Alice Rosa Cardoso é arquiteta e urbanista no Centro de Planejamento Oscar Niemeyer da Universidade de Brasília. Doutoranda em Projeto e Planejamento Urbano na UnB.

Alice Rosa Cardoso

 

O Campus Darcy Ribeiro, tendo se consolidado de forma diferente da proposta original de Lucio Costa, de 1962, preservou parte de suas características, em que se destaca seu caráter bucólico, tendo se tornado um campus-parque. Desde a concepção do Plano Piloto da Universidade de Brasília, se apresentava uma proposta urbanística que deixava a parte central da gleba A como um parque aberto à população. Um dos característicos mais nobres do plano de Lucio Costa para a Universidade de Brasília é o de deixar livre todo o conjunto dos terrenos como um vasto parque aberto à população e que será tratado, paisagisticamente, com o cuidado de preservar a beleza da vegetação original, enriquecendo-a através do destaque de cada gênero florístico, mediante sua concentração em uma área especial (UnB, 1962, p. 23).

 

No plano, as vias conformavam, bem no meio do campus, uma vasta área verde em torno da qual se situariam os edifícios dos institutos, tornados, posteriormente, no Instituto Central de Ciências, que “abraça” o parque, na releitura de Niemeyer. Conforme o plano, a leste do parque, mais próxima ao Lago Paranoá, estaria a Praça Maior, quadrangular, que reuniria um núcleo de edifícios significativos para a universidade e para a nova capital: Reitoria, Biblioteca, três Museus, Editora, Rádio e a famosa Aula Magna. Esta, seria um auditório de grande porte, relevante para uma universidade e uma cidade que nasciam.

 

De volta ao parque central, a área recebeu um projeto paisagístico em 1971, concebido por Fernando Chacel e nomeado como Praça Maior (Cardoso, 2019, p. 106). Hoje, o lugar se caracteriza por um parque densamente arborizado no coração do campus. A vegetação desenvolvida conseguiu efetivar o caráter bucólico pretendido desde a concepção de Lucio Costa, e tornou-se uma imagem familiar para a comunidade universitária.

 

O projeto paisagístico, entretanto, não pôde ser implantado por completo. O mobiliário previsto foi cancelado, já que sua execução se deu em plena ditadura militar, quando não se autorizavam espaços de integração universitária. Apesar disso, o Teatro de Arena foi concretizado. Um verdadeiro feito heroico para a época. Hoje, ele é intensamente utilizado pela comunidade universitária, seja na divulgação dos resultados vestibulares, seja em eventos artístico-culturais, e no dia a dia.

 

Para além da paisagem que encanta com seus belos guapuruvus, ipês brancos, paus-ferro, frutíferas e diversas outras espécies, bordeada pelos icônicos ICC, Reitoria, Biblioteca e Beijódromo, a Praça Maior é o principal espaço livre da universidade e é apreciado pela comunidade, em especial pelos estudantes. O espaço é aproveitado em inúmeras atividades, como rodas de conversa, violão, piquenique, leitura, descanso, namoro, alongamento, cochilo, solitude etc. São pessoas que procuram justamente um local tranquilo, em meio à atribulada vida universitária, afastado dos ruídos urbanos do campus, da cidade, ou de suas residências, em que se pode apreciar o entardecer, o som de pássaros, do vento nas folhas, e com sorte vislumbrar o lago. O coração do campus é verde, não de concreto ou aço, e resguarda vivências e memórias de toda uma comunidade.

 

Ele precisa ser enxergado como um lugar consolidado, não como espaço em que falta um edifício para se tornar algo. Precisa ser resgatado em seu cotidiano, em sua essência, e, assim, ter seus recantos – enfim – trabalhados, acessíveis, com aqueles detalhes tão caros, que o tornariam ainda mais aprazível e propício a se tornar um verdadeiro local de integração da comunidade. Bancos, mesas, redários etc., tudo de qualidade, bem desenhado, até lúdico, como a universidade merece.

 

Ou será mesmo que a demanda é por um grande auditório, às custas de um generoso bosque, em tempos de eventos híbridos e possíveis pandemias? Quantas creches ou moradias estudantis poderiam ser construídas com os mesmos recursos?

 

Fica por fim um convite: você já deu uma volta na Praça Maior? Pois vá!

 

Referências

UnB. Plano Orientador da Universidade de Brasília. Brasília: Editora UnB, 1962. Acessível em: https://unb.br/images/Noticias/2019/Documentos/PDE_UnB_Plano_Orientador_UnB_1962_LQ.pdf

CARDOSO, Alice Rosa. A Praça Maior da Universidade de Brasília: arquitetura paisagística e cotidiano. 2019. xii, 282 f., il. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade de Brasília, Brasília, 2019. Acessível em: http://www.realp.unb.br/jspui/handle/10482/3610

 

 

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