OPINIÃO

Francisco Antonio Coelho Júnior é doutor em Psicologia Social, do Trabalho e Organizações pela Universidade de Brasília. Professor do Departamento de Administração e no Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA) da UnB.

Francisco Antonio Coelho Jr.

 

Inúmeros são os desafios e as oportunidades que se impõem na administração pública do século XXI. Administração pública, aliás, é um termo muito vasto, amplo e resumido do que busca simplificar um mundo tão singular, e díspar, de realidades. Lidar com toda a sorte de idiossincrasias (técnicas e políticas, federais, estaduais/distritais e municipais, típicos da realidade de cada órgão público), que acontecem no dia a dia do servidor público, implica reconhecer a importância de se ter trabalhadores motivados, engajados e capacitados a desempenharem o seu trabalho. Muitas reflexões podem ser suscitadas. Arranjos do desenho do trabalho precisam ser mais bem dimensionados, ainda que o paradigma jurídico/normativo da administração pública brasileira seja capaz de engessar/eliminar algumas importantes tentativas de se incorporar o novo. A autonomia, responsável, precisa ser estimulada, da mesma forma que a capacidade de profissionalização dos atendimentos e serviços prestados.

 

O perfil do servidor público, nas suas mais distintas esferas de atuação, precisa ser continuamente mapeado e gerenciado. A expressão de competências técnicas, comportamentais e sócio-emocionais, no trabalho, predizem desempenho. Gostar do que se faz impacta no resultado do trabalho alcançado. Sentir-se pertencendo a uma equipe de trabalho gera mais engajamento. Gestão de crises, e de conflitos nas equipes de trabalho, com foco na diversidade, é fundamental. O clima organizacional e social da equipe são imprescindíveis (como fica a gestão do clima organizacional em modalidades híbridas, e remotas, de teletrabalho?) Ter suporte organizacional é essencial. Carga horária equilibrada, com unidade de comando tecnicamente estabelecida (melhorar o perfil de ocupação dos cargos de alta liderança na gestão pública, comissionados, é essencial), com responsabilidades objetivamente definidas, se faz premente. Definir o que se entende por produtividade é, também, fundamental. Sentir-se valorizado, reconhecido e até desafiado no exercício das atribuições, também, impacta positivamente na saúde mental e bem-estar do trabalhador.

 

O ser humano se move por desafios. Promover equilíbrio pessoal e profissional, especialmente na dinâmica familiar, é essencial. Ter programas de planejamento para a aposentadoria saudável se faz premente, numa sociedade envelhecida. Escuta ativa é fundamental. Ter lideranças mais bem qualificadas, capacitadas, engajadas e humanizadas, faz com que a servidão pública seja feita de forma transformadora e de qualidade/eficiente. Resolver problemas, com qualidade e celeridade, é essencial. Os processos decisórios podem ser treinados para serem melhorados. Gerenciar a (sensação de) sobrecarga, com distribuição mais justa, e real, do trabalho, é essencial. Gerenciar impactos na vida mental do trabalhador público, especialmente aqueles que estão atolados em dívidas financeiras (são muitos, infelizmente), é condição necessária à sua qualidade de vida. Inclusive, estar atento a sinais de mudança comportamental, que podem levar a consequências catastróficas quanto à tentativa de autoextermínio, por exemplo, especialmente junto a profissionais de segurança pública, é muito importante.

 

A diversidade geracional, também, se impõe no cerne do debate sobre o grau de atratividade para se tornarem servidores públicos: qual é o perfil que a atual administração pública brasileira, absurdamente caleidoscópica na sua miríade de realidades, vem atraindo? Adaptar modalidades de trabalho, do presencial ao remoto, passando pelo híbrido, resolve que tipo de problema? Ou é visto como parte da solução? O que desperta a motivação das gerações mais recentes, nascidas na realidade e com mentalidade digital, para se tornarem servidoras públicas? Que tipo de perfil motivacional, e de competências, já se faz necessário, para que o servidor público se adapte ao uso eficaz das ferramentas de inteligência artificial? Ou ainda continuaremos a chamar de inteligência artificial o uso de planilhas avançadas, as mais sofisticadas possíveis, em Excel, ou simplesmente reduzindo o potencial da inteligência perguntando, de forma rasa, ao ChatGPT, à Gemini ou a qualquer outra ferramenta, por exemplo? Como melhorar a qualidade (e quantidade?) do trabalho? Já sabemos que as ferramentas de tecnologia aumentam a transparência e impactam na inovação e no accountability, especialmente o societal. Mais do que alimentar sistemas, inclusive, é atualizar e tornar tais informações compreensíveis aos olhos dos cidadãos. A atual servidão pública, em pleno século XXI, já adaptou seus paradigmas e mecanismos de gestão e governança, em função de todo o big bang tecnológico que estamos sendo bombardeados dia após dia? As estruturas organizacionais públicas precisam ser repensadas (já estão sendo?) em função destes condicionantes do século XXI? A administração pública de hoje é assentada nos mesmos paradigmas de 30, 40 anos atrás?

 

Pessoas representam o principal ativo intangível das organizações. Servidão pública permite que se alcancem objetivos ao ideal de sociedade como um todo. Sem organizações públicas, alguns serviços não seriam prestados à toda sociedade brasileira, especialmente nos rincões deste paradoxal Brasil. Ao servidor público, felicitando-o efusivamente pelo dia, um dia de reflexões e de um pensar crítico, proativo e resiliente: como a gente pode melhorar, ainda mais, a prestação dos nossos serviços? Como as organizações podem prover melhores condições de trabalho? Como mensurar o valor agregado de um serviço público? Mais do que reduzir indicadores de violência na sociedade, por exemplo, o tanto que estes indicadores podem ser vinculados à promoção da sensação de segurança, na sociedade como um todo? Como o resultado do desempenho de um serviço em específico impacta na melhoria da qualidade de vida da sociedade? Por isso, fazer pesquisa e ciência é tão importante! As ações mais eficazes de gestão pública costumam ser as mais simples e objetivas. Uso ótimo dos recursos existentes, impulsionado pelo real interesse da administração pública, com qualidade e celeridade, são fundamentais. A sociedade exige, quer e precisa. O espírito público agradece, e reconhece!  

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