Ana Helena Rossi
O Dia Mundial da Poesia é celebrado em 21 de março, e constitui-se num marco estabelecido pela UNESCO em 1999. No entanto, no Brasil, celebra-se também o Dia Nacional da Poesia, em 31 de outubro em homenagem ao nascimento do poeta brasileiro, Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987). Estas duas datas mostram o quão presente está a poesia na vida dos brasileiros.
O Brasil é um país no qual a expressão poética é potente. Além dos nomes consagrados nacionalmente, tais como Adélia Prado, Cecília Meireles, Manoel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, dentre muitos outros, temos também uma profícua produção poética nos vários estados que compõem a Federação Brasileira. No caso do Distrito Federal, observa-se, apesar de sua história relativamente recente, uma vasta teia de poetas que se espraiam nas inúmeras Academias de Letras, Movimentos e coletivos literários, além do Sindicato dos Escritores do Distrito Federal. São poetas que trazem consigo uma voz potente cujas temáticas expressam a realidade poética do Distrito Federal e de sua história, mas também das inúmeras regiões das quais muitos desses poetas vieram com suas famílias para no Distrito Federal se estabelecer. Daí o fato de hoje termos uma multitude de temas que se apresentam na literatura do Distrito Federal.
No âmbito deste artigo, destacarei cinco vozes femininas que já são presença obrigatória na poesia do Distrito Federal. Para compor esse cânone começo com a poeta Angélica Torres Lima, goiana, poeta, jornalista e editora estabelecida no Distrito Federal. Seu livro “O nome nômade” constrói neologismos, e coloca na sua escrita uma voz polimórfica que traz para o cerrado brasileiro suas experiências de viagem internacionais ao integrar cidades como Berlim, São Francisco, Havana e Rio de Janeiro, como nesses versos: Ver a vida tal um filme / de Wenders Truffaut ou Fellini/ num sábado de serena solidão. Uma outra poeta radicada na cidade é a boliviana Kori Bolívia, que, com “A rosa adormecida” nos leva para as reminiscências líricas de sua infância entremeada por outras línguas como o espanhol: As tuas mãos / minguaram / já são pequenas e / não conseguem conter-me”/ onde o passado está sempre às voltas com o presente. Cristiane Sobral é uma poeta carioca, radicada em Brasília desde 1990. Com uma voz potente, ela se posiciona contra as situações de racismo estrutural da sociedade brasileira. É o caso do livro “Não vou mais lavar os pratos” que narra, a partir do ponto de vista da narradora feminina, as situações de racismo contra as quais decidiu rebelar-se:
Não vou mais lavar os pratos / Nem vou limpar a poeira dos móveis / Sinto muito / Comecei a ler. A poeta Margarida Patriota é originária de Belo Horizonte, Minas Gerais e é conhecida por sua produção na área dos estudos literários. Sua poesia é laminária como o título do seu livro homônimo que constrói os poemas em camadas em níveis de inteligibilidade que se cruzam para formar sentidos: À guisa de alma carrego um músculo / Que marca passo na caixa torácica / Alheio a como se adula o autoengano. Beth Fernandes é uma escritora paulistana, radicada em Brasília, que pertence ao coletivo Mulherio das Letras. Sua poesia brinca com as palavras, trazendo ao leitor uma experiência da poesia como algo leve embora teça suas profundezas na linguagem deixando aflorar nossas sensualidades corporais: “Se me deixas solta / voo, faço evoluções. / Fácil me perder / nos caminhos da cidade.”
Essas cinco vozes poéticas do Distrito Federal mostram a diversidade deste gênero nestas terras do Cerrado, e afirmam que no Distrito Federal existem vozes poéticas potentes que falam da experiência de estar-no-mundo.
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* Ana Rossi é poeta, escritora e atual Presidente do Sindicato dos Escritores do DF. Começou sua carreira de escritora em 2007, na França, com o livro nous la mémoire [nós a memória]. Ela tem oito livros publicados. Seu último livro Nenhuma ditadura jamais poupou crianças encontra-se no prelo. Insta: @by_anarossi
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