Rodrigo Gurgel Gonçalves, Vanessa Resende Nogueira Cruvinel e Marcos Takashi Obara
No ano da maior epidemia de dengue da história do Brasil, a Universidade de Brasília (UnB) organizou um workshop sobre abordagens multisetoriais para prevenção e controle de doenças transmitidas por vetores (DTVs), junto com a Organização Mundial de Saúde (OMS) entre os dias 25 e 28 de junho de 2024. O evento contou com a participação de pesquisadores representantes de projetos que foram financiados pelo Consórcio TDR de 2021-2023 para fomentar pesquisas sobre doenças relacionadas a pobreza, oriundos de 4 continentes (América, África, Ásia e Europa) e 8 países, incluindo representantes da OMS e Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), UnB, Ministério da Saúde e GDF. O projeto Multisectoral approach for controlling Zika, Dengue and Chikungunya na Cidade Estrutural, de pesquisadores da UnB, foi um dos contemplados pelo TDR e teve destaque no workshop. Durante o evento, os participantes tiveram a oportunidade de conhecer as diferentes áreas da Estrutural, além de conversar com líderes comunitários, representantes da Administração, do Serviço de Limpeza Urbana, conselho tutelar, serviço social, saúde e educação.
A distribuição das DTVs depende de fatores relacionados a múltiplos setores, desde aspectos biológicos dos vetores até aspectos globais, como a pobreza, o comportamento humano e as alterações climáticas. A prevenção e o controle das DTVs devem considerar esses múltiplos fatores no espaço e tempo. Por isso, é necessária uma abordagem multissetorial (AMS) para minimizar eficazmente a transmissão complexa das DTVs. O evento destacou a importância da colaboração no desenvolvimento de AMS para a prevenção e o controle de DTVs, salientando que a luta contra estas doenças exige esforços coordenados entre os setores da saúde, educação, saneamento, ambiente, agricultura e planeamento urbano, por exemplo.
A iniciativa mundial da OMS contra os Arbovírus é baseada no monitoramento do risco, antecipação das epidemias e reforço no controle dos vetores com novas tecnologias, como soltura de mosquitos infectados com Wolbachia, técnica do mosquito estéril e mosquitos disseminadores de larvicidas. Embora estas intervenções tenham demonstrado alta eficácia para controlar mosquitos, há necessidade de combiná-las com outras ações como abastecimento adequado de água, saneamento básico, higiene e educação em saúde, incentivando a participação da comunidade. Uma análise abrangente da AMS para controlar arboviroses como zika, chikungunya e dengue foi apresentada em Brasília. Uma pesquisa prévia da UnB usando novas tecnologias de controle vetorial na região administrativa de São Sebastião entre 2016 e 2018 mostrou redução de 66% na quantidade de mosquitos. Entre 2021 e 2023, outro projeto da UnB realizou uma intervenção em uma área de alta vulnerabilidade (Região Administrativa da Estrutural) usando tecnologias de controle de mosquitos combinadas com ações de outros setores (educação, saneamento e ambiente) aplicando AMS. Apesar dos desafios como recursos e infraestrutura limitada, observou-se uma redução de 63,8% nos casos de dengue, em 2023, em comparação com 2022, o que sugere a eficácia da AMS.
A implementação de novas tecnologias de controle de vetores pode reduzir o número de casos DTVs nos próximos anos. A participação comunitária na vigilância e prevenção de vetores, facilitadas pelos meios de comunicação social e por iniciativas de educação para a saúde, deve ajudar a alcançar essa redução. Em última análise, AMS que englobe melhorias sanitárias, controle de mosquitos, vacinação e mobilização da comunidade será crucial na luta contra as epidemias de dengue e outras arboviroses. A OMS está dando continuidade ao projeto da Estrutural, em 2024, para analisar os fatores socioeconômicos relacionados a transmissão de arboviroses. Os resultados poderão ser aplicados para elaboração de novas políticas públicas para o enfrentamento das arboviroses no país.
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