Helena Ferreira Moura
Nos últimos anos, a saúde mental dos líderes políticos tem sido amplamente debatida e, em alguns casos, usada como arma política. Controvérsias como o apelido “Sleepy Joe” (Joe Sonolento) dado a Joe Biden e o retrato de Javier Milei, o presidente argentino apelidado de “el loco” (o louco), ilustram como as questões de saúde mental podem ser distorcidas e exploradas politicamente. Recentemente, publicamos um artigo na revista The Lancet Regional Health – Americas, intitulado “’Sleepy Joe’, ‘el loco’, and evolving debates about mental health and democratic leadership in the Americas” ('Sleepy Joe', 'el loco' e a evolução dos debates sobre saúde mental e liderança democrática nas Américas) a respeito dessa tendência crescente.
No artigo, exploramos os prós e os contras da introdução de avaliações psiquiátricas obrigatórias para líderes políticos, alertando para os riscos de estigmatização e manipulação. A principal mensagem é que, embora essas medidas possam trazer mais transparência, elas também exigem medidas de proteção robustas para evitar abusos e podem ser influenciadas por expectativas socioculturais em diferentes jurisdições. O fato do artigo ter sido publicado em uma revista prestigiosa mostra o interesse da comunidade científica sobre esse tema.
Sem o contexto adequado, os eleitores podem subestimar o impacto dos transtornos mentais comuns ou considerar um diagnóstico psiquiátrico suficiente para desqualificar um líder. Portanto, destacamos que um diagnóstico de transtorno mental, por si só, não impede uma pessoa de governar adequadamente. Em contrapartida, a avaliação de funções cognitivas tem maior relevância. Nesse sentido, fazemos algumas sugestões e usamos o exemplo das avaliações de rotina realizadas em pilotos de avião.
Por fim, o artigo tem o objetivo de contribuir para o debate público sobre a importância da saúde mental na política. Ao trazer esse tópico para discussão, esperamos estimular questões sobre transparência e responsabilidade em cargos de liderança, respeitando as diferenças culturais de cada país e evitando estigmatizar os transtornos mentais.
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