OPINIÃO

Isaac Roitman é doutor em Microbiologia, professor emérito da Universidade de Brasília e membro titular de Academia Brasileira de Ciências.

Isaac Roitman

 

Estamos vivendo uma era muito estranha. Estamos perdendo a capacidade de termos um diálogo virtuoso e construtivo. O fanatismo e a agressividade predominam nos espaços políticos e familiares. As formas extremas de pensamentos invadiram o mundo real e virtual, onde uma simples discussão vira motivo de ofensas e brigas, retroalimentando uma legião de fanáticos, que são incapazes de ouvir argumentos contrários ou iniciar uma conversa saudável.

 

A intolerância é a falta de aceitação ou respeito pelas diferenças de opinião, religião, cultura, raça, entre outros aspectos. Os fundamentalistas e fanáticos são frequentemente intolerantes em relação a pessoas ou grupos que não compartilham de suas crenças ou ideias. O diálogo autêntico respeita a relação “eu tu” em um cenário de reciprocidade viva onde a ética e a tolerância predominem.

 

A vacina para termos uma proteção dessa grave doença é o exercício pleno da liberdade de pensamento, investindo em uma educação de qualidade, capaz de promover a cultura do diálogo e do respeito às diferenças. Se isso não for feito, poderemos em futuro não muito distante sermos pautados por “fanáticos cibernéticos”.

 

Uma iniciativa recente decorrente de uma parceria da União Planetária com a Universidade de Brasília (UnB), através do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (Ceam) abre um espaço importante para o exercício de um diálogo virtuoso no Distrito Federal.

 

Essa parceria lançou o projeto Tribuna Livre pela Paz. Ele foi inspirado na “Speakers’ Corner” (esquina dos palestrantes). O mais antigo, iniciado em 1886, é o do Hyde Park, em Londres. Nesse espaço, que existe até hoje, os oradores podem falar e debater qualquer assunto baseado no direito da liberdade de expressão. Quando os ânimos se exaltam, a polícia interfere. Vários pensadores, como Karl Marx e George Orwell, participavam desses eventos que se realizavam aos domingos.

 

Os princípios da iniciativa inglesa são também os pilares do projeto Tribuna Livre pela Paz, onde qualquer pessoa possa falar sobre qualquer assunto e ser questionada pelos participantes, dentro de um comportamento ético e civilizado. Os eventos estão sendo realizados no Memorial Darcy Ribeiro (Beijodromo).

 

Esse espaço, projetado pelo arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, parceiro de Oscar Niemeyer, foi inaugurado em 6 de dezembro de 2010 e abriga o acervo de Darcy e Berta Ribeiro; é o escritório de representação da Fundação Darcy Ribeiro (Fundar) em Brasília. É pertinente lembrar que Darcy Ribeiro foi o primeiro reitor da UnB e parceiro de Anísio Teixeira na concepção dessa Universidade.

 

Pretende-se, em um futuro breve, introduzir um modelo híbrido, presencial e virtual, com a participação ampla de brasileiros e brasileiras. Todos serão bem-vindos e terão a oportunidade de introduzirem temas de interesse da sociedade. O projeto terá uma dimensão educativa, pois proporcionará o exercício de um diálogo virtuoso em um ambiente onde o respeito à diversidade de ideias prevalecerá.

 

O diálogo construtivo certamente será um instrumento para a transformação de nossa realidade social para melhor. Lembremos o pensamento de Darcy Ribeiro: “Só há duas opções nessa vida: se resignar ou se indignar. Eu não vou resignar nunca.”

 

Publicado originalmente, em 15 de maio, no portal Monitor Mercantil.

 

ATENÇÃO – O conteúdo dos artigos é de responsabilidade do autor, expressa sua opinião sobre assuntos atuais e não representa a visão da Universidade de Brasília. As informações, as fotos e os textos podem ser usados e reproduzidos, integral ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e que não haja alteração de sentido em seu conteúdo.