OPINIÃO

 

Érica Torres de Almeida Piovesan é professora do curso de Saúde Coletiva na Faculdade de Ceilândia da Universidade de Brasília (FCE/UnB). Especialista em Saúde Coletiva pela UnB.

 

 

Luiza de Marilac Meireles Barbosa é professora do curso de Saúde Coletiva na Faculdade de Ceilândia da Universidade de Brasília (FCE/UnB). É médica sanitarista. Segunda tesoureira da gestão atual da Diretoria da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (Adunb).

 

 

Patrícia Maria Fonseca Escalda é professora do curso de Saúde Coletiva na Faculdade de Ceilândia da Universidade de Brasília (FCE/UnB).

 

 

Érica Torres de Almeida Piovesan, Luiza de Marilac Meireles Barbosa e Patrícia Maria Fonseca Escalda

 

A Universidade de Brasília (UnB) tem se destacado ao longo dos anos por seu compromisso com a inclusão e a diversidade em seu ambiente acadêmico. A instituição deu mais um passo significativo nessa direção ao lançar o Processo Seletivo para preenchimento de vagas extraordinárias destinadas às Pessoas Idosas nos Cursos de Graduação. Essa iniciativa, além de inovadora, reflete a preocupação da universidade em proporcionar educação de qualidade ao longo de toda a vida.

 

Como professoras do curso de Saúde Coletiva, após concluir o primeiro semestre da disciplina de Epidemiologia Descritiva, com a participação dos primeiros estudantes 60+ em turmas regulares, passamos por uma experiência verdadeiramente inspiradora. Desde o início, sabíamos que a inclusão de pessoas idosas nas aulas seria desafiadora, mas o que não prevíamos era o quanto essa vivência se tornaria enriquecedora tanto para os discentes quanto para nós, docentes.

 

A presença dos estudantes 60+ trouxe uma nova dinâmica para as aulas. Eles chegaram com uma bagagem de vida acumulada impressionante, como também com uma vontade genuína de aprender, o que impactou diretamente o ambiente de sala de aula. A interação entre os estudantes de diferentes faixas etárias foi um dos pontos altos do semestre. O compartilhamento de experiências entre os mais jovens e os mais velhos criou um espaço de aprendizado mútuo, no qual todos tinham algo a ensinar e a aprender. Vygotsky defendia que as trocas entre gerações são fundamentais para o desenvolvimento cognitivo, pois promovem um aprendizado colaborativo e enriquecem o crescimento intelectual de todos os envolvidos1.

 

Além disso, foi gratificante observar como esses estudantes se integraram aos demais, formando laços de amizade e colaboração que ultrapassaram as barreiras geracionais. A troca de vivências, aliada ao conteúdo técnico da epidemiologia, resultou em debates mais ricos e em uma compreensão ampliada dos temas abordados nos levando a explorar temas sob perspectivas diferentes, abrindo novas possibilidades de aprendizado para todos.

 

A experiência está alinhada com a Política do Envelhecer Saudável, Participativo e Cidadão da Universidade de Brasília, instituída pela Resolução CDH nº 001/2023, da Câmara de Direitos Humanos da UnB, com o intuito de promover o envelhecimento saudável, participativo, digno e cidadão, que segue os princípios da Década de Envelhecimento Saudável nas Américas (2021-2030), promovida pela OPAS/OMS. Essa política visa combater o idadismo e promover uma cultura de envelhecimento saudável e digno, reunindo esforços da sociedade civil, governos, academia e setor privado para melhorar a qualidade de vida das pessoas idosas. Com o envelhecimento populacional em destaque globalmente, a OMS estima que até 2050 a população mundial com mais de 60 anos chegará a 2 bilhões, e o Brasil será o quinto país mais idoso em 2030. A UnB já reflete essa realidade, com um número crescente de servidores e estudantes idosos em seus quadros.

 

Concluímos esse primeiro semestre com a certeza de que a inclusão de estudantes 60+ não só é viável, como também extremamente benéfica para todos os envolvidos. A experiência reforçou o valor da educação ao longo da vida e mostrou que o ambiente acadêmico se torna muito mais completo e diversificado quando abrange pessoas de todas as idades. Estamos entusiasmadas para continuar essa jornada nos próximos semestres, certas de que ainda há muito o que aprender com essa convivência intergeracional.

 

O impacto positivo dessa experiência nos faz acreditar que estamos no caminho certo, promovendo uma educação inclusiva, que respeita e valoriza a diversidade de idades e experiências acumuladas. Estamos com uma alta expectativa para o próximo semestre, sabendo que os desafios vão continuar, entretanto, mal podemos esperar para ver os desdobramentos dessa iniciativa que, sem dúvida, já deixou uma marca significativa na nossa trajetória acadêmica.

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