Isaac Roitman
Entre 1,8 milhão e 300 mil anos atrás, o Homo erectus, um ser com o raciocínio mais evoluído, descobriu que se fizesse fricção entre duas pedras, esfregando uma na outra, ele conseguia produzir uma faísca, que se colocada em algum lugar de fácil combustão, pegaria fogo. Segundo pesquisas arqueológicas, os povos primitivos começaram a produzir fogo no período neolítico.
Ao dominar essa entidade, foi possível se aquecer, proteger-se dos predadores, combater a escuridão e ainda cozinhar os alimentos. Como nenhuma outra criatura do nosso planeta, conseguimos usar a nosso favor um fenômeno natural. Esses avanços permitiram a dispersão geográfica humana, inovações culturais e mudanças na dieta e no comportamento.
Um grande salto no desenvolvimento tecnológico ocorreu justamente quando se desenvolveu a máquina a vapor, dando início à Revolução Industrial, no final do século 18. Nesse caso, o principal combustível era o carvão e, a partir da sua queima, produzindo fogo, foi possível transformar a energia liberada em outra, com capacidade de realizar trabalho – ou seja, impulsionar máquinas e equipamentos a fazerem tarefas que antes dependiam da força bruta humana.
O uso do fogo pelo homem foi considerado por Charles Darwin a descoberta mais importante da humanidade depois da linguagem e estaria, assim, inteiramente associado a questões de sobrevivência com seu uso se desenvolvendo de maneira gradativa a partir das reais necessidades enfrentadas no ambiente em que os hominídeos viviam.
Ao longo da história, inúmeros incêndios dos mais variados níveis de devastação foram registrados. Grandes incêndios em várias cidades no planeta foram registrados nos últimos séculos. No Brasil, grandes incêndios urbanos provocaram centenas de mortos, entre eles o edifício Andraus (1972), edifico Joelma (1974) e boate Kiss (2013). Esses incêndios poderiam ter sido evitados se tivessem um plano eficiente de prevenção.
Com a introdução da agricultura, as queimadas passaram a ser utilizadas para “limpar” o terreno após a derrubada da mata. Ainda é assim. Melhor seria se elas fossem restritas e controladas. Porém isso está longe de acontecer.
Na última década, o Brasil bateu recorde de focos de calor. Os estragos ocasionados pela interferência humana indevida na natureza, aliados a condições climáticas desfavoráveis, são alarmantes, como vimos acontecer recentemente na Amazônia e no Pantanal. Os extremos climáticos, ou seja, secas prolongadas ou chuvas mal distribuídas, favorecem os incêndios florestais. Estes, por sua vez, emitem grandes quantidades de gás carbônico na atmosfera, acelerando o aquecimento global e reforçando as condições adversas para que o fogo se alastre com facilidade.
No Brasil, estamos testemunhando grandes incêndios, sobretudo em nossas florestas. Evidências apontam que esses incêndios são provocados. A ministra Marina Silva afirmou que “quase 60% do país corre risco direto de pegar fogo com terrorismo climático”.
Os efeitos dessa catástrofe serão imediatos – poluição do ar causando doenças respiratórias – e mediatos – abastecimento de água potável. A poluição do ar causa cerca de 7 milhões de mortes por ano no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde. Especialistas já falam em redução da grande conquista que é o aumento da expectativa de vida. A saúde de todos nós depende da saúde do planeta e de um ar mais limpo para respirar.
É preciso agir com eficiência no combate e prevenção das chamas. É pertinente lembrar a letra da música É o apocalipse, de Lucely Uchoa, que diz: “Quando esse céu azul ficar enegrecido / com milhões de nuvens negras poluindo o ar / esse mundo que hoje canta se ouvirá gemido / se ouvirá se ouvirá / quando o sol escurecer e não der mais brilho e não for simplesmente apenas uma eclipse / quando isso acontecer é tempo de clamor / é tempo de dor, é apocalipse.”
Publicado originalmente, em 18 de setembro, no portal Monitor Mercantil.
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