OPINIÃO

Rozana Reigota Naves é reitora da Universidade de Brasília e professora do Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas (LIP). Doutora em Linguística pela UnB.

Rozana Reigota Naves

 

A frase que dá título a este artigo é atribuída a Nina Simone, uma das mais belas vozes do jazz norte-americano – cantora, compositora e pianista, mulher negra, ativista dos direitos civis dos negros naquele país. 


Neste 8 de março (8M), Dia Internacional da Mulher, não é demais lembrar a versão adaptada do título: as mulheres podem ser o que elas quiserem. Com essas palavras, reafirmamos o espaço da mulher enquanto ser essencial da tessitura social, política, econômica e científica no mundo.  Reconhecemos, também, a autonomia da mulher sobre o seu corpo e a sua vida. Sobre essa completude, pontuou Clarice Lispector: “Sou uma mulher, sou uma pessoa, sou uma atenção, sou um corpo olhando pela janela. Talvez seja isso que se poderia chamar de estar viva.” 


O 8M simboliza a luta e as conquistas das mulheres operárias russas, na greve de 1917, por melhores condições de trabalho e de vida. Neste ano de 2025, a data é celebrada na mesma semana em que o cinema brasileiro foi consagrado, pela primeira vez, com a premiação máxima do circuito cinematográfico, recebendo o Oscar de melhor filme internacional. Ainda Estou Aqui levou ao mundo, pela expressão dramatúrgica de duas mulheres – Fernanda Torres e Fernanda Montenegro –, a história de vida de uma outra mulher, Eunice Paiva, sua luta para proteger e cuidar da família, seu ativismo em defesa dos direitos humanos das vítimas e dos familiares de desaparecidos durante a ditadura militar no Brasil. 


Não são poucas as mulheres responsáveis por suas famílias no país. Dados do Censo de 2022, disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que, no Distrito Federal, 49,5% dos domicílios são chefiados por mulheres – um importante crescimento de 6%, em comparação com o Censo de 2010.


Na Universidade de Brasília, as mulheres são maioria entre estudantes (52,7% nos cursos de graduação e 53,4% nos cursos de pós-graduação na pós-graduação) e entre servidores técnico-administrativos (51,9%). Entre docentes, as mulheres representam 45,4%, sendo que, dos grupos de pesquisa cadastrados no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), 47,8% são liderados por elas. 


Apesar disso, apenas 31% dos pesquisadores de nível 1A do CNPq são mulheres e o número de mulheres nos cursos das áreas de ciências exatas e tecnologias também cai para cerca de 30%. Os dados evidenciam a necessidade, cada vez maior, de implementarmos políticas voltadas para a equidade de gênero, em todas as esferas. 


A Universidade de Brasília abre as atividades do 8M, tendo como tema Tolerância zero contra assédios e violências de gênero. A programação, disponível na página da Secretaria de Direitos Humanos da UnB, foi construída democraticamente, com a participação das mulheres da nossa comunidade interna, e visa promover a dimensão educativa em direitos humanos e, assim, potencializar um ambiente respeitoso, plural e livre de assédios e violências de gênero, dentro e fora da Universidade. 


A celebração do 8M coincide, ainda, com a cerimônia do 1º Prêmio Mulheres e Ciência, pelo CNPq, que reconheceu a potencialidade e a trajetória de mulheres cientista, como a professora e pesquisadora Debora Diniz Rodrigues (UnB), agraciada com o prêmio na área de Ciências Humanas e Sociais, Letras e Artes. 


A programação organizada pela Secretaria de Direitos Humanos tem, também, como objetivo, produzir material para a elaboração de cartilhas e campanhas institucionais para o enfrentamento aos assédios e às violências de gênero. Além disso, a Reitoria está organizando, com o apoio da Procuradoria Federal junto à UnB, um curso sobre o tema para os novos gestores, e pretende nomear uma comissão para analisar proposta de adesão da UnB ao Marco Referencial para a Igualdade de Gênero em Instituições de Ensino Superior no Brasil.  


Promover a equidade de gênero implica reconhecer, com Audre Lord – negra, escritora, feminista, lésbica, filha de imigrantes caribenhos que moravam nos EUA –, que “nenhuma de nós será livre enquanto alguma mulher não o for, mesmo quando as correntes dela forem muito diferentes das nossas”. Implica, igualmente, problematizar que o enfrentamento aos assédios e às violências de gênero devem importar também aos homens, importantes atores nessa importante tarefa coletiva.  


É por você, por elas, por todas nós, porque, juntas, somos mais fortes e poderemos ser quem exatamente somos!  

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Publicado originalmente, em 08 de março, no portal do Correio Braziliense.

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