OPINIÃO

Daiane Lara Landim é mestranda no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento, Sociedade e Cooperação Internacional (PPGDSCI/UnB). Gestora de projetos e pesquisadora, com foco em direito à cultura, educação e instrumentos de gestão. 

Daiane Lara Landim

 

A evasão escolar, caracterizada pela descontinuidade nos estudos, é um problema que ocorre também devido a fatores sociais. O abandono escolar é uma realidade preocupante que afeta muitos jovens no Brasil. Dados do censo de 2022 mostram que quase 70 milhões de brasileiros com 18 anos ou mais estão fora da escola ou não concluíram a educação básica. Segundo a OCDE, um quarto dos jovens brasileiros entre 18 e 24 anos nem trabalham nem estudam. O abandono é também um efeito colateral de fatores econômicos, políticos e ambientais. No entanto, neste texto, quero apresentar uma reflexão sobre as mudanças sociais decorrentes da cultura digital e seu impacto na valorização do ensino. 

 

Ao analisar esses números e entender a realidade brasileira, um dos motivos apontados para tal abandono é a falta de motivação. Essa desmotivação pode resultar da desconexão entre o currículo escolar e a realidade dos estudantes, mas também é possível identificar o impacto da cultura digital nesse contexto. 

 

A cultura digital valoriza o imediatismo, os "likes", seguidores e a popularidade. Esse ambiente pode fazer com que o esforço a longo prazo, como os estudos, pareça menos recompensador em comparação com os ganhos rápidos que as redes sociais aparentam oferecer. Enquanto alguns jovens enxergam as redes sociais como uma rota de baixo risco e alto retorno, o caminho tradicional do estudo e trabalho é visto como incerto em um mercado de trabalho cada vez mais competitivo e instável. Isso pode fazer com que o investimento em uma educação longa e cara pareça menos atraente. 

 

Para alguns, a educação formal pode parecer desatualizada ou desconectada das realidades do mercado de trabalho moderno. Se o sistema educacional não conseguir demonstrar relevância prática ou oferecer oportunidades reais, a motivação para estudar diminui. 

 

Em outros casos, a decisão de não investir em educação formal pode ser impulsionada por questões econômicas. Dificuldades financeiras, falta de acesso à educação de qualidade ou a necessidade de contribuir financeiramente para a família podem levar os jovens a buscar alternativas mais imediatas. 

 

As redes sociais criaram oportunidades para alcançar fama e sucesso financeiro rapidamente, algo que tradicionalmente exigiria anos de estudo e esforço em uma carreira convencional. Muitos jovens veem influenciadores digitais ganhando dinheiro de forma aparentemente fácil, o que muda suas aspirações e modelos de sucesso. Com o aumento das oportunidades digitais, como a criação de conteúdo nas redes sociais, o empreendedorismo online e outras formas de trabalho digital, muitos jovens começam a ver a educação formal como menos relevante, acreditando que podem alcançar sucesso financeiro e profissional sem concluir os estudos. 

 

Recentemente, a professora Bárbara Carine Soares Pinheiro, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), usou suas redes sociais (Instagram: @uma_intelectual_diferentona) para refletir sobre a redução do número de jovens ingressando em cursos de graduação e pós-graduação, e sobre o risco de fechamento de alguns desses cursos. Além das reflexões sobre o cenário educacional, ela, também como influenciadora digital, destacou o volume de propostas de publicidade que recebe e que, muitas vezes, são financeiramente mais vantajosas. No entanto, a pesquisadora também enfatiza que o estudo é fundamental para adquirir conteúdo e discernimento. Ela argumenta que o estudo não é apenas uma ferramenta para adquirir conhecimentos específicos, mas também para desenvolver instrumentos do pensamento, possibilitando melhores escolhas na vida pessoal, proposição de soluções para o desenvolvimento da sociedade e dos territórios, e evitando deslumbramentos momentâneos. A educação é essencial para manter-se em todos os espaços, além de impulsionar o desenvolvimento. 

 

A constante exposição às redes sociais, jogos online e outras formas de entretenimento digital pode desviar a atenção dos estudantes das atividades acadêmicas. O imediatismo e a gratificação instantânea oferecidos pela cultura digital podem diminuir a paciência e o interesse em tarefas que exigem esforço prolongado, como os estudos. 

 

Esse fenômeno reflete uma mudança nas dinâmicas sociais e econômicas, levantando a necessidade de repensar o papel da educação e como ela pode se adaptar para atender às novas demandas e aspirações dos jovens. Embora as redes sociais ofereçam oportunidades, elas também trazem desafios e incertezas. Nem todos que buscam essa carreira alcançam sucesso, e a falta de uma educação formal pode limitar opções futuras. É essencial que os jovens sejam orientados sobre as realidades de ambas as opções e que se busquem maneiras de motivar a juventude brasileira a valorizar a educação. 

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