Maria Hosana Conceição, Izabel Cristina Rodrigues da Silva e Ana Paula Godoi
Os avanços tecnológicos, especialmente durante a pandemia da covid-19, aceleraram a adoção da Inteligência Artificial (IA) na educação superior. Nesse mês de março, completamos seis anos desde a descoberta do vírus SARS-CoV-2, um marco que transformou profundamente a forma como ensinamos e aprendemos. Universidades ao redor do mundo adotaram soluções digitais para garantir a continuidade do ensino remoto, impulsionando a popularização de plataformas educacionais inteligentes e assistentes de IA. A pandemia evidenciou a necessidade de inovação, e a IA emergiu como uma ferramenta promissora para superar os desafios da nova realidade educacional.
Nos últimos anos, a IA consolidou-se como uma aliada fundamental em diversas atividades acadêmicas. Seu potencial para personalizar experiências de aprendizagem e melhorar resultados educacionais já é amplamente reconhecido por professores e pesquisadores (Kumari, 2025). Na pós-graduação, por exemplo, a IA tem sido utilizada para otimizar processos como a estruturação de dissertações, análise de dados e revisão de textos. Ferramentas como assistentes de escrita e analisadores de dados ajudam a organizar ideias, revisar textos e sugerir referências, tornando o processo de pesquisa mais eficiente.
No entanto, é crucial ressaltar que a IA complementa, mas não substitui, o pensamento crítico e a criatividade humana. Pesquisadores devem enxergar a inteligência artificial não como um substituto, mas como um recurso valioso que pode enriquecer a experiência de aprendizado (Leite, 2023). Embora a IA tenha a capacidade de otimizar tarefas, a interpretação dos dados e a construção da argumentação acadêmica são tarefas essencialmente humanas. Além disso, é fundamental verificar a qualidade das informações geradas pela IA, que, em alguns casos, pode apresentar dados inconsistentes ou não perceber variações metodológicas e contextuais importantes.
A IA generativa, capaz de criar textos, imagens e soluções inovadoras, revoluciona o ambiente acadêmico. Na educação superior, essas ferramentas auxiliam na produção de conteúdos didáticos, geração de ideias para pesquisa e criação de materiais personalizados. Docentes podem utilizar a IA generativa para elaborar exercícios e estudos de caso adaptados ao nível dos estudantes, tornando o ensino mais dinâmico e acessível. No entanto, seu uso deve ser acompanhado de reflexão crítica, garantindo que a criatividade humana permaneça central no processo educacional (DeepSeek, 2025).
A adoção da IA na educação superior exige uma transformação na formação dos docentes. Professores precisam estar preparados para integrar essas tecnologias em suas práticas pedagógicas de maneira ética e estratégica. Programas de capacitação contínua são essenciais para discutir temas como privacidade de dados, equidade no acesso à tecnologia e os limites éticos do uso da IA. A formação docente deve garantir que a tecnologia complemente o ensino sem substituir o pensamento crítico e a autonomia intelectual.
No ensino de graduação e pós-graduação, ferramentas de IA auxiliam na preparação de materiais didáticos personalizados, elaboração de avaliações e suporte aos estudantes por meio de assistentes virtuais. Essas tecnologias são particularmente valiosas para alunos com dificuldades de aprendizagem, oferecendo suporte contínuo e adaptado às suas necessidades.
Além do ensino, a IA também impacta positivamente a correção de artigos e relatórios acadêmicos. Ferramentas inteligentes facilitam a revisão de textos, aprimorando clareza e coesão, além de verificar plágio e adequação às normas científicas. Na elaboração de projetos acadêmicos e de extensão, a IA oferece suporte na organização de conteúdos, estruturação de propostas e análise de dados.
A presença da IA na universidade deve ser acompanhada de reflexão crítica sobre seus limites e desafios éticos. A utilização consciente e responsável dessas ferramentas é essencial para garantir que a tecnologia complemente, e não substitua, a criatividade e o pensamento crítico. A IA consolida-se como um recurso indispensável para otimizar atividades, melhorar a qualidade do ensino e pesquisa, e potencializar o impacto social das universidades. Ao adotar essa tecnologia de maneira estratégica, podemos aprimorar as práticas acadêmicas e ampliar o alcance do conhecimento produzido.
O uso da inteligência artificial (IA) na pós-graduação tem ganhado destaque em diversas publicações que ressaltam a ampla gama de aplicações que essa tecnologia pode oferecer. Em particular, o ChatGPT tem demonstrado ser uma ferramenta valiosa para auxiliar estudantes de pós-graduação na escrita acadêmica, conforme apontado por Duong, Tong e Le (2024), especialmente entre estudantes vietnamitas. Os benefícios observados incluem a redução de erros gramaticais e lexicais, o aumento da coesão textual e a economia de tempo no processo de escrita. Além disso, a aceitação pelos estudantes foi amplamente positiva, com muitos avaliando a ferramenta como útil e recomendando seu uso.
No entanto, essas potencialidades vêm acompanhadas de limitações, como a dependência de estudos iniciais e exploratórios, restritos a projetos pilotos e amostras reduzidas, bem como desafios relacionados à transparência das decisões da IA (frequentemente denominada “caixa-preta”) e aos riscos de vieses nos processos. Questões éticas também emergem, incluindo preocupações com a privacidade, responsabilidade e direitos autorais dos dados gerados. Assim, enquanto ferramentas como o ChatGPT representam um valioso complemento na educação e na gestão editorial, elas não substituem o julgamento humano, sendo essencial um uso supervisionado e equilibrado para maximizar os benefícios e garantir decisões justas e contextualizadas.
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Referências
ALGARVE, Wesley Denilson; SANTAREM SEGUNDO, José Eduardo; CONEGLIAN, Caio Saraiva. Potenciais aplicações de inteligência artificial no processo editorial de artigos científicos. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 24., 2024, Vitória. Anais [...]. Vitória: ANCIB, 2024.
DeepSeek. (2025). DeepSeek Chat [Modelo de linguagem]. https://www.deepseek.com
DUONG, Ngoc Han; TONG, Thi Mai Huong; LE, Duc Hanh. Utilizing ChatGPT in checking academic writing for postgraduate students. In: Proceedings of the AsiaCALL International Conference. 2024. p. 193-203.
Kumari, S. N. V. (2025). Impact of Technology on Student Learning Outcomes: Examining Digital Tools, Online Platforms, and AI in Modern Education. International Journal For Multidisciplinary Research, 7(1). https://doi.org/10.36948/ijfmr.2025.v07i01.29499
Leite, B. S. (2023). Inteligência artificial e ensino de química: uma análise propedêutica do ChatGPT na definição de conceitos químicos. Química Nova, 46(9), 915-923. https://doi.org/10.21577/0100-4042.20230059
PEREIRA, Ana Lúcia; BONIN, Carlos Alberto; SOARES, Carlos Eduardo Krassinski. Utilizando a Inteligência Artificial como apoio na análise de conteúdo: algumas considerações. Com a Palavra, o Professor, Vitória da Conquista (BA), v. 9, n. 25, p. 258-282, set./dez. 2024. DOI: 10.23864/cpp.v8i20.951. ISSN 2526-2882.