Cesar Koppe Grisolia
Com referência ao dia 10 de novembro, em que é comemorado o Dia Mundial da Ciência pela Paz e pelo Desenvolvimento, vamos destacar o papel da ciência feita por cientistas brasileiros. Aproveitar a oportunidade da data para homenagear cientistas da Universidade de Brasília que contribuíram para a saúde e o bem estar da humanidade.
A história da insulina recombinante e a contribuição dos cientistas da Universidade de Brasília. Na década de 1980, o professor Spartaco Astolfi Filho, juntamente com seus colegas Cezar Martins Sá (em memória) e Beatriz Dolabela, conseguiram fazer a clonagem do gene humano da insulina em uma bactéria, a Escherichia coli. Em parceria com uma Empresa de Minas Gerais, a Biobrás, cultivaram essas bactérias recombinantes em fermentadores de 2 mil litros, e assim passaram a disponibilizar a insulina humana para o mercado mundial. Ressalta-se que, antes da tecnologia do DNA recombinante, os pacientes com diabetes faziam uso da insulina suína. Necessitava-se de 80 Kg de pâncreas suíno para se extrair um miligrama de insulina e, além disso, muitos pacientes diabéticos não respondiam à insulina suína. A insulina humana recombinante, conhecida como humulina, é muito mais eficaz e segura. Essa biotecnologia foi patenteada pela Biobrás/UnB, e até hoje o Instituto de Ciências Biológicas recebe os direitos autorais dessa patente, na forma de royalties.
O exemplo mais marcante da atualidade, que demonstra a contribuição da ciência para a humanidade, são as novas tecnologias aplicadas ao desenvolvimento das vacinas, como as vacinas de DNA, e a rapidez de sequenciamento dos genomas virais, na detecção de novas cepas mutantes. Isso permitiu o desenvolvimento de vacinas específicas para cada cepa viral mutante. Assim, evitou-se que a tragédia da pandemia da covid-19 tivesse uma dimensão muito maior. O rápido desenvolvimento das vacinas contra as diferentes cepas virais trouxe-nos de volta à normalidade.
Todo o desenvolvimento biotecnológico que vivenciamos hoje nasceu nas bancadas dos laboratórios dos institutos de pesquisa e nas universidades, que posteriormente foram incorporados pelas indústrias, que então se expandiu para todas as sociedades, e nesse processo cabe muito bem uma reflexão bioética, mostrando o lado ambíguo da ciência. As grandes corporações transnacionais se apropriam dos avanços científicos e tecnológicos, para serem usados como instrumentos de controle, riqueza e poder marginalizando muitas sociedades, um tipo de colonialismo tecno-científico. A mesma energia nuclear que é usada na radioterapia do câncer também é usada na construção armas de destruição em massa. A mesma técnica de clonagem gênica que produziu a insulina (humulina) para a humanidade pode ser usada para construir bactérias recombinantes altamente patogênicas e multirresistentes aos antibióticos, isto é, no bioterrorismo. O avanço tecno-científico está presente nas armas de guerra mais sofisticadas e letais.
Ao contrário, o desenvolvimento científico não trouxe paz para a humanidade, muito menos aliviou a fome e a miséria, mas sim acentuou as desigualdades. Algumas sociedades atingiram alto padrão de desenvolvimento utilizando-se dos avanços da ciência, dentro de uma racionalidade capitalista de excesso de produção e de consumo, tendo como consequência o esgotamento dos recursos naturais e a liberação de gases de efeito estufa, contribuindo para o aquecimento global.
Os avanços da ciência sempre trouxeram grandes benefícios para a humanidade, que levou ao aumento da expectativa de vida e permitiu domínio do homem sobre o planeta, mas, por outro lado, instrumentalizou esse mesmo homem com um poder paradoxal, pois, ao mesmo tempo em que apresenta propostas para o alívio de grandes males da humanidade, mostra o seu lado obscuro sobre a destruição da biodiversidade e a opressão sobre populações vulneráveis. Os benefícios da ciência são inquestionáveis, o que temos a questionar é a natureza humana no uso do conhecimento científico, que traz no mesmo bojo os requintes da bondade e da perversidade.
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