7% dos habitantes têm coleta seletiva.
Em 2022, apenas 0,34% do resíduo orgânico era compostado no Brasil. Portanto, é preciso melhorar as políticas de redução, reciclagem e valorização dos orgânicos para ampliar a vida útil dos aterros, mitigar as emissões de gases de efeito estufa e reduzir custos. Por outro lado, o Brasil é o maior importador de fertilizantes sintéticos, altamente solúveis e contaminantes. Novas experiências de bioinsumos com resíduos orgânicos são fundamentais, reforçando a reciclagem de nutrientes e a mitigação de impactos ambientais relacionados.
O acordo de cooperação UnB-CAU, por meio do Centro Brasil-China da agricultura familiar, visa trocar conhecimentos, contribuindo na resolução de gargalos tecnológicos, beneficiando o meio ambiente e as populações do campo, historicamente excluídas dos avanços tecnológicos.
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