Érica Quinaglia Silva, Júlio Barêa Pastore e Fernanda Natasha Bravo Cruz
Longe, longe, ouço essa voz
Que o tempo não vai levar
Precisa gritar sua força, ê, irmão, sobreviver
A morte ainda não vai chegar se a gente, na hora de unir
Os caminhos num só, não fugir, nem se desviar
(Milton Nascimento e Fernando Brant)
Neste Dia Internacional dos Direitos Humanos, a Universidade de Brasília demonstrará, mais uma vez, seu compromisso com a construção de um país mais justo, solidário e digno. A inauguração do Jardim Sentinela, nas proximidades da Colina, representa a intenção de honrar o legado dos mais de 700 mil brasileiros que perderam suas vidas para a covid-19. O Jardim, que se propõe a restaurar o bioma do cerrado por meio do plantio de copaíbas, espera contribuir para ressignificar a perda de tantos entes queridos. Essa agenda tão sensível, que envolve lutos e afetos, traz consigo um sentido que não pode deixar de ser também político.
A pandemia representou, no país, o alargamento de sua crise social, política e econômica, e teve como cenário um projeto político orientado pelo negacionismo e o consequente desprezo pelas orientações de segurança sanitária. Deliberadamente, os atores políticos de extrema-direita que ocupavam os mais altos cargos da República na ocasião criaram contextos de propagação do vírus. Promoveram desincentivo ao uso de máscaras, incitaram a participação em aglomerações e o uso de medicamentos inadequados, atrasaram a compra de vacinas. O desfecho desse descrédito ao conhecimento científico foi a morte de quatro vezes mais pessoas que a média mundial, com a triste segunda colocação no ranking de países com mais mortes devido à covid-19.
O Jardim Sentinela se coloca como símbolo para a memória desse momento tão brutal de nossa história que, apesar de recente, corre o risco do esquecimento. Criado quase cinco anos após o início da pandemia, este projeto registra a necessidade de implementação de políticas de memória e reparação como respostas ao sofrimento e aos efeitos prolongados da covid-19. Embora possa demorar alguns anos, as mudas do Jardim florescerão. Mesmo com a passagem inexorável do tempo, a memória não morrerá.
A paz e a possibilidade de contemplação que o ambiente proporcionará são a face do amor que motiva o projeto. E é esse mesmo sentimento, tão potente, que engendra o mote de tantos movimentos por justiça: do luto à luta. Assim, a outra face pretendida para o ambiente é que a reflexão proporcionada nos caminhos do Jardim em tempos mais serenos mantenha o senso de repúdio às condutas anticientíficas que violaram tantos direitos para que nunca mais aconteça.
No dia 10 de dezembro, às 9 horas, prestigie a inauguração do Jardim Sentinela no Campus Darcy Ribeiro da UnB. O projeto da UnB tem apoio do CNPq, da Associação de Vítimas e Familiares de Vítimas de Covid-19 (AVICO) e do Coletivo Bordaluta. Conheça a localização exata do memorial físico e faça a sua homenagem no memorial virtual.
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