OPINIÃO

Rozana Reigota Naves é reitora da Universidade de Brasília e professora do Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas (LIP). Doutora em Linguística pela UnB.

 Rozana Reigota Naves

 

Brasília e sua universidade federal. O sonho de interiorizar a capital do Brasil tomou forma por decisão política do então Presidente Juscelino Kubitscheck de construir Brasília no planalto central. Dos documentos do concurso em que foram selecionados os projetos arquitetônico, de Oscar Niemeyer, e urbanístico, de Lucio Costa, extrai-se o conceito: “Será ao mesmo tempo uma cidade derramada e concisa, bucólica e urbana, lírica e funcional. Será monumental pela simplicidade em seu traçado”. O projeto contemplava uma ampla área, no Plano Piloto, destinada à universidade da nova capital, na qual não tardaram a ser erguidas as primeiras edificações. 

 

A Universidade de Brasília na capital do país. O sonho da universidade moderna, autônoma e universal, capaz de responder aos problemas do país, foi tornado realidade pelo trabalho incansável de Darcy Ribeiro. O conceito pedagógico, sustentado pela experiência do educador Anísio Teixeira, estava descrito no Plano Orientador da UnB: “uma universidade nova, inteiramente planificada, estruturada em bases mais flexíveis”. A Capital da Esperança inaugurava, dois anos depois, a possibilidade de o Brasil esperançar pela via da educação superior. Cidade e universidade, nascidas da utopia coletiva de mulheres e homens que vieram construir e habitar a região central do país. Não se concebe Brasília, e sua expansão, desarticuladamente da UnB que hoje alcança, por intermédio da sua estrutura multicampi, diferentes regiões, como Planaltina, Ceilândia e Gama.

 

Completamente integrada à cidade, a Universidade de Brasília recebe estudantes de todas as regiões administrativas do Distrito Federal e do entorno, realizando a importante missão de formar cidadãos e cidadãs críticos(as) e conscientes do seu papel social no desenvolvimento científico e tecnológico do país, em um contexto em que a diversidade está representada e a pluralidade de ideias constitui os pilares do debate democrático.

 

Assim, a história da cidade e da UnB se imbricam. Enquanto o país estava submetido ao regime militar sediado em Brasília, a universidade resistia. Quando a sociedade foi às ruas pela democratização, a universidade se constituía como a base da luta. Música, cinema e arte no DF tiveram (e tem) origem na universidade, que também se fez (e se faz) na formulação de políticas públicas locais, regionais e nacionais, em diversos campos de expressão pluricultural.

 

Quando a pandemia de covid-19 afligiu todo o DF e o território nacional, a universidade abriu os seus espaços e laboratórios para a pesquisa avançada, e o seu hospital para a assistência aos pacientes. Resiliente, a universidade resistiu aos cortes orçamentários e tem sido um bastião no enfrentamento a conservadorismos e autoritarismos. A presença da Universidade de Brasília na cidade é sentida não apenas pelo ensino graduado e pós-graduado e pela pesquisa e inovação, mas também pela extensão.

 

Os inúmeros projetos e parceiros, em todas as áreas do conhecimento, revelam a relação intrínseca entre Brasília e a UnB – a universidade necessária, plural e conectada com o território. O sonho de experienciar essa universidade-conceito e de contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e comprometida com o meio ambiente e com a justiça social ainda hoje faz brilhar os olhos de milhares de pessoas de todas as idades. Por isso, nessa data especial, queremos nos congratular com a cidade que nos acolhe e com todas as pessoas que compreendem a relevância social da universidade pública, gratuita e de qualidade na capital federal.

 

Parabéns para Brasília e para a UnB!

 

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Publicado originalmente, em 21 de abril, no portal Correio Braziliense.

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