OPINIÃO

Luiz Guilherme Grossi Porto é professor da Faculdade de Educação Física na Universidade de Brasília. Um dos líderes do Grupo de Estudos em Fisiologia e Epidemiologia do Exercício e da Atividade Física (FEF/UnB) e membro Honorário do Celafiscs.

Luiz Guilherme Grossi Porto

 

O dia 10 de março marca o Dia de Combate ao Sedentarismo. A noção de que a atividade física (AF) regular é benéfica para a saúde está bem disseminada no mundo. Entretanto, a proporção de pessoas fisicamente inativas continua alarmante. Dados recentes de 197 países indicam que 31,3% dos adultos no mundo são inativos e que a maioria dos países não deve alcançar a meta da Organização Mundial da Saúde (OMS) de reduzir em 15% a inatividade física até 20301.

 

O combate ao sedentarismo é tarefa complexa e passa por estratégias inclusivas. Assim o próprio conceito de AF ajuda, pois engloba qualquer movimento corporal e não apenas as atividades estruturadas em sessões de exercícios formais. Portanto, deslocamentos ativos, dança, jogos, caminhadas, jardinagem, esportes etc. são muito bem-vindos. Uma importante lição que os estudos têm evidenciado é a ideia de que TODA ATIVIDADE FÍSICA É MELHOR QUE NENHUMA, ou seja, TODO MOVIMENTO CONTA – TODO PASSO CONTA. As recomendações da OMS e do Guia de Atividade Física para a População Brasileira estabelecem que os adultos acumulem pelo menos 150 minutos de AF de intensidade moderada a vigorosa por semana. Felizmente, cerca de dois terços dos benefícios esperados com uma vida mais ativa acontecem no início da jornada, ou seja, quando se sai da inatividade física para acumular alguma AF, ainda que abaixo da meta de 150 min2. Esta mensagem é encorajadora e de extrema importância para o público menos ativo. Há que se pensar em formas alternativas de disseminar essas informações, priorizando os/as que mais necessitam, algo como: MOVA-SE MAIS E, SE POSSÍVEL, ACUMULE 150 minutos de AF por semana. A recomendação dos 150 min/sem tem sólida base científica e é desejável. Ao mesmo tempo, é crucial que se saiba que os benefícios podem começar bem antes de atingirmos esta meta.

 

Combater o sedentarismo é complexo e não depende apenas de decisões individuais. Nosso nível de AF é drasticamente influenciado por determinantes sociais da saúde, como renda, escolaridade, sexo, acesso e outras inequidades socioeconômicas. O combate ao sedentarismo é tarefa coletiva que passa, entre outras questões, por políticas públicas de estado. Precisa-se, urgentemente, da adoção e/ou fortalecimento de políticas intersetoriais que possam, por exemplo, democratizar o acesso a espaços públicos para a prática; promover o transporte ativo seguro; promover maior segurança pública e cuidar das emergências climáticas. Ainda, há urgência na redução da distância entre a robustez das evidências científicas sobre os benefícios da AF e sua efetiva implantação. Coubessem esses benefícios em um remédio, este já estaria aprovado por todas as agências regulatórias e sendo amplamente empregado, especialmente na atenção primária à saúde. Infelizmente, não é o caso da AF. Esta distância precisa ser encurtada já, das intervenções profissionais às políticas públicas.

 

Finalizo lembrando que todo dia é dia de combate ao sedentarismo, pois os benefícios da AF só são alcançados com a prática regular. Manter-se fisicamente ativo em sociedades informatizadas e que privam significativa parcela da população de adequado tempo de lazer é um enorme desafio. Portanto, as dicas são: 1) encontre a sua AF, aquela/s que você gosta, para assim manter uma prática prazerosa ao longo de toda sua vida; 2) apoie e demande por políticas públicas de estado e estratégias/programas nas empresas e/ou escolas, visando a redução de barreiras para a prática e a promoção da AF, com mais oportunidades para a prática – SUA SAÚDE AGRADECE.

 

Referências

1. Strain, T. et al. National, regional, and global trends in insufficient physical activity among adults from 2000 to 2022: a pooled analysis of 507 population-based surveys with 5·7 million participants. Lancet Glob Health 12, e1232–e1243 (2024).

2. Matthews, C. E., Saint-Maurice, P. F. & Berrigan, D. Physical Activity and Public Health for Adults: Is the Glass Mostly Empty or Half Full? Med Sci Sports Exerc 56, 1285–1290 (2024).

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