Rosângela Azevedo Corrêa
O Dia Mundial do Meio Ambiente visa promover a conscientização e a ação global em prol da proteção ambiental diante da chamada tripla crise planetária: aquecimento global, perda de biodiversidade e poluição. O tema escolhido em 2025 é o “Fim da Poluição Plástica Global”, uma vez que a crise do plástico ameaça ecossistemas, a saúde humana e não humana e a economia.
A crise é sistêmica, portanto, a resposta também deve ser sistêmica; para isso, precisamos mobilizar as sociedades civis e os governos para conter o colapso em curso, uma vez que não há uma solução eficaz para a crise dos plásticos, sem enfrentar os fundamentos políticos e econômicos do sistema mundial.
A crise também é assimétrica, os países mais pobres são os mais atingidos pelos resíduos exportados por países ricos, assim como, as populações mais pobres são as mais atingidas no nosso país, mesmo quando há décadas denunciam os danos da poluição e indicam caminhos de resistência e regeneração, o que muitos chamam de “colonialismo do lixo” (Naidu 2025).
Desde que o plástico foi inventado no final da década de 1940, a produção e o consumo de plásticos cresceram mais de 230 vezes com impactos catastróficos sobre o planeta (OECD, 2025). Só em 2024, foram geradas cerca de 400 milhões de toneladas de resíduos plásticos no mundo e mais de 7 bilhões de toneladas acumuladas no ambiente desde o início da era dos polímeros. Como se trata de um material resistente, que pode se decompor entre 400 e 500 anos, o mundo está diante de um desafio que combina injustiça socioambiental, saúde planetária e colapso dos ecossistemas (UNEP 2025).
O Brasil despeja cerca de 1,3 milhão de toneladas de lixo plástico nos mares anualmente, ocupando o oitavo lugar como o maior poluidor plástico do planeta e o líder na América Latina, mas pouco sabemos sobre a quantidade de lixo plástico nos córregos, igarapés e rios em nosso país. Os plásticos invadem todos os biomas, afetam cadeias alimentares, agravam a crise climática e impõem altos custos sociais, especialmente para as populações periféricas e comunidades tradicionais como ribeirinhos, pescadores e vazanteiros. Os rios servem como vias de transporte para materiais de contaminação química, agrotóxicos, microplásticos, produtos farmacêuticos e outros tipos de contaminantes que vai chegar até o mar devido a sistemas de tratamento de águas urbanas inadequadas. Essa poluição plástica, muitas vezes, provocada pela expansão e o crescimento de cidades e atividades industriais, se infiltra em rios e solos, penetra nos alimentos, corpos humanos e sistemas agrícolas, se tornam microplásticos (partículas com menos de 5 mm de diâmetro) e os nanoplásticos (com menos de 1 micrômetro – µm), invisíveis aos olhos, são encontrados no ar, em leite materno, nas camadas mais superficiais da pele, nos tecidos de órgãos vitais, no sangue, nos pulmões (Pérez-Méndez et al. 2025), o que se torna um problema de saúde pública.
O que fazer diante desta catástrofe socioambiental?
A responsabilidade pelos resíduos é colocada muitas vezes apenas nas costas dos cidadãos, mas só incentivar a coleta seletiva de resíduos sólidos e a reciclagem do plástico, isso não tem funcionado porque já transcendeu o aspecto individual.
A lógica da ganância através da produção ilimitada e descarte irresponsável, o poder desmedido do lucro privado sobre os bens comuns das grandes corporações petroquímicas, os lobbies da indústria fóssil e os governos que não rompem com esse modelo predatório, nos obriga a desnaturalizar esta lógica para apontar os verdadeiros responsáveis do modelo de des-envolvimento que naturaliza a exploração desenfreada dos recursos naturais, a desigualdade social e a degradação ambiental.
Sem responsabilizar as indústrias petroquímicas e as grandes corporações pelo design de produtos descartáveis e o seu destino, sem abranger toda a cadeia do plástico que vai da extração de matérias-primas a distribuição de produtos, da comercialização ao descarte e à remediação ambiental, nunca iremos conseguir solucionar os problemas causados pelo descarte dos plásticos, não só no nosso país, afinal, os plásticos são transfronteiriços, mas pensar no planeta como um todo.
Mais que celebrar o Dia Mundial do Meio Ambiente, temos que reduzir, repassar, repensar, reciclar, reutilizar, reparar, reaproveitar, reaplicar, e principalmente, recusar a postura conservadora e reprodutivista da ordem social a partir de uma reflexão profunda sobre as nossas escolhas para mobilizar a sociedade ante a crise climática. É preciso uma educação ambiental que promova mudanças radicais em nossos padrões de produção e consumo, estilos de vida e valores culturais para o agir político na esfera pública.
Referências
Naidu, M. (2025). Impact of plastic pollution on marine ecosystems: A growing global concern. Open Access Journal of Multidisciplinary Research, 1(1), 4–6. Disponível em: https://doi.org/10.47760/OAJMR.2025.v01i01.002
Pérez-Méndez, M. A., Fraga-Cruz, G. S., Domínguez-García, S., et al. (2025). Microplastic pollution in soil and water and the potential effects on human health: A review. Processes, 13(502). Disponível em: https://doi.org/10.3390/pr13020502
UNEP (2025). Answering 10 pressing questions about plastic pollution. United Nations Environment Programme. Disponível em: https://www.unep.org/resources/report/answering-10-pressing-questions-about-plastic-pollution
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