OPINIÃO

Isaac Roitman é doutor em Microbiologia, professor emérito da Universidade de Brasília e membro titular de Academia Brasileira de Ciências.

Isaac Roitman

 

O título do artigo é uma frase introduzida pela economista Maria Lucia Fattorelli, que coordena a Auditoria Cidadã da Dívida. Chamaria esta frase de “mantra Fattorelli”. Essa heroína, há anos, denuncia que o povo brasileiro tem sido submetido a um inaceitável cenário de escassez, embora a realidade brasileira seja de imensa riqueza e abundância. Segundo ela, este é o Sistema da Dívida, que usa o instrumento de endividamento público como um mecanismo de transferência de recursos públicos para bancos. A virada do jogo implica aprimoramento das políticas para alavancar o nosso desenvolvimento socioeconômico com respeito ao meio ambiente e garantia de vida digna para todas as pessoas. Para virar o jogo, será necessário o envolvimento de muitos setores da sociedade.

 

Há anos a Auditoria Cidadã da Dívida vem lutando para barrar esse esquema, buscando esclarecer a complexa e camuflada arquitetura financeira que foi criada para esconder o roubo de recursos públicos. Da mesma forma, esse mantra pode ser aplicado em outras dimensões, entre elas, o enfrentamento das mudanças climáticas, como as enchentes no Rio Grande do Sul e a prevenção de outras tragédias.

 

Essa catástrofe é um sinal importante para fazermos uma reflexão sobre o futuro da humanidade. Recentemente, o teólogo, filósofo e escritor Leonardo Boff publicou um artigo intitulado: “Tempos apocalípticos os nossos?”.

 

Ele não se define como apocalíptico e diz que os tempos é que são apocalípticos, e complementa: “O acúmulo de tragédias, o colapso da ética, a sufocação da decência nas relações políticas, a asfixia dos valores humanos fundamentais, a oficialização da mentira nos meios de comunicação virtual, a ditadura da cultura materialista do capital com o consequente exílio da dimensão espiritual, inerente ao ser humano, nos induzem a pensar: Será que os profetas bíblicos não têm razão quando escrevem sobre os tempos apocalípticos? Sabemos exegeticamente que as profecias não pretendem antecipar as desgraças futuras. Visam apontar as tendências que, se não forem freadas, trarão as desgraças anunciadas”.

 

Tempos difíceis. Cenários assustadores. As guerras não cessam, e milhares de inocentes morrem. Fabricantes de armas mais ricos. Armas de destruição em massa (nucleares, biológicas e químicas) são aprimoradas. Pandemias recorrentes. Seres humanos morrendo de fome. Desigualdades sociais assolando o planeta. Ameaça de extinção da espécie humana. Os desafios são imensos. Estamos em uma encruzilhada. Se tivermos um protagonismo passivo, talvez sejamos cúmplices da destruição da espécie humana. Creio que ainda é tempo de revertermos essa autodestruição.

 

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), para alcançarmos um futuro sustentável é preciso trabalhar em três dimensões: econômica, social e ambiental. Foi construída a Agenda 2030 na qual essas três áreas estão integradas em 17 ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável). Entre os objetivos estão a eliminação da pobreza e da fome, a promoção da saúde e da educação, o combate ao aquecimento global, a preservação do ambiente e a promoção da justiça social. É responsabilidade de todos nós sermos protagonistas para um mundo melhor. Vamos todos virar o jogo.

 

Publicado originalmente, em 10 de junho, no portal Monitor Mercantil.

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