OPINIÃO

Ana Sheila Fernandes Costa é professora do Departamento de Políticas Públicas e Gestão da Educação da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília. Coordena o Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Formação e Atuação de Professores/Pedagogos (GEPFAPe) e o Observatório da Educação Básica da Faculdade de Educação da UnB (ObsEB).

Ana Sheila Fernandes Costa

 

Recebi, com alegria, a incumbência de homenagear meus colegas professores e professoras neste 15 de outubro. Gostaria, portanto, de iniciar meu texto com o relato de um evento que me marcou muito nas últimas semanas. Na ocasião da entrega do 2º Prêmio Paulo Freire de Educação, pude vivenciar o êxtase dos professores e professoras que, com suas famílias, lotaram a Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) para serem homenageados por projetos incríveis, desenvolvidos em escolas públicas e Instituições de Ensino Superior (IES) de todo o DF.

 

A euforia contagiante dos professores, alunos, funcionários e demais presentes me deixou muito contente e emocionada. Por um lado, ficou evidente algo que já conhecemos sobre as instituições de ensino públicas: o potencial criativo, a dedicação, a qualidade e a seriedade com que os profissionais atuam, e o quanto é necessário dar visibilidade e compartilhar essas iniciativas com toda a comunidade. Chamou-me a atenção a alegria, o afeto, a cumplicidade com que aqueles professores e professoras, de forma individual ou em grupo, ouviam seus projetos e nomes serem citados e eram parabenizados. Quero deixar claro que o foco aqui não está na premiação em si, mas no que aquele momento representou para os participantes homenageados: o reconhecimento público de árduo trabalho cotidiano, expresso naqueles projetos.

 

Por outro lado, esse momento me fez refletir sobre as condições em que essas ações estariam se desenvolvendo nas diferentes escolas e instituições participantes. Esclareço que a situação da homenagem é ilustrativa e, embora tenha ocorrido localmente, a reflexão que elaboro neste espaço se estende a todos os professores e professoras que atuam ou já atuaram na educação.

 

Precisamos considerar que essas iniciativas são produzidas em paralelo às atividades escolares cotidianas, aulas, coordenações etc. Os projetos em si, bem como as demais atividades ministradas por esses professores e professoras são a síntese de uma preparação que teve início ainda na sua formação inicial, ou mesmo antes; e que prossegue em sua formação continuada, realizada no interior das escolas ou em espaços institucionalizados ou, muitas vezes, em cursos pagos com recursos próprios.

 

Portanto, celebrar o dia dos professores e professoras é considerar que aquele momento de homenagem constituiu uma síntese de inúmeras atividades realizadas diariamente pelo professor, cujo tempo se divide entre o trabalho escolar e os momentos com a família, entre reuniões e o preenchimento de relatórios intermináveis, entre horas de planejamento e a preparação para a avaliações internas e externas... Essas ações ocorrem simultaneamente às lutas incessantes por valorização, melhores condições de trabalho e salários.

 

Quero dizer com tudo isso que o momento da aula ou a culminância de um projeto são a expressão de muito preparo, formação intelectual e dedicação. É uma catarse, no sentindo atribuído por Saviani, de lutas travadas há décadas pelo movimento docente, com avanços e retrocessos. Portanto, o reconhecimento desses profissionais da educação precisa ser diário, por meio de ações que permitam que eles trabalhem e vivam com dignidade.

 

A intenção deste texto é, sem dúvida, prestar a merecida homenagem e celebrar o dia dos professores e professores nas escolas, em espaços não escolares, nas universidades e IES, e daqueles que, após décadas de trabalho, podem usufruir do descanso que merecem e ao qual têm direito. Entretanto, devemos recordar que esta precisa ser a celebração da valorização, do reconhecimento e do respeito aos professores e professoras por seu compromisso ético, político e democrático, e por sua imprescindível contribuição na garantia do direito à educação de milhões de crianças, jovens e adultos pelo Brasil.

 

É um dia para reafirmar que os professores e professoras deste País têm o direito, como determina a nossa legislação educacional, a condições de trabalho dignas, salários valorizados, planos de carreira, jornadas de trabalho em escola única. Têm, ainda, direito a formação inicial e continuada respaldadas em fundamentos filosóficos, científicos e artísticos, com oportunidades para continuarem se desenvolvendo. Precisamos dar mais atenção à saúde e ao bem-estar desses profissionais.

 

[...] a tarefa do ensinante, que é também aprendiz, sendo prazerosa é igualmente exigente. Exigente de seriedade, de preparo científico, de preparo físico, emocional, afetivo. É uma tarefa que requer de quem com ela se compromete um gosto especial de querer bem não só aos outros, mas ao próprio processo que ela implica. É impossível ensinar sem essa coragem de querer bem, sem a valentia dos que insistem mil vezes antes de uma desistência. É impossível ensinar sem a capacidade forjada, inventada, bem cuidada de amar (Freire, 1997, p. 8).

 

Finalizo, com um abraço fraterno aos colegas professoras e professores e com essa mensagem de nosso patrono Paulo Freire que, de forma poética, descreve nosso trabalho.

 

Referência:

FREIRE, Paulo. Professora, sim; tia, não: cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Editora Olho d`Água, 1997

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