OPINIÃO

Otávio de Tolêdo Nóbrega é professor da Universidade de Brasília, bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq, especialista em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), presidente do Departamento de Gerontologia da SBGG-DF. 

Otávio de Tolêdo Nóbrega

 

Na perspectiva do envelhecimento e da saúde da pessoa idosa, os termos "fragilidade" e "vulnerabilidade" são frequentemente usados, embora descrevam aspectos distintos, mas relacionados, da condição física, psicológica e social da população idosa.

 

A fragilidade é geralmente considerada como um estado de saúde caracterizado pela diminuição da reserva fisiológica e funcional de um indivíduo, o que o torna mais suscetível a eventos adversos, como doenças agudas, incapacidades e morte. A pessoa frágil tende a exibir uma combinação de fraqueza muscular, lentidão, baixa atividade física, perda de peso não intencional e fadiga. Essas características frequentemente se manifestam como uma redução na capacidade de lidar com estresses físicos ou psicossociais. Não há uma causa específica ou única para a fragilidade, que pode ser causada por uma variedade de fatores incluindo a própria idade avançada, doenças crônicas, desnutrição, sedentarismo, polifarmácia (uso de múltiplos medicamentos), COVID longa, entre outros.

 

Já a vulnerabilidade refere-se à susceptibilidade de uma pessoa a sofrer danos ou a ser prejudicada por fatores externos, sejam eles físicos, sociais, econômicos ou psicológicos. A vulnerabilidade na pessoa idosa pode se manifestar de várias formas, incluindo a falta de acesso a proteção e cuidados adequados (inclusive, mas não limitados à saúde) assim como a incapacidade ou a insuficiência de meios de se defender de abusos. A exposição a condições ambientais adversas, a instabilidade financeira, a solidão e o isolamento social também são manifestações de vulnerabilidade. Um aspecto em comum com a fragilidade consiste no fato da vulnerabilidade também poder ser causada por uma multiplicidade de fatores, incluindo condições de saúde precárias, falta de apoio social, discriminação, pobreza, preconceito (etarismo/idadismo, quando referente ao idoso), entre outros.

 

Portanto, quanto ao foco, a fragilidade tende a se concentrar mais nos aspectos físicos e funcionais da saúde, enquanto a vulnerabilidade abrange uma gama mais ampla de fatores que podem expor uma pessoa idosa a riscos pela forma como nossa sociedade funciona e o que ela valoriza. Quanto à natureza, a fragilidade é muitas vezes vista como uma condição intrínseca, relacionada à saúde e à capacidade física do indivíduo, enquanto a vulnerabilidade é mais influenciada por fatores contextuais, de vida, e alheios ao funcionamento do organismo, apesar de poderem ter impacto na saúde e funcionalidade. Por fim, com relação às consequências, é certo que ambas as condições tem impactos negativos para o indivíduo idoso, com a fragilidade aumentando o risco de eventos adversos de saúde específicos, como quedas, hospitalizações e incapacidades, enquanto a vulnerabilidade pode afetar a capacidade global de uma pessoa idosa de enfrentar desafios e adversidades em diferentes aspectos da vida diária.

 

Em resumo, fragilidade e vulnerabilidade são conceitos distintos, porém, intimamente relacionados, e revelam diferentes aspectos da condição da vida idosa. Compreender esses conceitos é fundamental para o desenvolvimento de estratégias de cuidado e intervenções que visam promover a saúde e o bem-estar dessa população vulnerável, sendo esta a motivação para a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, seção Distrito Federal, com apoio de pesquisadores da UnB e outras instituições do DF e Brasil afora, promoverá o primeiro evento sobre essa temática com profissionais experientes de relevância nacional e internacional. O evento ocorrerá em 18 de maio de 2024 em formato virtual (online) e síncrono (em tempo real), e mais informações estão disponíveis em https://sbggdf.com.br/seminariofragilidade/.

 

Não percam essa oportunidade ímpar!

 



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