OPINIÃO

Rodrigo Haddad é professor de Hematologia na Universidade de Brasília (UnB/FCE), do Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical, chefe da Divisão de Apoio Diagnóstico e Terapêutico do HUB-UnB-Ebserh e membro do grupo de trabalho Patient Blood Management da SES-DF.

Rodrigo Haddad

 

Ao iniciar uma série de experimentos em 1900, o médico e biólogo austríaco Karl Landsteiner talvez não imaginasse a revolução que ele traria à medicina. Seus trabalhos levaram à identificação dos grupos sanguíneos A, B e O, que anos depois levaria à primeira transfusão de sangue bem-sucedida entre humanos. As descobertas de Landsteiner lhe trouxeram o prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1930. Posteriormente, ele participaria da descoberta do sistema Rh, também importante para o processo de transfusão de sangue. Pelo pioneirismo, Landsteiner atualmente é reconhecido como pai da medicina transfusional, e em todos os anos o Dia Mundial do Doador de Sangue é celebrado no dia de seu aniversário - 14 de junho.

 

O Dia Mundial do Doador de Sangue é celebrado desde 2004 e foi instituído com o objetivo de homenagear os doadores voluntários e sua contribuição para o sistema de saúde, de conscientizar a população acerca da importância da doação de sangue e de apoiar no fortalecimento e expansão dos programas de doação voluntária. O tema desse ano, divulgado pela OPAS/OMS, será “20 anos celebrando a generosidade: muito obrigado doadores de sangue!”. Porém, mesmo com iniciativas dessa natureza, muito ainda há de ser feito para aumentar a captação e a fidelização de doadores.

 

Mesmo com a democratização do acesso à informação e do conhecimento, nos dias de hoje ainda é possível identificar pessoas que acreditam em mitos que envolvem a doação de sangue, incluindo desfechos desfavoráveis e situações que impedem a doação. Em parte, isso justifica a baixa proporção de doadores de sangue no Brasil. Estima-se que essa proporção, no Brasil, esteja abaixo de 2%, inferior à proporção entre 3% e 5% recomendado pela Organização Mundial da Saúde.

 

Em relação aos hipotéticos desfechos desfavoráveis, não há evidências científicas que suportam as teses de que doar sangue leve ao ganho ou perda de peso, deixa a pessoa mais fraca, “engrossa ou afina” o sangue e de que o ato de doação pode levar o doador a contrair doenças. Tampouco é verdade que o doador deve sempre doar sangue pois o organismo vicia, ou que doar sangue dá coceira. Já em relação às situações que podem impedir a doação de sangue, não é verdade que as mulheres não podem doar durante a menstruação, que quem teve dengue ou covid-19 nunca mais pode ser doador, que só se pode doar sangue a cada 6 meses, ou que só se pode doar sangue em jejum.

 

De fato, há critérios definidos por normas técnicas do Ministério da Saúde que impedem ou que permitem a doação de sangue. Esses critérios têm por objetivo tanto a proteção ao doador quanto a segurança do paciente que vai receber o sangue doado. Portanto, existe a necessidade da avaliação do voluntário por um profissional da saúde antes do ato de doação de sangue. Os critérios para doação de sangue podem ser encontrados aqui.

 

Doar sangue não exige grandes sacrifícios, e os impactos para quem precisa são enormes. Mais de uma pessoa pode se beneficiar de uma única doação, seja ela um paciente que está passando por uma cirurgia ou um tratamento, que possui alguma doença crônica ou que seja vítima de um acidente. No entanto, muitas vezes a oferta de sangue e seus derivados não atende à demanda, fazendo com que a conscientização da população possua papel crucial no aumento dos estoques de sangue e hemoderivados.

 

A Universidade, como um espaço de construção do conhecimento e de reflexão crítica, pode e deve cumprir o seu papel na desmitificação do ato de doar sangue. A formação de agentes multiplicadores do conhecimento, dentre eles, os próprios alunos ou a comunidade, também pode auxiliar na atração e fidelização de novos doadores.

 

O dia 14 de junho se aproxima e chega o momento de celebrar os doadores, e a todos eles, deixo também a minha homenagem. Porém, todo dia é dia de praticar um ato de solidariedade, altruísta e voluntário. Se você tem a oportunidade e a capacidade de doar sangue, não hesite. Torne-se você também um doador de sangue!

 

 

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