OPINIÃO

Carla Simone Vizzotto é técnica administrativa em Educação - bióloga, lotada no Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da UnB. Atuou como delegada no comando nacional de greve da FASUBRA.

Carla Simone Vizzotto

 

As servidoras e servidores técnico-administrativos (Taes) das instituições federais de ensino (Ifes) encerraram na primeira semana de julho uma das mais longas greves da categoria. O movimento paredista durou 113 dias e, apesar de enfrentar negociações duríssimas, trouxe inovações essenciais para a sobrevivência da categoria no âmbito do serviço público federal.

 

A carreira técnica da educação federal abriga profissionais em mais de 300 cargos, com atuação tanto nas áreas meios quanto nas áreas fins das Ifes. A categoria desempenha funções imprescindíveis dentro dessas instituições, mas, por vezes, não tem o devido reconhecimento. A forte mobilização, com a entrada massiva dos técnicos e técnicas na greve, fez com que os(as) Taes saíssem da invisibilidade. Sendo esse, talvez, um dos maiores legados dessa greve.

 

Além de questões específicas da carreira e a recomposição das perdas salariais, os(as) Taes tinham entre suas pautas de greve a democratização efetiva e a recomposição do orçamento das Ifes. O conjunto de reivindicações reflete a crítica situação da educação pública federal, que enfrenta redução orçamentária e progressivos ataques desde 2015.

 

O longo processo de negociação exigiu que a categoria se mantivesse atenta e mobilizada, reacendendo entre as trabalhadoras e trabalhadores a importância da organização coletiva e da representação sindical. As redes sociais também foram grandes aliadas dos(as) Taes, que utilizaram fortemente essas ferramentas para sua organização. Desde o início do processo, ainda em 2023, as redes foram instrumento para explicitar a situação de defasagem salarial, a alta taxa de evasão, o adoecimento e a importância dos(as) Taes para as universidades e institutos federais, tanto em busca de apoio junto à sociedade quanto para cobrar publicamente o governo federal.

 

As conquistas da greve foram pactuadas no acordo de greve, entre as quais pode-se destacar: a alteração da malha salarial, deixando a estrutura em linha com as demais carreiras do serviço público; o reconhecimento de saberes e competências, que democratiza o acesso ao topo da tabela salarial; redução do interstício de progressão por mérito para 12 meses e aumentos de ‘step’ em 2025 e 2026. Os índices de recomposição salarial de 9% em 2025 e 5% em 2026 ficaram muito aquém do necessário, sendo um dos pontos de insatisfação da categoria.

 

As pautas alcançadas pelos(as) Taes não foram suficientes para que os(as) servidores(as) fizessem as pazes com o governo, principalmente em função da inabilidade dos negociadores do MGI. A categoria ainda amarga o tratamento hostil recebido nas reuniões, a demora no processo de negociação, o encerramento abrupto do processo e a falta de coerência com o discurso de redução de diferenças salariais no serviço público. Diversos pontos do acordo de greve ainda estão em regulamentação para implantação futura, em várias comissões, pelo prazo de 180 dias. Espera-se que o efetivo cumprimento do acordo amenize as relações entre a categoria e a gestão federal.

 

Entre os movimentos populares se diz que “a greve é didática” e a greve da Educação em 2024 reforçou essa máxima. Os(as) Taes relembraram que o tamanho da categoria pode ser um aliado poderoso quando agem em coesão, que a luta coletiva é sempre mais forte que o sectarismo, que é necessário enfrentar os problemas e se abrir a novas soluções para que a carreira não seja extinta no cenário das transformações do estado e do mundo de trabalho. A categoria também compreendeu que manter-se bem-informada e participativa é a principal ferramenta para defender-se daqueles(as) que estão mais preocupados(as) em proteger os(as) patrões do que a carreira e os(as) trabalhadores(as). Estudantes, docentes e comunidade das Ifes compreenderam que os(as) Taes exercem funções estratégicas, muitas vezes essenciais, para o pleno desenvolvimento do universo do ensino, pesquisa e extensão federal. E o governo compreendeu que a ‘Educação’ é gigante, não apenas em tamanho, mas também como setor que atuou e sempre atuará unido para resistir a qualquer ataque que prejudique quaisquer direitos de trabalhadores(as), cidadãos, cidadãs e a democracia do país.

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