OPINIÃO

Ricardo Luiz de Melo Martins é professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília.

Ricardo Luiz de Melo Martins

 

O dia 31 de maio é destinado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para chamar atenção do mundo sobre os riscos envolvidos quando se consome produtos derivados do tabaco. O tabagismo é um grave problema de saúde pública, sendo considerado pela OMS como a principal causa evitável de morte no mundo, as quais são estimadas em 8 milhões por ano, sendo que destas, 162.581 ocorrem no Brasil. O cenário fica mais grave quando se verifica que o consumo do produto está associado ao desenvolvimento de diversas doenças graves com destaque para as doenças cancerígenas, as doenças cardiovasculares e as doenças respiratórias.

 

Infelizmente, novas ameaças surgem no campo da comercialização do produto. É o caso do advento do lançamento no comércio do cigarro eletrônico, que aliado ao consumo do narguilé, tem levado muitas pessoas ao vício da nicotina, sendo essas predominantemente jovens. O cigarro eletrônico e o narguilé são estratégias introduzidas pela indústria do cigarro para dar nova roupagem ao consumo do produto. Todos extremamente danosos à saúde. No caso específico do cigarro eletrônico, surge uma nova doença que recebeu o nome de evali, sigla em inglês para designar doença respiratória oriunda do consumo desse produto (o cigarro eletrônico é também conhecido como e-cigarette ou vape). O cigarro eletrônico possui um recipiente para inserção de um refil de nicotina e outros produtos e de um dispositivo, em geral alimentado por uma bateria, para aquecer e vaporizar estes produtos. A composição do cigarro eletrônico é variável, é comum encontrar nicotina, água e aromatizantes e solventes, como a glicerina e propilenoglicol. A temperatura de vaporização pode atingir até 350ºC. Entre os compostos gerados por essa reação, estão produtos cancerígenos, como o formaldeído. Em 2019, foram registrados casos de lesões pulmonares causadas pelo uso de cigarros eletrônicos. Desde então, foram registrados 2.558 casos, muitos com lesões que geram a necessidade de internação, sendo que alguns destes foram a óbito.

 

Estudos epidemiológicos têm mostrado que a iniciação do vício do tabaco se dá em camadas cada vez mais jovens, em alguns casos há registros de um número significativo de crianças se iniciando nesta prática, sendo esta na maioria das vezes incentivada por familiares ou grupos de amigos. Cabe lembrar que a nicotina é a grande vilã, pois é ela a responsável por fazer a pessoa viciar-se no consumo do tabaco, hábito que em muitos dos consumidores pode perdurar por 20 a 40 anos.

 

A Anvisa recentemente reafirmou sua resolução de proibir a comercialização do cigarro eletrônico no Brasil. Cabe agora às autoridades implantar rigorosas medidas de fiscalização para coibir a venda deste produto. O Brasil tem uma tradição de dispor de políticas de controle e tratamento, as quais têm mostrado resultados altamente satisfatórios, embora ameaçados com o aumento da comercialização do cigarro eletrônico.

 

Assim sendo, os profissionais de saúde têm um longo caminho a ser percorrido para que se possa considerar o tabagismo como uma doença controlada. A conscientização proporcionada pelo Dia Mundial sem Tabaco é fundamental para disseminar informações sobre os riscos do uso do tabaco e incentivar as pessoas a abandonarem esse hábito prejudicial à saúde. Ao entender os riscos, espera-se que muitas delas tomem a decisão de parar de fumar e contribuam para reduzir o impacto negativo do tabagismo na sociedade

 

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