OPINIÃO

Zethe Viana Machado é mestrando no Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos e Cidadania pela UnB (Ceam/UnB). Cursa MBA em Gestão e Governança de Segurança Pública pela UnB.

Zethe Viana Machado

 

No dia 19 de agosto, é comemorado o Dia Nacional de Luta da População em Situação de Rua. A data foi escolhida para nos lembrarmos do dia 19 de agosto de 2004, ocasião em que pessoas em situação de rua foram mortas nas escadarias da praça da Sé, na capital paulista. Esse fato ficou conhecido como Massacre da Sé. O caso teve repercussão no exterior, causando um desprestígio na imagem do Brasil perante a comunidade internacional. Infelizmente, mesmo após esse episódio, nosso país avançou pouco em políticas públicas para proteção das pessoas em situação de rua.

 

Somente em 23 de dezembro de 2009, foi criado o Decreto n. 7.053, que instituiu a Política Nacional para a População em Situação de Rua e seu Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento. No âmbito da Segurança Pública, em 2010, a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) lançou a Cartilha de Atuação Policial na Proteção dos Direitos Humanos de Pessoas em Situação de Vulnerabilidade, cujo Capítulo VIII é dedicado às pessoas em situação de rua.

 

No filme Esqueceram de mim 2: perdido em Nova Iorque1, há uma cena em que ocorre um dos mais lindos diálogos entre uma criança e uma mulher em situação de rua. O diálogo desenrola-se mais ou menos desta forma: o personagem principal, chamado Kevin e interpretado pelo ator Macaulay Culkin, pergunta para a mulher em situação de rua se ela trazia os amigos dela para o local em que eles estavam, o telhado de um teatro, assistindo a um belo concerto de Natal, e ela responde: “— Eu não tenho amigos. Sou como os pombos, as pessoas passam por mim na rua, elas me veem, mas fingem que não me viram, prefeririam não me ver na cidade delas. Todos lutam por uma posição, todo mundo quer ser visto e ouvido. Eu não fui sempre assim, sabe.” Então, ele pergunta como ela era antes. E ela responde: “— Tinha emprego, tinha um lar, tinha uma família.” Kevin pergunta se ela tinha filhos. Ela responde: “— Não. Eu queria, mas o homem que eu amava um dia deixou de me amar. Fiquei desiludida. E quando a chance de ser amada outra vez surgiu, eu evitei e fugi. Deixei de confiar nas pessoas. Tinha medo de ser decepcionada de novo. Às vezes a gente confia numa pessoa e só depois percebe que ela esqueceu de você. Eu tenho medo de confiar em alguém e sofrer.” O diálogo entre eles continua. Então, Kevin faz uma promessa que será cumprida no final do filme: “— Eu vou me lembrar de não esquecer da senhora”. Aposto como você vai querer assistir ao filme para ver o final. Eu já perdi as contas de quantas vezes assisti a esse filme.

 

Essa fala de Kevin contém uma mensagem para nós. Talvez possamos fazer uma promessa também. Prometer, toda vez que olhar para uma pessoa em situação de rua, não olhar com pré-conceito, não achar que todos eles são marginais. Não sabemos como eles foram parar ali. Ninguém quer uma vida de sofrimento. São seres humanos como nós. Eles precisam de uma oportunidade, de alguém que não se esqueça de que eles existem.

 

Referências:

1. Ficha técnica do filme disponível em: https://filmow.com/esqueceram-de-mim-2-perdido-em-nova-york-t452/ficha-tecnica/. Acesso em: 20 ago. 2024.

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