Kleber Aparecido da Silva
“Me movo como educador, porque, primeiro, me movo como gente”. Paulo Freire (Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996).
Hoje, dia 13 de novembro de 2024, é conhecido tanto no Brasil quanto no exterior como o “Dia da Gentileza”. Mas, o que é gentileza (em grego καλοσύνη)? A palavra e/ou construto “gentileza” está intimamente relacionada com a humildade, a mansidão, a brandura e a razoabilidade. “Humildade”, por sua vez, tem uma (inter)relação com a avaliação que a pessoa faz de si mesma; “mansidão”, com a atitude da pessoa para com os modos de agir de Deus/autoridade divina e do homem com respeito a ela mesma, e “gentileza” (meiguice, suavidade), com o tratamento que ela dispensa aos outros. A gentileza tem, segundo informações obtidas no site jw.org, uma forte ligação com a brandura de disposição ou de modos. Ser “gentil” é, em síntese, suavizar, apaziguar ou aplacar, ou acalmar seja o que for que a pessoa esteja fazendo, tal como falando, tocando música, agindo em certo assunto etc.
Contudo, na sociedade do cansaço marcada pela violência, descrença, abandono, desespero, desamparo, desumanização e exploração, muitas vezes nós esquecemos de manifestar “gentilezas” nos tratos diários que temos e mantemos com as pessoas – sejam nos familiares, amigos e colegas. Podemos demonstrar “gentilezas” de várias formas: ao abrir a porta para uma pessoa; ao sorrir a quem te sorri; dar passagem no trânsito a quem tem pressa. Ser gentil é, a meu ver, ter um comportamento educado, amável, elegante e cordial com todo mundo, sem distinção/preconceito. Essa atitude inspiradora transforma, faz com que os outros também sejam gentis e provoca uma corrente do bem!
O que eu proponho neste artigo é que (re)pensemos em formas práticas de contribuir com a mudança de uma mentalidade egocêntrica e que, por muitas vezes, evidencia a colonialidade que temos e que mantemos. Para tal intento, faz-se mister a (re)construção de um processo educativo crítico em que o/a indivíduo/a compreenda as suas identidades múltiplas e fragmentadas e conceba o(s) outro(s) como um ser necessário para a sua (re)construção identitária como cidadão planetário, que sabe dos seus direitos e exerce os seus deveres, dentre eles, o de respeitar o outro, o próximo e de agir com gentileza. Pois conforme já dizia o grande líder sul-africano Nelson Mandela: “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar”. Em outras palavras, eles precisam ser ensinados a serem gentis.
Sendo assim, é papel da família, da escola e da faculdade/universidade (re)pensar em mecanismos práticos para que as pessoas sejam “gentis”. Para isto, precisamos de: i) aprender a desaprender para reaprender; ii) reaprender pluriversalmente a partir de outras bases; iii) desnaturalizar e desequilibrar singularidades e universalidades de pensamento; iv) desaprender verdades; construtos de mentalidade colonial; v) desenvolver o pensamento crítico; vi) compreender que desaprendizagens fomentam reaprendizagens quanto a nossas formas de pensar, saber, sentir e estar no mundo.
A meu ver, nós precisamos de (re)pensar criticamente maneiras práticas de implementar práticas de “gentilezas” e de respeito ao outro dentro de nossas próprias casas e não apenas na escola ou universidade. Pois conforme já dizia o geógrafo Milton Santos: “A força da alienação vem dessa fragilidade dos indivíduos, quando apenas conseguem identificar o que os separa e não o que os une”. E para isto temos que (re)pensar a forma colonial que fomos ensinados a tratar o próximo! Precisamos ser gentis. Precisamos ser humanos. Precisamos ser “gente”, “gente” como preconizava Paulo Feire. Em suma, que desconstruamos a pedagogia da dor, da violência, da descrença, do abandono, do desespero, do desamparo, da desumanização e da exploração, e consolidemos/desenvolvemos a pedagogia da gentileza na família, na escola e na nossa sociedade, pois “gentileza” gera “gentileza”.