Rosineide Magalhães de Sousa
A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) estabeleceu 5 de maio como o Dia Mundial da Língua Portuguesa. Essa organização intergovernamental, parceira da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), criou essa data celebrativa em 17 de julho de 1996, em Lisboa, Portugal, com diferentes objetivos, entre eles: fortalecer a fraternidade e cooperação entre os países lusófonos e valorizar e promover a língua portuguesa como patrimônio linguístico comum.
O português é a língua oficial de nove países: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste; e, ainda, é falada em comunidades específicas em diferentes países no mundo. O português é falado por cerca de 270 milhões pessoas, aparecendo no oitavo lugar na lista das dez línguas mais faladas no mundo, ficando atrás, em ordem direta, do inglês, a língua mais falada no mundo por nativos e não nativos, do mandarim, do hindi, do espanhol, do árabe padrão, do francês, e do bengali; sendo seguido por russo e indonésio (Bahasa Indonesia). O Brasil é o país com o maior número de falantes do português.
A língua portuguesa vem do latim vulgar falado na Península Ibérica, à época da expansão do Império Romano, e se consolidou no século XVII em Portugal. Na verdade, até a língua portuguesa se estabelecer como língua, passou por vários processos históricos e por processos de mudança linguística. Pois o processo de desenvolvimento de uma língua não é simples, o que não cabe aqui discutir, pelo pouco espaço. Porém de forma sucinta, sabe-se que, para uma língua ser usada por uma comunidade de falantes, isso pode envolver diversos fatores, tais como lutas por um território, imposição linguística, contato linguístico, políticas linguísticas impositivas.
Nesta breve discussão, entende-se que a língua portuguesa é uma configuração que representa comunicação, interação, cultura, identidade, história, conflitos, lutas, imposição, contato, representação territorial, segregação, cooperação, fraternidade, multiculturalismo, ou seja, dentro do contexto geral de uma língua, de sua história e de uso por seus falantes, existe uma longa narrativa de memórias e de práticas etnolinguísticas, e outros fatores para a discussão sobre a língua, porque a língua é viva e dinâmica.
Mas, diante de tantos aspectos para se discutir sobre a língua portuguesa, falada por povos de nove países e de comunidades de falantes dessa língua pelo mundo afora, traz-se para a reflexão, neste dia 5 de maio, a língua portuguesa falada no Brasil e o multilinguismo nesse território. Como nos conta os livros didáticos de história do Brasil, a língua portuguesa chegou ao território da terra do pau brasil por meio de povos portugueses, que a exploraram como colônia por muito tempo. Eles trouxeram o português europeu, a cultura, a identidade, as crenças e os costumes de uma terra distante, Portugal. Na terra achada, já havia povos nativos com as línguas faladas por eles, também com culturas, crenças, costumes, identidades. Houve a luta pelo território, dizimando muitos povos nativos, línguas, culturas e memórias.
Depois de um processo de mais de cinco séculos de batalhas de todo o tipo pela disputa de território, numa concepção metonímica que abrange língua, cultura, identidade, história, memória, contato étnico, linguístico entre outros fatores, não se pode esquecer que o Brasil, o território achado alhures, é um país multilíngue, constituído por diferentes povos originários com as diversas línguas indígenas; povos africanos, com suas línguas e os povos de outros continentes, com suas línguas e, ainda, tem-se a língua de sinais.
O português é a língua oficial do Brasil, falada em todo território nacional, porém não se pode deixar de fora da reflexão do dia 5 de maio as línguas indígenas, as variedades linguísticas do português brasileiro, a nossa língua, as línguas de sinais e as línguas estrangeiras, quando se pensar em políticas linguísticas para a diversidade cultural, identitária, territorial, étnica e sociolinguística do Brasil e, principalmente, a produção de material didático de língua portuguesa ao ensino básico e à formação de docentes de “Língua Portuguesa”.
Referências
ETHNOLOGUE. https://www.ethnologue.com. Acesso em 02 de maio de 2025.
HAUY, Amini Boainain. História da Língua Portuguesa. São Paulo: Ática, 1989.
PROENÇA FILHO, Domício. Muitas Línguas, uma língua: a trajetória do português brasileiro. 1. Ed. José Olympo: Rio de Janeiro, 2017.
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Acesso em 02 de maio de 2025.
UNESCO. Acesso em 02 de maio de 2025.
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