OPINIÃO

Fabrício Lemos Guimarães é pesquisador do Núcleo de Estudos de Gênero e Psicologia Clínica do Laboratório de Estudos em Saúde Mental e Cultura – NEGENP/IP/UnB. Doutor e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica e Cultura - PSICC pela UnB.

Fabrício Lemos Guimarães

 

Dia dos pais é momento para refletir sobre a paternidade, ou melhor, as paternidades! Para muitos homens, o auge da paternidade é mostrar que consegue trocar as fraldas dos filhos. Para outros homens, isso é só o começo, é o básico. Homens estão se conscientizando que pai não deve apenas ajudar, tem que dividir com as parceiras os planejamentos e os cuidados diários dos filhos.

Isso pode parecer uma discussão superficial, uma bobagem, mas reflete um momento de muita transformação em nossa sociedade. Homens estão mudando, a maioria, por necessidade diante das mudanças sociais decorrentes dos movimentos de mulheres. Antes, os homens precisavam apenas ser provedores financeiros do lar, as demais infinitas funções e responsabilidades ficavam a cargo das mulheres. Além dessa divisão injusta, a valorização do trabalho era (e ainda é) extremamente desigual: o reconhecimento era apenas para o trabalho externo do homem e o da mulher era (e ainda é) desvalorizado e não remunerado.

Por isso, muitos homens se recusam a desempenhar trabalhos doméstico ou com os filhos, pois não seria papel de macho! Outros se consideram o melhor pai do mundo quando apenas trocam uma fralda ou dão banho na criança. E cada vez mais, podemos encontrar homens que estão conscientes (ou iniciando uma conscientização) da importância de planejar e dividir esses trabalhos com as parceiras de forma estrutural e cotidiana, não apenas em situações pontuais ou quando estão querendo mostrar para outras pessoas o quanto são bons pais: como se pedissem holofotes quando fazem um trabalho simples esperado para qualquer mulher!

Homens estão descobrindo os benefícios para as crianças de terem pais presentes. Além disso, esses benefícios se estendem à suas parceiras, que ficam menos sobrecarregadas com a dupla ou tripla jornada de trabalho externo e doméstico – trazendo, inclusive, consequências positivas aos relacionamentos conjugais. Esses benefícios atingem também aos homens, que podem aproveitar a interação afetiva com os filhos para demonstrarem afetos, resgatarem ou recriarem momentos de sua própria infância, viverem momentos incríveis com as crianças e com a família. Isso pode perpassar para as próximas gerações, corroborando para a socialização de homens com outras referências paternas, de enxergarem homens como fonte de afeto, de segurança e de cuidado.

Por isso, estamos percebendo o aumento de pesquisas acadêmicas sobre o tema. Está crescendo também o número de organizações e grupos de homens (tais como o Instituto Papai, Papo de Homem, Instituto Promundo e Homens em Conexões) para discutir masculinidades mais saudáveis, que incluem a temática da paternidade como um dos eixos principais.

E cada vez mais, temos campanhas em redes sociais que estimulam essa maior participação de homens nos cuidados das crianças e da família (por exemplo a 4Daddy e #Cuidarécoisadepai). Essas campanhas promovem incentivos para que homens comecem ou aprimorem os cuidados no cotidiano: cuidar da criança doente; levar a criança ao médico; planejar e preparar refeições das crianças e da família; demonstrar afeto para filhos; acordar a noite e fazer a criança voltar a dormir; organizar e passeios e viagens em família; escolher a roupa e arrumar os cabelos da criança. E mais do que uma obrigação, esses cuidados podem ser fontes de vínculos e vivências inesquecíveis para as crianças e para os pais.

Algumas dessas iniciativas produziram livros, documentários e filmes que fizeram sucessos nacionais, tais como o documentário O Silêncio dos Homens e o filme O Papai é Pop, oriundo do livro best seller com o mesmo título. Os homens estão descobrindo, curtindo, e mais, vivendo a paternidade de forma responsável e afetiva: com as suas dificuldades, mas com toda a sua potencialidade de ajudar na transformação de uma sociedade melhor, com menos violência na socialização de meninos, com mais paz para homens e mulheres.

 

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