Flaviane Canavesi
Abril é o mês que convencionamos dar atenção especial à luta dos trabalhadores e trabalhadoras do campo em celebração ao Dia Internacional de 17 de abril.
Esta data tem o marcante fato do massacre de Eldorado dos Carajás/PA ocorrido em 1996, denotando a violência contra trabalhadores da (e sem) terra. Os últimos dados da Comissão Pastoral da Terra, ligada à Comissão Nacional dos Bispos do Brasil, mostra que a violência persiste no campo. Segundo dados parciais de 2024 foram registrados 1056 ocorrências no campo entre conflitos por terra, água e autuações de trabalho escravo. Os últimos dois anos mostraram os maiores números desde 2015.
O acesso aos alimentos é uma condição de direitos humanos e sua disponibilidade está diretamente ligada ao fortalecimento da agricultura familiar, setor estratégico de abastecimento do mercado interno.
Em termos agrários temos, no conjunto de identidades que compõe a categoria socioprofissional da agricultura familiar, conflitos por terra e território que afetam diretamente tanto o processo produtivo de alimentos quanto avanços na melhoria da qualidade de vida no campo. Entraves que não afetam somente quem produz, mas, a sociedade como um todo.
É preciso reconhecer a luta de trabalhadores e trabalhadoras rurais pela territorialização que se materializa no estabelecimento de unidades de produção e vida familiar e a consequente produção de alimentos, muitos deles em sistemas saudáveis e sustentáveis. Quando temos acesso aos alimentos agroecológicos, seguramente existe por trás dessa produção uma história de luta pela terra, de resistência e de combate ao uso dos agrotóxicos. São disputas pelo território, que consolidam muitas das experiências que ofertam alimentos.
Na UnB, inauguramos o mês de Abril com um curso de formação para profissionais em extensão rural, estudantes em pós-graduação e graduação, funcionários e gestores públicos, técnicos de organizações não governamentais e público interessado ao estudo sobre questão agrária e agroecologia. É uma iniciativa em parceria com o Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural da Secretaria de Agricultura Familiar e Agroecologia do Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Num contexto em que a UnB adere à Aliança Global contra a fome e a pobreza, importante mostrar os esforços realizados no trabalho junto à sociedade, em acampamentos e assentamentos rurais, em experiências agroecológicas nestes espaços como a que é acompanhada pela atuação do Núcleo de estudos, pesquisa e extensão em Agroecologia que envolve unidades acadêmicas como Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária e Centro de Desenvolvimento Sustentável.
Outra frente importante trata-se da Residência em Ciência, tecnologia e sociedade: habitat, agroecologia, economia solidária e saúde ecossistêmica, coordenada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo que está em sua segunda turma, atuando em assentamentos rurais, fortalecendo a produção e a vida em acampamentos e assentamentos rurais.
Romper com injustiças no campo que também refletem sobre injustiças nas periferias urbanas, colocando a universidade como meio formativo de uma consciência crítica, é fundamental para reconhecer a luta internacional das trabalhadoras e trabalhadores do campo organizados na Via Campesina.
“Se o campo não planta, a cidade não janta” Um dos lemas dos trabalhadores e trabalhadores do campo.