OPINIÃO

Francisco José Rengifo-Herrera é professor do Departamento de Teoria e Fundamentos (TEF) e do PPGE-MP – Faculdade de Educação – UnB – Vice-líder do Grupo de Pesquisa Infância (CNPq/UnB).

Francisco José Rengifo-Herrera

 

Reflexão sobre o papel de cada indivíduo na construção de um ambiente escolar seguro

 

Algo seguro é algo estável, livre de perigo e inalterável. No entanto, ao mesmo tempo, está relacionado com o que é rígido, fixo e inflexível. Muitas pessoas hoje vivem em sobressalto e insegurança diante de um mundo caótico. Porém, paradoxalmente, se relacionam usando critérios rígidos e imutáveis. Essa enorme tensão tem os levado a pensar que tudo aquilo que se distancie do seu modo de pensar deve ser taxado como perigoso, incontrolável e suspeito.

 

A escola reflete tudo o que nossa sociedade enfrenta. Cada vez mais, é frequente encontrarmos pais que impõem um controle totalitário na vida dos filhos. Para muitos deles, definir arbitrariamente o que é bom ou ruim; dizer para os professores o que pode ou não ensinar; selecionar os tipos de amigos que a criança deve ter ou censurar crenças e valores considerados uma “ameaça” para o futuro do filho, são atitudes cada vez mais comuns. Há um aumento do isolamento nas relações com os outros, que promovem a emergência de argumentos falsos, como a ideia de que o homeschooling salvará as crianças da “contaminação” de ideologias, da violência, de escolas e professores “maus”.

 

O psicólogo Jaan Valsiner explica que os seres humanos buscam estabelecer controle sobre os outros e impor-se (por meio de ações, valores e ideologias), especialmente a partir de se basear em seus preconceitos e estereótipos. Elementos que são constitutivos do que se expressa em forma de bullying na escola.

 

Ter relações simétricas é uma conquista difícil para nós, seres humanos. São processos que precisamos esculpir, conquistar e que parecem ser a única alternativa para nos afastar das nossas pretensões mesquinhas. Somente por meio da vivência da empatia podemos abrir caminho para permitir vínculos com os demais. Como fazer isso se as crianças vivenciam o contrário dentro de casa?

 

A segurança na escola não se obtém vigiando e punindo crianças ou jovens que fazem bullying. A melhor forma de criarmos ambientes escolares seguros exige mudarmos a nós mesmos. Pais que agridem sua família, humilham os filhos, terceirizam a criação para viver suas próprias vidas; adultos que xingam e desrespeitam quem pensa diferente na frente dos filhos ou que usam celulares e tablets como forma de deixar a criança “quieta” contribuem para a emergência de agressores e agredidos. Como pretendemos ter escolas sem bullying se não temos a mínima condição de nos transformar (esculpir a nós mesmos) e de nos colocar no lugar do outro? Se não podemos mostrar para os nossos filhos o que é ser empático? Talvez seja melhor ser sinceros conosco e olharmos no espelho e pensar que o bullying entra na vida dos nossos filhos através do nosso comportamento, especialmente quando ninguém está vendo.

 

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