Carla Pintas Marques
O Dia Mundial da Saúde, celebrado em 7 de abril, marca a fundação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e, anualmente, mobiliza a comunidade internacional para reflexões e ações em torno dos desafios sanitários globais. Em 2025, a campanha propõe o tema “Inícios saudáveis, futuros esperançosos”, com o objetivo de acelerar a redução da mortalidade materna e neonatal — uma das mais persistentes expressões da iniquidade em saúde.
A cada hora, uma mulher morre por complicações evitáveis relacionadas à gestação ou ao parto na Região das Américas. Estima-se que mais de dois milhões de recém-nascidos morram no primeiro mês de vida, todos os anos, no mundo. Tais números evidenciam uma crise silenciosa que afeta, sobretudo, mulheres negras, indígenas, pobres e que vivem em áreas rurais ou periféricas — grupos historicamente marginalizados do acesso pleno à saúde (OMS, 2025).
A superação dessas mortes passa, necessariamente, pela organização de sistemas de saúde universais, públicos e equitativos, centrados na atenção primária, capazes de ofertar cuidado contínuo, integral e resolutivo para todas as pessoas. A defesa da cobertura universal em saúde, reafirmada pela OPAS (2025), é parte integrante da Agenda 2030 e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), sobretudo o ODS 3, que visa assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar em todas as idades.
Nesse cenário, é preciso valorizar e fortalecer políticas de promoção da saúde, reconhecendo que a garantia de inícios saudáveis depende não apenas de intervenções clínicas, mas de uma abordagem intersetorial que envolva educação, segurança alimentar, acesso à água potável, habitação adequada e trabalho digno. A interdependência entre os determinantes sociais da saúde exige ações articuladas que atuem na raiz das desigualdades.
A pandemia de covid-19 intensificou vulnerabilidades e agravou desigualdades no acesso aos serviços de saúde, afetando diretamente mulheres grávidas e puérperas, além de comprometer os serviços de atenção neonatal e infantil. Recuperar e reconstruir sistemas de saúde mais resilientes e inclusivos é um dos grandes desafios pós-pandêmicos. Isso requer não apenas investimentos estruturais, mas também o fortalecimento da força de trabalho em saúde, com ênfase na valorização das enfermeiras, obstetrizes, parteiras e demais profissionais que estão na linha de frente da atenção materna e neonatal.
Como destaca a OMS (2025), garantir atenção qualificada antes, durante e após o parto é uma das intervenções mais custo-efetivas da saúde pública. Para isso, é essencial que mulheres e meninas tenham acesso a serviços culturalmente sensíveis, baseados em evidências e livres de discriminação e violência obstétrica. Ouvir as mulheres, proteger suas decisões e apoiar seus projetos de vida são estratégias que contribuem para a melhoria dos indicadores e para a promoção da justiça social.
Ao lado da crise materna e neonatal, outros desafios seguem latentes: o crescimento das doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão, diabetes e câncer; a permanência das doenças negligenciadas, como hanseníase, doença de Chagas e leishmaniose; e os impactos das mudanças climáticas sobre a saúde pública. Todas essas questões exigem respostas integradas, políticas públicas robustas e participação social ativa.
O Dia Mundial da Saúde 2025 é, portanto, um chamado à ação coletiva e articulada para transformar os determinantes estruturais da saúde e garantir o direito de nascer, crescer e viver com dignidade. Um sistema de saúde forte é aquele que nasce no território, escuta as necessidades das pessoas, respeita a diversidade e atua com base na equidade.
Promover inícios saudáveis é semear futuros esperançosos – para as mulheres, os bebês, as famílias e as comunidades. Que esta data inspire o compromisso de todos os setores em construir um mundo onde o acesso à saúde seja um direito e não um privilégio.
*Acesse aqui a nota técnica referente ao sarampo.
Referências
Organização Mundial da Saúde (OMS). Dia Mundial da Saúde 2025: Inícios saudáveis, futuros esperançosos. Genebra: OMS, 2025.
Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Cobertura Universal em Saúde: Reduzindo a Mortalidade Materna e Neonatal nas Américas. Washington, DC: OPAS/OMS, 2025.
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